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Descrescimento

José Cunha
Ambiente \ sábado, setembro 10, 2022
© Direitos reservados
O “decrescimento” critica o capitalismo global que procura o crescimento a todo o custo, causando exploração humana e destruição dos recursos. Advoga o equilíbrio, num planeta de recursos limitados.

Continuamos com a obsessão pelo crescimento económico infinito mesmo sabendo que caminhamos para o abismo, e mesmo sabendo que ele pode estar aí, ao virar da esquina.

Após um interregno motivado pela pandemia da Covid-19, a AVE - Associação Vimaranense para a Ecologia irá este ano retomar a sua habitual mostra de cinema documental - Ecorâmicas - para debater sobre um tema de ambiente e sociedade, que nesta edição será o “decrescimento”.

Confessando que não domino o tema, vou neste texto partilhar alguma informação básica, assim como algumas reflexões, na esperança de estimular o interesse dos leitores em saber mais sobre o “decrescimento”, e a participar nas Ecorâmicas.

A ideia de “decrescimento” surge nos anos 70 e na sequência do relatório “Limites ao crescimento” elaborado por cientistas do MIT a pedido do denominado “Clube de Roma”. Nesse documento é dito que a manter as tendências de crescimento da população mundial, industrialização, poluição, produção de alimentos e esgotamento de recursos, os limites do crescimento seriam alcançados no espaço de 100 anos. No entanto, e tendo decorrido apenas 50 anos, é cada vez mais evidente que esse limite existe, e estará bem próximo.

O “decrescimento” critica o sistema de capitalismo global que procura o crescimento a todo o custo, causando exploração humana e a destruição dos recursos naturais, e advoga o equilíbrio, pois num planeta de recursos limitados torna-se imperativo reduzir os níveis de produção e consumo.

A ideologia para o “decrescimento” incide sobre vários níveis, e tanto apela a mudanças individuais, como a experiências coletivas, ou a novos projetos políticos e modelos económicos. Apela a pensar em futuros diferentes.

Alguns exemplos de “decrescimento” são o minimalismo, que de grosso modo consiste em viver com poucas posses materiais, ou projetos de economia partilhada. Numa escala mais global tem sido proposta a jornada laboral de 4 dias e a necessidade de encontrar formas diferentes de calcular o Produto Interno Bruto (PIB), ou até mesmo de o substituir por outro indicador mais ligado ao bem estar das populações.

De facto, vivemos obcecados com o PIB mesmo sabendo que muitos dos contributos positivos para esse indicador são manifestamente imorais, injustos e devastadores para a natureza. O que seria do PIB de alguns países sem a industria petrolífera ou a industria da “guerra”?

Numa visão mais local, não vivemos nós (ou pelo menos os nossos responsáveis políticos) também obcecados pelo crescimento? Não estão estes sempre focados em fazer crescer a cidade e a economia local? Mas isso é feito à custa de quê? E de que forma é redistribuída a riqueza? Já ouvi vezes sem conta a expressão do “acrescentar cidade à cidade”, mas isso representa o quê? O que tem acontecido é acrescentar betão e asfalto à cidade, e à custa da artificialização dos solos e da nossa capacidade de resiliência. Será que crescer é (sempre) bom?

Pois bem, continuamos com a obsessão pelo crescimento económico infinito mesmo sabendo que caminhamos para o abismo, e mesmo sabendo que ele pode estar aí, ao virar da esquina. A ideologia do decrescimento procura alternativas e pretende reformular a economia de forma a não explorar pessoas nem esgotar a Terra.

As Ecorâmicas deste ano pretendem dar um contributo nessa busca de formas diferentes de sociedade e economia equilibradas com o planeta. Estão todos convidados a procurar mais informação e a reservar o último fim de semana de Outubro para fazerem parte dessa reflexão.

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