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E depois das eleições…

Filipe Fontes
Opinião \ terça-feira, outubro 28, 2025
© Direitos reservados
O tempo reflecte mudança e a mudança reclama tempo para mostrar os seus efeitos. E os efeitos só resultarão em qualidade se as causas forem identificadas e bem entendidas.

E sobre o período eleitoral autárquico “cai o pano”, dando lugar à assunção do poder, da responsabilidade e dos cargos alcançados, assumidos e definidos, num processo próprio e inerente ao sistema democrático que (felizmente) nos alimenta enquanto sociedade.

À nossa escala regional, estas “eleições” produziram continuidade frágil (Braga), estabilizada (Barcelos e Vila Nova de Famalicão), reforçada (Vizela), natural (Viana do Castelo e Santo Tirso) e alterações, ora admissível (Cabeceiras de Basto), ora profunda e “histórica” (Guimarães).

Na verdade, no território vimaranense, as “eleições” significaram mudança, mudança grave e profunda, passível de ser caracterizada e densificada por duas palavras: diferença e diversidade.

Diferença no sentido da vontade de “ir mais além” do que opções políticas e ideias, vontade de mudar rostos e partidos, de tudo mudar e diferenciar, abrindo campo para novas figuras e protagonistas, novas formas de relacionamento e posicionamento, novas metodologias de trabalho e de afirmação, novo modo de “fazer política” e de presença na “cidade e no território”, relacionando e influenciando tantos e tantos domínios e níveis de actuação e presença da sociedade vimaranense. Dir-se-á diferença acentuada e abrangente!

Diversidade porque se traduz na abertura do órgão executivo municipal a mais do que o “bipartidarismo”. Embora, provavelmente, aquém da abrangência possível, resultou opção não confinar o exercício político à dicotomia de duas partes. Diversidade ténue, porventura, mas diversidade devolvida!

Entre a diferença e a diversidade se organizará o novo contexto autárquico, acreditando-se que, agora, será tempo de despolitizar a técnica e politizar a cidade.

Na verdade, o período eleitoral centrou-se na discussão de temas essenciais à cidade – mobilidade, planeamento, habitação – numa deriva tecnicista, discutindo-se modelos e opções técnicas e não estratégias e decisões políticas. Exemplo maior ocorreu no campo da habitação: divergiu-se e competiu-se no número de fogos a construir, mas não se debateram questões estruturais e políticas (na verdadeira acepção do seu significado e valor) como densidade e concentração, enraizamento social e reabilitação urbana, infraestruturas básicas e complementares e promoção.

No campo da mobilidade, balançou-se entre metro bus, BRT e metro de superfície e pouco se desenvolveu sobre movimentos pendulares, estratégias de atractividade do colectivo sobre o individual… No campo do planeamento, a exclusividade fixou-se no plano director municipal e na sua aprovação, numa dicotomia “sim ou não”, sem fundamentação do “porquê e para quê”, como poderá e deverá ser diferente…

Por isso mesmo, este tempo que se inicia será tempo de politizar a cidade, de olhar para esta urbe que tanto desafia quanto se afigura problematizada, tanto exige quanto oferece, tanto reclama quanto carece, expondo uma “uma ideia de cidade” e, assim, entre todos, nos locais ditos “próprios e adequados”, com os “actores devidos e legitimados”, se debater, concertar, decidir e executar.

O tempo é novo: não é tempo repetido nem requentado. É tempo de novos actores, novas formas e nova vontade… E, neste tempo novo, recorrente confronto se afirmará e visibilizará: confronto entre futuro e passado, compromisso e legado.

O compromisso assumido que não poderá esquecer o que foi explicitado, perspectivado e prometido. Admitir-se-á ajustamento e mitigação em função do aprofundamento do conhecimento da realidade, mas será incompreensível se tal não for a base de actuação e preocupação central da concretização e disponibilização à comunidade.

O legado “que fica” e que a História, porventura, melhor qualificará e ajustará. Legado de uma cidade que foi duramente o que foi, com a evidência do que poderia ter sido e não foi ou perdeu, com a constatação do que conseguiu alcançar, das marcas que deixa e condiciona…

Acredita-se e deseja-se que todos estejam no patamar digno da população que representam: aqueles que exercerão o poder por força da preferência, aqueles que acompanharão vigilantes e fiscalizadores dos diferentes domínios do exercício executivo do poder, aqueles que mais impacto sentirão: os cidadãos.

O tempo reflecte mudança e a mudança reclama tempo para mostrar os seus efeitos. E os efeitos só resultarão em qualidade se as causas forem identificadas e bem entendidas. A todos nós competirá participar e honrar Guimarães. Porque esse deve ser o nosso permanente desígnio, porque essa é a urgência necessária, porque esse é o futuro feito esperança, na certeza de que àquela pergunta fatalmente inevitável “quando vai ficar pronta a cidade?”, a resposta continuará a ser óbvia “é uma cidade, nunca será acabada…”[1]

 

[1] Citação livre de David Sim, “cidade suave”, para expressar que “àqueles que findam o exercício político” não podemos cobrar uma cidade por acabar e àqueles que começam não podemos exigir que acabem todo o trabalho em falta. Podemos sim cobrar (e julgar) a obrigação de deixar uma cidade melhor e exigir. E exigir a construção de uma cidade ainda melhor! Assim todos saibam proceder com justeza e justiça!

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