Em busca da dignidade perdida: Mercado Municipal
Fomos Capital Europeia de Cultura em 2012 e estão ainda bem presentes na memória coletiva da pátria vimaranense os momentos de genuína felicidade e justo orgulho. Mais ainda quando, de forma esclarecida, se fez a opção por um modelo fundacional transformador e não de mero festival pró-foguetório.
O paradigma base de se usar a realização da Capital Europeia da Cultura para desenhar uma cidade prenha de futuro e de vanguarda foi uma decisão certeira. Mas, no meu olhar que não esgota o real, e em boa e justa verdade, houve erros cometidos que eram evitáveis. Desde logo, a pouca importância dada ao pensamento é um dos pecados capitais; sendo, contudo, para o aqui releva, a “desconstrução” do Toural clássico e a eliminação do Mercado Municipal o passivo mais grave. Aliás, a contemporânea candidatura a Capital Verde Europeia deve ter saudades do Toural histórico.
Como disse, focar-me-ei aqui no Mercado Municipal, outrora uma obra de arte social de que os vimaranenses tinham genuíno e assaz orgulho, que mesclava o urbano e o rústico de forma plena, e que era exibido à vista de todos. Por culpa capital, na antecâmera das celebrações de 2012, o Mercado foi remetido para a periferia de tudo, escondido de todos. Por vezes, laborando certamente em erro, tenho a impressão que existem certas minorias que têm complexos e preconceitos com o mundo das freguesias rurais e com o setor primário, alvitrando que o mundo urbano e as pessoas da cidade são dotados de algo mais.
Nada mais errado, a meu ver. É tempo de corrigir o erro: cumpre, sem demoras, recentrar o Mercado Municipal, devolvendo-lhe o lugar que é seu por direito em termos de importância e visibilidade. Não podendo ser opção o local original, defendo a sua colocação no centro da cidade, mais concretamente no Instituto do Design de Guimarães, nas instalações da antiga Fábrica de Curtumes da Ramada. Com uma entrada direta para clientes pelas traseiras do S. Francisco Centro, teremos um novo espaço de que todos os vimaranenses ser orgulharão. Sim, visualizo neste local um sucedâneo do Mercat de Sant Josep, La Boqueria, em Barcelona, o qual serve aqui como exemplo e modelo.
Guimarães sempre foi uma terra cosmopolita, que, no plano internacional, deu e recebeu conhecimento. Impõe-se compreender que as cidades devem ser espaços complexos, onde o plural é o ponto de partida. Nesse contexto do pensamento complexo de Edgar Morin, teremos uma cidade mais rica, com majoração de identidade e caráter, e bem mais sustentável, com a devolução da dignidade perdida ao Mercado Municipal de Guimarães. Até porque, na priorização de políticas públicas futurantes, é vanguarda suprema a aposta ecológica e a promoção da economia circular. Digo mais: devendo ser espaço nobre para escoar e vender parte da produção agrícola do concelho, cumpre, também, deslocar para o novo mercado municipal o balcão do turismo, o qual deve ser fator de criação de valor, onde, por exemplo, se exponha e venda os vinhos de referência e qualidade produzidos no terroir das Terras de Vimaranes.
Qual o mal de colocar os serviços públicos do turismo a venderem a produção vinícola de Guimarães aos turistas? Eu não vejo mal nenhum. Aliás, questionável, para mim, é ver “resmas” de turistas com bandeirinhas a encherem as ruas de Guimarães sem gastarem um cêntimo: 100 % de poluição e 0% de rendimento. Por vezes, uma das minhas maiores perplexidades é constatar que as entidades públicas não são vistas como fator de criação de valor, isto é, de criação de riqueza nas suas comunidades. Como um homem da ala social-democrata do PSD, isto é, do centro-esquerda, nunca aceitarei que as entidades públicas sejam tratadas e olhadas como custo; defenderei sempre que as mesmas sejam vistas como investimento.
Perceba-se: as pessoas e as instituições são, também, aquilo que os outros lhes dão. Que seja, então, respeito e confiança aquilo que damos aos agentes públicos. Um futuro melhor para a nossa comunidade também passa por aqui.