Bombeiros, cuidar de quem cuida de nós
Chega Agosto e com ele as férias e o descanso, pelo menos para uma grande parte de nós. Acontece que Agosto não é sinónimo de descanso para todos. Para alguns é mesmo sinónimo de mais trabalho e de uma luta diária contra calamidades.
Os incêndios em Portugal são um problema crónico, que carece de uma reflexão e reestruturação profundas. Portugal é o recordista europeu de área ardida num só ano, o fatídico 2017. Nos últimos 20 anos, as análises comparativas de área ardida em incêndios florestais, na União Europeia, mostram um Portugal pioneiro, sempre numa das cinco primeiras posições sendo que, em várias ocasiões, é mesmo o estado-membro com mais área ardida.
António Costa ficará na história como o primeiro ministro com mais área ardida e mortes causadas por incêndios nos seus mandatos, ainda assim, este recorde não é incentivo suficiente para uma mudança estrutural nas políticas públicas de gestão florestal. À boa maneira socialista, temos muita algaravia, muitas promessas, para zero resultados práticos.
Para o bem e para o mal, os incêndios são indissociáveis da imagem dos bombeiros. É neles que projetamos todas as nossas esperanças, e muitas vezes as frustrações, nos momentos em que o desespero nos acomete. Tenho um respeito e uma admiração incomensurável por estes heróis. Pela coragem, pela abnegação, pelo sentido de serviço, e por representarem o ideal em que acredito: onde sociedade civil e estado se complementam, colaboram e partilham a gestão da coisa pública.
A história dos Bombeiros em Portugal faz-se do voluntariado, da iniciativa da comunidade em unir-se para cuidar do bem comum. Estima-se que cerca de 90% dos nossos bombeiros sejam voluntários! Este número, absolutamente estonteante, ilustra bem a dependência que temos destas estruturas associativas. Se elas deixassem de existir, o estado não teria dinheiro para assegurar equipas de socorro em todos os municípios.
Cuidar dos bombeiros é por isso uma obrigação de todos nós. Nos últimos anos 15 anos perdemos mais de 16 mil bombeiros, uma tendência que continua a agravar-se. Cuidar dos bombeiros não se limita a levar garrafas de água ao quartel no verão. Cuidar dos bombeiros é também pugnar, enquanto cidadãos, para que estes recebam os meios e condições necessárias para fazerem o seu difícil trabalho.
Cuidar dos bombeiros é trazer para a discussão pública o nome do comandante Augusto Arnault, vergonhosamente acusado pelo ministério público pela tragédia de Pedrógão, mostrando solidariedade com aquele que será o menos culpado, num sistema onde tudo falhou.
Pedrógão foi um dos episódios mais negros da História recente do nosso país e resulta de muitos dos nossos problemas (corrupção, instrumentalismo político, falta de coesão, falta de organização, burocratização, etc), infelizmente, e apesar da dimensão, gravidade e horror desta tragédia, esta não serviu para aprendermos e fazermos diferente, pelo contrário. Fazer do comandante dos bombeiros (elo mais fraco na grande cadeia de comando) o bode expiatório pode ferir de morte a já débil estrutura associativa que sustenta os bombeiros da qual nós, sociedade, tanto precisamos.
Ao comandante Arnault, e a todos os que avançam para o terreno e nos protegem nos momentos mais adversos, a minha gratidão, no que me compete, enquanto cidadã, cuidarei de ser voz na defesa da vossa missão e honra.