O grito do andebol como forma de alerta
A seleção portuguesa de andebol está a ter um desempenho fantástico no Campeonato da Europa da modalidade que está a decorrer neste mês de janeiro. A armada lusa, bem denominada de ‘heróis do mar’ está a bater-se de igual para igual com as melhores congéneres europeias e que representam países onde as modalidades de pavilhão têm tanto ou mais impacto do que o futebol.
Este desempenho é tão mais assinalável porque estamos a falar de um país, o nosso, onde o desequilíbrio entre o futebol e as restantes modalidades desportivas é abismal. Um país onde a comunicação social está futebolizada, onde os apoios financeiros são escassos e onde os jovens, desde tenra idade, têm tendência para a prática do futebol e, nos últimos anos, do futsal. Aliás, o andebol tem perdido a preponderância que já teve entre as modalidades de pavilhão devido ao forte mediatismo e aos êxitos recentes que o futsal tem alcançado.
Com projetos pouco exuberantes no âmbito do desporto escolar as modalidades desportivas que não o futebol vão vivendo em redor de alguns clubes tradicionais que se esforçam para, com meios muito escassos, irem mantendo a variedade de oferta para que o país não se torne apenas um território futebolizado.
Nestes momentos em que surgem os resultados desportivos há sempre muita gente a disparar loas, a despejar elogios e palavras bonitas, mas que rapidamente são esquecidas. Somos um país sem uma política abrangente para o setor, sem cultura desportiva, um povo que fica frustrado quando olha para o pobre medalheiro nos Jogos Olímpicos mas que nos quatro anos seguintes não acompanha uma prova dessas modalidades das quais poucos conhecem os nomes dos principais protagonistas e nem as regras básicas.
É por isso que quando o país é alertado por estes feitos tem de agradecer o empenho, o profissionalismo, a entrega de uns quantos que não deixam as modalidades morrerem e que, com estes resultados, estão a dar um grito de revolta e apenas a pedir a atenção que todos lhes devemos. Seja na presença nos pavilhões a cada semana como adeptos, seja a consumir as notícias que escrevem sobre eles porque só assim poderão captar a atenção de marcas e parceiros que tornem esses projetos sustentáveis.
Um país mais eclético é um país desportivamente mais saudável, mais inclusivo, e menos avesso às rivalidades comezinhas que o futebol vai fabricando. Basta ver uma modalidade de pavilhão para perceber que o saber estar dos intervenientes, com exceção de alguns maus exemplos, é bem diferente do que se vê nos relvados.
Este mês apoiamos no sofá esta fantástica seleção de andebol mas o desafio é que os passemos a ver nos pavilhões. A eles e aos restantes praticantes de tantas modalidades espetaculares que por esse país fora vão lutando pela sobrevivência.