skipToMain
ASSINAR
LOJA ONLINE
SIGA-NOS
Guimarães
26 dezembro 2024
tempo
18˚C
Nuvens dispersas
Min: 17
Max: 19
20,376 km/h

BRT Guimarães-Braga: Um Projeto com partida marcada, mas sem chegada.

Pedro Ferreira
Opinião \ segunda-feira, novembro 25, 2024
© Direitos reservados
O projeto BRT entre Guimarães e Braga tem o potencial de ser um divisor de águas para a mobilidade na região, mas a sua implementação exige maior agilidade e coordenação.

O Distrito de Braga, nomeadamente o concelho de Guimarães enfrenta hoje desafios muito sérios no que se refere à mobilidade. No distrito de Braga, a mobilidade continua a ser um desafio central para o desenvolvimento sustentável da região. Enquanto o concelho de Braga tem apostado em soluções inovadoras, como a integração tarifária e a expansão dos transportes públicos no contexto do quadrilátero urbano (incluindo Barcelos, Guimarães e Vila Nova de Famalicão), Guimarães tem enfrentado críticas pela sua lentidão em implementar mudanças concretas que priorizem os transportes coletivos e o compromisso com a sustentabilidade ambiental.

Quando paragonado com os restantes concelhos do quadrilátero urbano, particularmente ao nível ferroviário, Guimarães não se relaciona diretamente a nenhum dos outros concelhos, o que implica transbordos que prejudicam claramente os tempos necessários para uma deslocação Guimarães-Braga, Guimarães-Barcelos ou Guimarães-Famalicão. Este facto torna-se ainda mais relevante quando comparado com os tempos que separam as ligações entre os restantes concelhos. Ademais, Guimarães é o concelho onde os tempos são menos competitivos na ligação ao Porto, apesar de em linha reta se encontrar mais perto do concelho do Porto do que o concelho de Barcelos.

Perante estes factos, a necessidade de um sistema de transportes públicos eficiente, que efetue a ligação entre Guimarães a Braga já é longínqua e torna-se cada vez mais improrrogável, não só para facilitar a deslocação diária de trabalhadores e estudantes, mas também para impulsionar o desenvolvimento económico e social da região. A ligação a Braga, um centro urbano importante, é vista como um passo estratégico para melhorar a mobilidade intermunicipal.

O concelho enfrenta uma série de problemas que refletem a falta de uma política de mobilidade eficaz. A cidade, que se orgulha de ser Património Mundial da UNESCO, não tem conseguido implementar medidas significativas para reduzir o tráfego automóvel e melhorar as opções de transporte público. A rede de autocarros é limitada, com horários irregulares e cobertura insuficiente para as zonas periféricas, verificando-se uma clara falta de interconexão efetiva com os restantes municípios do quadrilátero urbano. Além disso, à exceção da ciclovia, as infraestruturas para bicicletas e pedestres são rudimentares e desconectadas, dificultando a adesão a formas de mobilidade ativa.

A criação de uma rede ciclável integrada que permita expandir as ciclovias e estabelecer ligação entre os vários pontos do concelho, aumentar a frequência e a cobertura dos autocarros ou a promoção de campanhas para a sensibilização ao uso dos transportes públicos, particularmente na zona histórica, são iniciativas que poderiam sustentar a transformação da mobilidade em Guimarães.

 A proposta de criação de um sistema BRT (Bus Rapid Transit) entre Guimarães e Braga surge como uma resposta aos problemas de mobilidade suprarreferidos. Numa das regiões mais dinâmicas do país, esta ligação pretende transformar a oferta de transportes públicos, oferecendo uma alternativa eficiente, sustentável e de alta capacidade para a população. Concebido com o escopo de ligar Guimarães a Braga, o sistema BRT integra-se num esforço mais amplo de modernização da mobilidade urbana no Quadrilátero Urbano (Guimarães, Braga, Famalicão e Barcelos). Com vias dedicadas para autocarros de alta capacidade, o objetivo é reduzir o tráfego, diminuir a poluição e promover o uso de transportes coletivos.

O projeto é inovador, contudo, tem sido tema de debate, não pela relevância para a mobilidade urbana, mas pelas falhas de gestão e planeamento. A sua execução está associada a constantes atrasos e indefinições que originam sérias preocupações sobre a capacidade, uma vez mais, do executivo municipal responder às necessidades da população. O que deve ser visto como uma solução eficaz, está a ser prejudicado pela inação e falta de clareza por parte da Câmara Municipal.

Embora a importância estratégica deste projeto tenha sido reconhecida pelo governo central, com os apoios prometidos pelo Fundo Ambiental e pelo Programa de Recuperação e Resiliência (PRR), a sua execução tem sido marcada por atrasos. O presidente da Câmara, assegura que os estudos estão em fase avançada e justifica estes atrasos na concretização do projeto com o elevado valor e a dependência de financiamento do governo central ou fundos europeus. A delonga na implementação do projeto pode comprometer o seu impacto positivo.  Há receios de que novas construções interfiram no traçado, o que pode aumentar custos e atrasar ainda mais a obra. Evidenciar o facto da Comissão Política Concelhia de Guimarães do CDS-PP, quer por meio das Assembleias Municipais, quer através da sua vereadora, têm, por diversas vezes têm sublinhado a necessidade de priorizar a reestruturação dos transportes públicos locais e promover ações mais decisivas para a redução da dependência do automóvel privado.

O projeto BRT entre Guimarães e Braga tem o potencial de ser um divisor de águas para a mobilidade na região, mas a sua implementação exige maior agilidade e coordenação. A Câmara Municipal de Guimarães tem a oportunidade de iniciar e liderar uma transformação estrutural que pode beneficiar não apenas os munícipes, mas também o desenvolvimento socioeconómico da região. Sem ações concretas e integradas, os desafios continuarão a limitar o progresso de uma das cidades mais emblemáticas de Portugal.

Podcast Jornal de Guimarães
Episódio mais recente: O Que Faltava #86