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Fazer as pazes com a Natureza

José Cunha
Opinião \ terça-feira, novembro 05, 2024
© Direitos reservados
Apesar do diagnóstico assustador, e das várias crises planetárias, os planos de ação, necessários para fazer as pazes e viver em harmonia com a Natureza, ou não existem ou não são postos em prática.

A forma persistente como temos maltratado a nossa Casa Comum tem sido tão intensa e devastadora que levou alguns cientistas a propor a ação Humana – antropoceno – como uma nova época geológica, assim como também tem levado altos signatários de instituições internacionais, como é o caso do Secretário-Geral da Nações Unidas - António Guterres -, a afirmar que “estamos em guerra com a Natureza”.

A “tripla crise planetária”, cunhada pelas Nações Unidas, e que inclui a poluição, a crise climática e a perda de Biodiversidade, tem também nos efeitos globais dessa ação Humana a sua origem e o seu fomento. Mas apesar de constar desta lista de “crises”, a biodiversidade continua a ser considerado por muitos o “parente pobre” das questões ambientais. A importância da diversidade biológica não é facilmente apropriada pelo cidadão comum nem valorizada pelos dirigentes políticos.

A desconsideração da biodiversidade nas políticas ambientais não acontece por falta de informação sobre o seu estado e importância. A comunidade científica internacional e as Nações Unidas, através da União Internacional da Conservação da Natureza (IUCN) e da Convenção para a Biodiversidade Biológica (CDB) têm feito um trabalho considerável no diagnóstico do estado das espécies e ecossistemas e no planeamento estratégico para a sua conservação e restauro.

O diagnóstico do estado da conservação da natureza a nível global, que é desde há muito tempo considerado alarmante, conheceu recentemente novos e atualizados dados que confirmam o estatuto de “crise planetária” atribuído à perda da biodiversidade. A organização não governamental WWF divulgou no seu relatório “Living Planet” que entre 1970 e 2020 houve um declínio de 73% no tamanho médio das populações de vida selvagem por eles monitorizadas. Também a UICN divulgou a atualização da Lista Vermelha das espécies ameaçadas, onde incluiu a primeira Avaliação Global de Árvores que revela que mais de uma em cada três (38%) das espécies de árvores do mundo estão em risco de extinção, e onde o Ouriço-cacheiro passou a figurar na categoria de “quase ameaçado”.

A estratégia global para lidar com esta crise na biodiversidade tem sido delineada no seio da Convenção para a Diversidade Biológica das Nações Unidas, que na sua versão atual é denominada de Quadro Global de Biodiversidade Kunming-Montreal e inclui 23 metas a concretezar no horizonte de ação temporal de 2030 e uma visão para 2050 que ambiciona um mundo a viver e harmonia com a Natureza. A Estratégia Europeia para a Diversidade Biológica, assim como o recente regulamento sobre o Restauro da Natureza já refletem as ambições de conservação e restauro do Quadro Global, ficando agora a faltar que estas sejam devidamente transpostas e implementadas pelos estados membros.

Apesar do diagnóstico assustador, e das várias crises planetárias, os planos de ação, necessários à concretização das diversas estratégias para fazer as pazes e viver em harmonia com a Natureza, ou não existem ou não são postos em prática.

Nesta guerra suicida que travamos com a Natureza, não bastam diplomacias e conversações de paz – ao mesmo tempo que a intensificamos com a sofisticação das armas e das táticas – é necessário um cessar-fogo imediato, e um plano ambicioso de desarmamento.

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