Guimarães: suas grandezas e misérias
Não se trata de um balanço do ano que passou. São apenas alguns tópicos para reflexão sobre as grandezas e misérias da nossa terra.
Pontos negativos:
Bairrismo e perda de poder reivindicativo: O bairrismo vimaranense, outrora virado para o futuro, tornou-se um empecilho ao nosso desenvolvimento. O inconformismo que noutros tempos caracterizava o nosso bairrismo transformou-se numa hipervalorização de tudo o que é feito em Guimarães ou que está relacionado com a nossa terra, o que é contraproducente a vários níveis.
Parece não existir nada que se assemelhe aos movimentos que no século XIX e no século XX conseguiram não só manifestar-se contra o que consideravam injusto, mas também concretizar aquilo a que se propunham e obter do poder central o que reivindicavam.
Aqueles que poderiam ser os “influentes” do século XXI são apenas afluentes de máquinas partidárias onde não têm nem peso político nem poder reivindicativo.
Economia do concelho: Apesar dos últimos dados relativos à economia do concelho serem positivos há vários problemas que persistem. A indústria têxtil – que é a alma da região e um milagre dos nossos empresários e trabalhadores – emprega (de forma directa ou indirecta) uma boa parte da população do concelho. Se é certo que a têxtil está renovada e em crescimento, todos sabemos que uma futura crise neste sector irá afectar de uma forma dramática todo o concelho e a região. Guimarães parece não ter capacidade de atrair outro tipo de indústrias e de investimentos capazes de diversificar o seu tecido social. Como consequência desta realidade, o salário médio no concelho de Guimarães é relativamente baixo (971 euros em 2019) e continua atrás dos indicadores salariais de Braga e de Famalicão.
Perda de população: Os censos de 2021 indicam que Guimarães perdeu população. Se é verdade que a perda de população é algo que, de há uns anos a esta parte, afecta quase todo país convirá não esquecer que o nosso concelho foi sempre uma excepção a essa regra. No que aos jovens diz respeito o nosso concelho é o que mais perde no Quadrilátero Urbano (Barcelos, Braga, Guimarães e Famalicão). Perder população é sinónimo de perder relevância. E perder relevância significa que Guimarães poderá vir a ter cada vez menos valências (especialmente aquelas cuja atribuição dependa do poder central).
Pontos positivos:
Integração de refugiados e imigrantes: Há um trabalho discreto que tem vindo a ser levado a cabo pela Câmara e por diversas escolas, instituições e associações do concelho que passa pelo apoio e pela integração dos refugiados e dos imigrantes que nos últimos anos têm chegado a Guimarães. De aulas de português (ministradas gratuitamente por voluntários) até à cedência de espaços e de alojamentos, muito tem sido feito para integrar os refugiados sírios, sudaneses e ucranianos que procuraram ajuda e abrigo no nosso concelho. É ainda de acrescentar que os imigrantes de outras origens que aqui chegam à procura de trabalho e de uma vida melhor têm sido, de uma forma geral, bem acolhidos pelos vimaranenses.
Oferta cultural: Guimarães dispõe hoje de uma oferta cultural muito acima da média. As iniciativas realizadas pelo município, pelas associações e por grupos informais dotam a cidade e o concelho de uma programação cultural com uma qualidade, diversidade e periodicidade bastante superior à que encontramos noutros municípios de igual dimensão. Todas as semanas há algo de novo a acontecer, seja a inauguração de uma exposição, o lançamento de um livro, uma conferência, uma peça de teatro, a exibição de um filme ou um concerto.
Transportes de Guimarães (Guimabus): Guimarães teve uma autêntica revolução no que diz respeito a esta matéria. Basta pensarmos que há meia dúzia de anos os antigos Transportes Urbanos de Guimarães não chegavam às Taipas ou a Moreira de Cónegos para percebermos o progresso que foi feito. A este importante crescimento das linhas (e da população servida pelos transportes) junta-se a preocupação ambiental que houve ao renovar a frota dos Transportes de Guimarães, dotando-a de veículos menos poluentes e mais adaptados às necessidades do concelho. Nem tudo é perfeito, mas foi dado um grande passo.
Desejo a todos os leitores do Jornal de Guimarães votos de Boas Festas!