Capital da ilusão verde
Foi já em 2006, em Talin na Estónia, que um grupo de cidades europeias assinou um memorando a propor à Comissão Europeia o estabelecimento da Capital Verde Europeia (CVE): um galardão a atribuir às cidades que reconhecidamente tivessem um registo consistente de altos padrões ambientais, podendo assim servir de modelo inspirador e promotor de boas práticas.
Foi também em Talin, mas na semana passada, que ficamos a saber que Guimarães não obteve esse reconhecimento para ostentar em 2025. E foi ainda em Talin que foi anunciada uma nova candidatura do nosso município a esse título europeu.
Pois é, apesar do Presidente da Câmara afirmar repetidamente que o mais importante é o caminho e não o galardão, e de lembrar que foi “reconhecido, e muito elogiado, o caminho que [Guimarães] tem vindo a percorrer em matérias de sustentabilidade”, o facto é que o caminho irá continuar a ser a candidatura ao título e não uma estratégia participada e mobilizadora.
Se tivermos em consideração que o verdadeiro objetivo será o título, o desempenho de Guimarães tem sido muito bom. Conseguiu ser finalista na edição deste ano e em 2017 obteve o quinto lugar na ordenação comparativa das 12 cidades participantes. Mas se atentarmos ao caminho que foi feito, estamos muito aquém do que seria expectável para uma CVE.
Essa discrepância entre a realidade e os resultados obtidos na competição ao prémio de CVE é facilmente compreensível para quem ler o formulário das candidaturas. Em 2017, tive a oportunidade de consultar esse documento e de escrever sobre a ilusão ou a versão de Guimarães que foi posta a concurso, e a que chamei de “ficção mais do que verde de uma realidade pouco mais que cinzenta”.
Já em relação à competição deste ano, ainda não foi divulgado o documento da candidatura pelo que se desconhece qual a ilusão de Guimarães que foi finalista na CVE. Que cidade é esta que quase foi Capital Verde, e que está na liderança das politicas ambientais, sendo referência para as demais?
A julgar pela amostra revelada nas palavras do presidente do júri que apresentou o prémio, a ilusão continua pois eles estão convencidos de que “Guimarães está numa região onde múltiplas áreas estão integradas na rede Natura 2000, o que influencia o clima e a biodiversidade da cidade.”
E a julgar pelo vídeo lá apresentado, Guimarães diz-se ser “one planet city” mas a realidade é que considerando a biocapacidade do território concelhio, Guimarães precisaria de 16 planetas para suportar a sua pegada ecológica.
No rescaldo deste processo de candidatura, mais do que o anúncio apressado da recandidatura, seria de esperar reflexão e ponderação sobre o caminho que está a ser feito.
Esta discrepância evidente até para os menos conhecedores das questões ambientais não descredibiliza?
Os cidadãos dificilmente se comprometem quando não reconhecem um esforço genuíno e coerente pelo interesse comum e o percecionam como uma bandeira política e um bando de “tretas” que são desmentidas pelas atitudes dos governantes e pela realidade do território.
Espero bem que alguma coisa mude, pois a continuar assim, seremos fortes candidatos à alcunha de Capital da Ilusão Verde.