Espada quebrada aponta caminho
O artigo – talvez um pouco infeliz – pretendia ser, acima de tudo, um alerta e uma chamada de atenção. Resumidamente o que o texto dizia era o seguinte: se a PSP e outras autoridades tinham deixado de fazer a sua ronda nocturna pelo nosso Centro Histórico, a videovigilância era a única alternativa possível para dissuadir ou pelo menos identificar os autores dos distúrbios que na altura se faziam sentir.
Em causa estavam os pequenos mas constantes delitos que eram comuns no centro da cidade: ruído, destruição e invasão de propriedade privada, violência, ameaças aos moradores, entre outros. É ainda de notar que, então, apenas uma parte destes actos eram reportados às autoridades. Afinal quem é que quer perder tempo para se queixar de um vidro partido, de um miúdo bêbedo a dormir num quintal ou de uma noite mal dormida por causa do barulho? Já basta o incómodo causado por estas situações…Ainda assim foram feitas várias queixas (à PSP) e posso afirmar com segurança que, de diversas formas, a Câmara Municipal de Guimarães foi alertada para esses problemas, tendo optado por não lhes dar a devida atenção.
Volvidos quase 10 anos a situação piorou. Desta feita a vítima foi novamente a espada da icónica estátua de D. Afonso Henriques. Agora, aos pequenos atentados à propriedade privada (que nunca cessaram) e à privação do direito ao sossego passa a juntar-se a destruição de património público como algo recorrente.
Quem são os responsáveis? É fácil culpabilizar os jovens ou criticar a juventude (já Sócrates o fazia), mas não sejamos moralistas. Se é um facto que é próprio dos jovens testarem os seus limites (o que temperado com estupidez pode degenerar em vandalismo), também é sabido que cabe à família e à sociedade definir esses limites, não só através da civilidade, da educação e da Lei mas também através da punição sempre que tal for necessário.
Creio que será difícil (ou até impossível) identificar quem quebrou a espada de D. Afonso Henriques e, se assim for, o crime ficará impune. Posto isto pode dizer-se que está novamente na ordem do dia a questão da videovigilância (sobre a qual tenho sérias reservas). A alternativa óbvia a esta solução seria conseguir criar condições para que a PSP passasse a fazer novamente rondas regulares pelo Centro Histórico. De qualquer das formas teremos que escolher que caminho queremos seguir, sabendo de antemão que a solução não passa por deixar tudo como está. Até lá uma coisa é certa: a manutenção da ordem pública, o direito ao sossego, a defesa da propriedade privada e do nosso património será sempre fruto do acaso.