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Guimarães adormecida

Sara Martins Silva
Opinião \ quarta-feira, novembro 24, 2021
© Direitos reservados
Devemos questionar o porquê de uma cidade tão bonita e com uma tão grande relevância histórica nacional e internacional aparecer na lista de “gemas escondidas da Europa”

O canal de notícias americano CNN elegeu Guimarães como uma das 15 pequenas cidades mais bonitas da Europa, uma distinção que enche de orgulho qualquer português. A História, o encantado cenário de reis e rainhas, castelos e palácios de uma cidade medieval preservada colocam Guimarães numa lista que junta outras pérolas da Europa como Mostar, na Bósnia e Herzegovina, Roscoff, em França, ou Reine, na Noruega.

Qualquer vimaranense concordará com a justeza desta distinção, a nossa cidade é de facto muito bonita e vê-lo reconhecido por um dos maiores meios de comunicação social do mundo é algo que nos alegra muito. A notícia teve repercussão por cá, com alguns órgãos de comunicação social a dar eco desta distinção e o município de Guimarães a “surfar” a onda de protagonismo.

Sim, é um facto que devemos alegrar-nos e celebrar esta importante distinção, mas devemos também questionar o porquê de uma cidade tão bonita e com uma tão grande relevância histórica nacional e internacional, aparecer na lista de “gemas escondidas da Europa”. Ou porque é que Guimarães não está no top dos destinos nacionais para os portugueses. Se a eleição nos alegra, esta legenda, que não teve qualquer comentário por parte do município, devia preocupar-nos e fazer-nos pensar. Há dias, a comunicação social nacional deu um enorme destaque, em jeito de avaliação de impacto, à estratégia turística implementada pela Câmara Municipal da Nazaré há 10 anos, com uma aposta clara e inequívoca naquilo em que são únicos no mundo, as grandes ondas. Hoje a Nazaré é um dos mais concorridos destinos turísticos do país e é vista mundialmente como a Meca das grandes ondas.

Este exemplo mostra como a estratégia, o foco, o planeamento, trazem resultados incríveis e são sempre fator de sucesso. Agora olhemos para dentro, para o nosso município. Em 2018, a Câmara Municipal de Guimarães pagou à consultora Bloom 93 mil euros (+IVA) por um estudo de “estratégia de posicionamento de marca de turismo de Guimarães”. Neste estudo a consultora identificou alguns problemas no desenvolvimento do turismo de Guimarães, e apontou recomendações para minorar esses problemas.

Para implementar a estratégia desenhada pela consultora o município de Guimarães contratou Ana Cotter, arquiteta e designer de joias, por ajuste direto e pelo valor de 2500 euros/mensais. Estávamos em meados de 2020 e a vereadora responsável pela área do Turismo era Sofia Ferreira. Pouco mais de um ano depois, a pasta do turismo é entregue ao antigo assessor da vereadora da Educação e Cultura. Por sua vez, Ana Cotter deixa de ser uma prestadora de serviços e entra para a vereação, não com a pasta do Turismo, onde estava a colaborar com a câmara, implementando a estratégia desenhada pela consultora, mas agora como vereadora do Urbanismo.

No site Pordata, podemos ver que, em 2020, Guimarães ocupava o 186º lugar no rácio de dormidas em alojamentos turísticos por 100 habitantes. 186º lugar no ranking nacional! A pandemia será sempre um argumento para os maus resultados dos últimos dois anos, que não são por isso uma boa amostra do sucesso ou falhanço da implementação da estratégia, mas se pensarmos, por exemplo, que hoje há menos oferta de transporte público de e para Guimarães do que havia há dois anos, percebemos que a estratégia política está a falhar.

Todos sabemos que implementar novas políticas é como semear, carece de tempo para brotar alguma coisa, e baralhar todos os protagonistas um ano depois de iniciar aquele que foi apresentado como o grande plano para o desenvolvimento do turismo em Guimarães, mostra só que as prioridades do executivo socialista não são com a implementação de estratégias estruturais para crescimento da nossa cidade.

Valha-nos a herança de D. Afonso Henriques…

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