Fazer o que nunca foi feito
A campanha eleitoral para as legislativas de 10 de março está na rua e nas televisões. Regressaram os debates apressados seguidos de longos períodos de comentário. Apesar de ser necessário aprofundamento para a discussão séria das propostas, o modelo parece funcionar e têm bastantes espectadores. Mas funciona como um produto de entretenimento, com frases decoradas para dar um clip para as redes sociais. Os indecisos continuarão pouco esclarecidos em relação às escolhas possíveis.
Depois da correria a saltar de tema em tema das candidatas e candidatos, seguem-se extensos e calmos espaços de comentário com diferentes personalidades. Classificam o desempenho de cada um e determinam quem ganhou e perdeu. Não havendo grelha de análise, a avaliação não é imparcial nem objetiva. Na maioria das vezes, a pontuação atribuída por cada comentador reflete apenas o seu grau de identificação com as propostas de cada partido. Este espetáculo mediático pouco contribui para aproximar as pessoas da política.
Desde os anos noventa que a abstenção é muito elevada, sempre superior a 30%. Em 2022, metade das pessoas decidiram não participar na escolha do principal órgão de decisão do país. Antes de mais, o dever é aumentar a cultura democrática. É desde cedo, nas escolas, que as crianças e jovens devem fomentar o pensamento crítico e o debate plural. A participação é um pilar fundamental da democracia, quantos mais discutirmos as soluções, mais adequadas serão para resolver os problemas de todos.
É, por isso, muito importante que os partidos mobilizem o eleitorado em torno de ideias para o futuro do país. E vários partidos iniciaram esta campanha ainda sem programa apresentado, o que é lamentável. Quer o PSD quer o PS participaram em debates sem dar oportunidade aos adversários para saber exatamente ao que vêm. Entretanto, o PSD já o divulgou e não traz nada de novo. Vai do embuste aos professores, que agora propõem medidas que já tiveram oportunidade de aprovar na Assembleia da República, à destruição do SNS, com a entrega dos serviços aos privados.
O país carece de compromissos à esquerda em torno de um programa de governo que faça o que nunca foi feito. É preciso respostas aos problemas que a maioria absoluta do PS não respondeu, para garantir o acesso à saúde, à escola de qualidade e o direito a uma casa digna. O programa do Bloco de Esquerda dá essa resposta. Pelo aumento dos salários, para que os trabalhadores possam viver com qualidade e conforto. Pela oferta de cuidados na infância e na velhice. Pela proteção do ambiente e da natureza. Estas eleições serão determinantes para o nosso futuro, o voto é a arma para a mudança decisiva para o povo.