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Concelho cidade por opção e cidade estado por imposição

Carlos Caneja Amorim
Opinião \ terça-feira, outubro 18, 2022
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Só temos de aprender com uma das nossas instituições maiores: O Vitória. Perante qualquer ação injusta de terceiros a imediata reação hercúlea e voluntarista dos vitorianos. É esse o sábio caminho.

Não sendo uma pessoa de ídolos terrenos, tenho admiração profunda e até gratidão pelo legado extraordinário de figuras como Nelson Mandela, Martin Luther King Jr., Mahatma Gandi, Winston Churchil, Francisco Sá Carneiro e Charles de Gaulle. E este notável estadista francês verbalizava, reiteradamente, que a sua premissa estrutural de ação política era ter “une certaine idée de la France.” Socorrendo-me do que Sherlock Holmes tinha por hábito dizer ao seu fiel amigo, Dr. Watson, é para mim elementar que qualquer protagonista político tem de partir de uma ideia/visão, com densidade mínima, sobre o ponto de chegada da sua caminhada: quem não sabe o que pretende e para onde quer ir, nunca chegou a começar. Em boa e justa verdade, até para saber para onde não ir é preciso ter pensamento matricial, qual astrolábio que amansa e doma qualquer âncora pétrea, como o bem ilustra José Régio no seu genial “Cântico Negro”.

Como humilde protagonista político, sendo consequente, tenho uma certa ideia de Guimarães: as “Terras de Vimaranes”, tendo as condições naturais e humanas para o efeito, devem partir do conceito base de concelho cidade, onde o urbano e o rural se entrelaçam construindo a unidade, logo, agigantando-se, fazendo das periferias centro (e nós temos nove vilas), com um planeamento que garanta um mosaico de diferentes densidades urbanas (habitacional, comercial e industrial, etc.), tudo interligado por uma mobilidade verde de excelência. Só assim poderemos ganhar escala e atratividade, ganhando população e invertendo as tendências descendentes. Para fixação de população, sobretudo jovem, é preciso habitação a preços acessíveis e para isso tem de haver intervenção a nível da oferta. Imperativo é um inteligente planeamento e uma esclarecida política de solos, evitando densidades desproporcionais.

E é da ideia de Concelho Cidade que devemos partir para avaliação da oferta social, educativa, cultural, desportiva, de segurança e saúde, etc. Isto sem autarcias e isolamentos fúteis ou redutores, tendo, sim, presente que devemos estar abertos às sinergias regionais (sendo Braga e a Universidade do Minho prioritárias), nacionais e internacionais. Atualmente, infelizmente, a meu ver, a visão hegemónica é binária: de um lado a cidade, do outro lado as freguesias. Tem de haver uma mudança de paradigma: o concelho cidade. Reporto-me, até agora, a uma lógica intramuros. Avancemos agora para as fronteiras…isto é, passemos da política interna para a política externa. Já Joaquim Novais Teixeira dizia, segundo rezam as crónicas: “Não, não sou português, sou mais do que isso, sou de Guimarães! Com efeito, sou de uma pátria pequenina e sólida chamada Guimarães... O resto, meus amigos, é fronteira de um outro mundo.”

Urge pensar alto e falar claro: não há nenhum vimaranense que não se sinta indignado perante a forma ostensivamente abusiva e absolutista que o Terreiro do Paço trata a nossa terra. Os episódios sucedem-se e quando pensamos que já se atingiu o limite, somos de novo surpreendidos. De facto, para estupefação geral, é notícia dos recentes dias que o Centro de Hemodinâmica (que permite tratamento de doenças cardiovasculares) pronto para funcionar há quatro anos no Hospital Senhora da Oliveira e que o Governo tinha garantido que ia abrir finalmente no verão, ainda não está autorizado a iniciar atividade. Perceba-se: estamos há quatro anos à espera de uma autorização administrativa…e, agora, por momentos, pensemos nos nossos familiares (avós, pais, irmãos, etc.) que venham a precisar de um tratamento urgente e, não obstante ele estar ali prontinho para o efeito, não pode ser usado.

Por sua vez, soubemos a semana passada que Guimarães foi esquecido no traçado da linha de TGV. Bem como nos foi retirado o Alfa Pendular que nos ligava a Lisboa em tempo decente por ferrovia. Já para não falar da necessária e há séculos prometida e devida ligação direta a Braga por ferrovia. Na Capital Europeia da Cultura, enquanto Porto e Lisboa tiveram apoio integral e de excelência, Guimarães teve um tratamento diferenciado para pior, ficando sozinho a suportar os custos da manutenção dos espaços construídos para o efeito. Nas transferências de competências em curso visando a descentralização, Guimarães ficou claramente a perder, pois, o envelope financeiro é curtíssimo e será o orçamento municipal a suportar a diferença.

As obras na igreja da Santa Marinha da Costa tardam, fazendo perigar a possibilidade de um restauro minimamente tempestivo, eficiente e eficaz. Resumindo e concluindo: o poder central não respeita Guimarães e aparenta fazer gala disso mesmo, forçando Guimarães a ser CIDADE ESTADO: um concelho cidade que senhor de si e partindo da sua soberania, pugnará pela Justiça que se impõe. Aqui só temos de aprender com uma das nossas instituições maiores: O Vitória Sport Clube. Perante qualquer ação injusta de terceiros a imediata reação hercúlea e voluntarista dos vitorianos. É esse o sábio caminho: enquanto os superiores interesses de Guimarães não forem respeitados nenhum vimaranense pode ficar indiferente.

Ressuscitando os saudosos dias da Unidade Vimaranense.

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