Esperança populista = Lado Lunar vs Esperança Matemática = Lado Solar
Desde há mais de 3.000 anos, na China, que a alea, a sorte, passou a ser tratada pelo filtro racional, despida do sagrado. Na teoria das probabilidades, do ramo da estatística, a esperança matemática (rectius, valor esperado) de uma variável aleatória representa o valor médio “esperado” de uma experiência se ela for repetida muitas vezes. Para o que aqui importa, partindo do histórico, partindo do inventário dos resultados transitados, fácil é perceber que as propostas eleitorais do PS têm uma esperança matemática de não concretização próxima dos 100%. No fundo, documentam os números estatísticos que os portugueses têm “comprado” o programa do PS como compram raspadinhas: repetem, qual eterno retorno, a compra, mas, por muito que raspem, nada de prémio. É tempo dos portugueses olharem para o boletim do voto como a anti-raspadinha, numa lateral analogia com o Anti-Édipo de Gilles Deleuze e Felix Guattari, agora no sentido de socialismo e esquizofrenia. Adiante: é tempo de curar o vício, é tempo de nos libertarmos de um qualquer recalque freudiano. Esta realidade força os cidadãos portugueses a ter de olhar para as propostas dos partidos com olhos de ver e não partindo de sombras e ilusões de quem promete, agora, noites que cantam, quando antes, juravam a rosas juntas que seriam as manhãs e depois as tardes a cantar sem fim. Até ao dia de hoje, o único canto que se ouve é um fantasmagórico coro das tragédias gregas. É essa a herança do PS na governação. Em boa e justa verdade, o PS vende uma esperança populista, logo, mera espuma alquimista e eleitoralista: para conquistar o voto, verbaliza-se com convicção, no limiar da reserva mental, o impossível como certo. Já a Aliança Democrática, num olhar que é o meu, mas não esgota o real, pensa alto e fala claro: as propostas partem da esperança matemática como sinónimo de probabilidade séria de concretização, pois, só assim se é chão de futuro. Luís Montenegro, com justo equilíbrio e partindo do bom senso, vinculou-se a dar passos seguros, no espaço de uma legislatura, para resolver parte substancial dos problemas que nos afligem. E resolver com uma matriz social-democrata:
- sim, é intrínseco e inato à social-democracia à portuguesa (que encarou a social-democracia como etapa final; rejeitando ser um estado intermédio para um almejado socialismo), defender e lutar por uma Escola Pública de excelência, onde todos os professores e pessoal não docente sejam respeitados e reconhecidos, no plano humano, social e remuneratório e onde pais e alunos se sintam integrados e confiantes na qualidade do ensino;
- sim, é social-democrata pugnar e promover um Serviço Nacional de Saúde de referência, onde os serviços de saúde, prestados em devido tempo, não sejam negados a ninguém e onde todos os profissionais do setor sejam, igualmente, reconhecidos a todos os níveis;
- Sim, nada mais social-democrata do que priorizar um país seguro e justo, onde as forças de segurança e todos os agentes da justiça são acarinhados e reconhecidos nas plurais dimensões, incluindo, no plano salarial e de perspetivas de carreira;
- Sim, desde o Botequim de Natália Correia, frequentado por Francisco Sá-Carneiro, que é estruturalmente social-democrata a intelectualidade e o imperativo categórico para a ação e defesa de uma política pública germinal de uma oferta cultural pluralista, descentralizada e com a devida escala, reforçando o seu peso no orçamento do Estado;
- Sim, como o documenta a história legislativa da área do ambiente e ecologia, a social-democracia portuguesa, em sinergia com o saber fazer de Gonçalo Ribeiro Telles, sempre se empenhou em promover a defesa da nossa casa comum: o nosso planeta;
- Sim, também é património social-democrata priorizar a aposta pública no desporto, reforçando uma proximidade democrática, logo respeitadora, com as estruturas associativas e assumindo a responsabilidade financeira que é devia ao Estado como um todo.
- E, sim, por fim, é genuinamente social-democrata defender um sistema fiscal mais equitativo e proporcional e promover e garantir uma economia justa para empresários e trabalhadores, com lucros e salários europeus, não sendo permitidos quaisquer abusos e arbitrariedades. Etc..
Em resumo: o projeto social-democrata, e democrata-cristão, diga-se, em abono da verdade, visa devolver esperança a Portugal, uma esperança palpável, prenhe de decência, competência e honestidade e com fragrância de verdade. Sim, para termos futuro solar, é preciso dizer não a ladainhas e litanias laicas lunares. Sejamos épicos, e, inspirados em Luís de Camões, digamos em uníssono, com o nosso voto na AD: “Cesse tudo que a Musa antiga canta, que outro valor mais alto se alevanta.”