Desnorte
O Norte é o mais importante dos pontos cardeais, é para ele que as forças magnéticas da terra fazem apontar a agulha da bússola. É a partir do conhecimento da localização do Norte que determinamos os outros pontos cardeais. Por isso, quem não conhece o Norte está perdido. Não admira que a linguagem própria de viajantes e navegadores tenha sido apropriada pelo senso comum para se referir àqueles que caminham sem saber para onde vão.
Diz-se que quem anda perdido está desnorteado, assim como que quem não conduz as suas ações de forma racional perdeu o Norte. É com tristeza que vejo Guimarães ser governado de forma desnorteada, caminhar de forma errática, aos ziguezagues. São inúmeros os exemplos desta navegação sem rumo certo.
O último episódio deste desnorte foi a proposta para início do procedimento para a elaboração de um regulamento de apoio à economia local, levada a reunião de câmara, na passada segunda-feira, pela maioria socialista.
A medida é obviamente de louvar e a Coligação Juntos por Guimarães não hesitou em a votar favoravelmente. O problema é que chega com um ano de atraso. Durante esse período o Município fez ouvidos moucos aos apelos dos empresários e diminuiu as propostas do PSD, no sentido de se apoiarem os setores mais afetados pelas medidas de contenção à pandemia. Quando todos lhe indicavam o Norte, a Câmara Municipal caminhava na direção contrária, sem dar ouvidos a ninguém.
Nem mesmo quando lhe apontamos o exemplo de outras Câmaras de maioria socialista, em que estavam a ser implementados programas de apoio, mudaram de rumo. As propostas que o PSD apresentou, logo em abril de 2020 e, novamente, em outubro, foram recusadas. Para Domingos Bragança, a responsabilidade de apoiar a economia recai unicamente sobre o Governo, para o vereador Ricardo Costa, estes apoios são (eram) ilegais.
Passado um ano, numa altura em que, provavelmente, há empresas que nunca mais vão abrir portas - porque se afogaram à vista de todos, sem que ninguém lhes deitasse a uma mão -, vem agora a Câmara Municipal propor um “Retomar Guimarães”. Passado um ano, o Município não consegue melhor do que lançar um programa com o mesmo nome do de Famalicão, mas sem qualquer conteúdo: não se sabe qual a dotação financeira, que áreas serão apoiadas, de que forma vão estes apoios chegar às empresas, quais as condições de elegibilidade…
É apenas o início de um procedimento, para um regulamento que será submetido a discussão pública, que voltará de pois a ser votado em reunião de Câmara e mais tarde na Assembleia Municipal. Entretanto, as empresas vão perdendo o pé!
Diz o povo que “mais vale tarde que nunca”. Estamos de acordo, ainda bem que quem nos governa encontrou o Norte. Mas seria preciso um ano para reconhecer a necessidade desta medida? Teria sido difícil ouvir os empresários, senão o PSD?
A conclusão a que se chega, pela falta de preparação que levou, em desespero de causa, a copiar a solução do concelho vizinho, é que o Município não tinha nenhuma intenção de apoiar a economia local. Por isso, não tinha nenhum plano preparado. Foi a força das circunstâncias, em ano eleitoral, que fez com que a Câmara se visse obrigada a retomar o Norte.
Esta falta de solidariedade do Município vai causar danos irreparáveis às nossas empresas, no momento em que elas mais precisavam de ajuda. Além disso, a resposta tardia e a reboque das soluções de outros não dignifica Guimarães, que, em tantos momentos, soube liderar.