Ninguém resiste aos Al-Milhões
Sempre se ouviu a expressão de que o melhor amigo é o que dá mais. É assim em todas as áreas da sociedade e é comum ver-se, por exemplo, altos quadros de grandes empresas trocarem de cadeira porque o vizinho do lado fez uma melhor proposta. As carreiras curtas dos futebolistas, algumas delas duram pouco mais de uma década, agudizam esta corrida por melhores contratos.
Estamos a viver um tempo em que, no futebol, diariamente se houve falar de transferências com números estratosféricos para os campeonatos das arábias. Parece que para trás já ficou o modelo em que para aquelas paragens iam os jogadores já em fim de carreira, amealhar os petrodólares que ajudavam a compor as já recheadas carteiras de muitos dos futebolistas que andaram na alta roda do futebol mundial. Foi, como é sabido, o caso de Cristiano Ronaldo.
Mas o paradigma está a alterar-se. Já não são só os jogadores que estão perto da pré-reforma que decidiam rumar ao Médio Oriente, mas também muitos outros que encaixariam nos plantéis dos melhores clubes da velha Europa. Mas afinal o que está a mudar? Que explicações há para este fenómeno?
O distanciamento no tempo poderá ajudar-nos, no futuro, a avaliar melhor esta tendência, mas, no imediato, a explicação é lógica. Todos correm pelos milhões e ninguém fica indiferente quando lhes acenam com ‘barcos de notas’. Afinal, a bola é redonda em todo o lado e continuam a ser 11 para 11. Jogadores de alto quilate que abdicam de jogar na Liga dos Campões da UEFA, na liga inglesa, espanhola ou alemã para se tornarem príncipes de um mundo estranho, de uma sociedade diferente da nossa.
Algumas correntes criticam a legitimidade de todo esse dinheiro, dos valores de sociedade que defendemos no ocidente serem atropelados em muitos desses países, desde os direitos das mulheres, dos trabalhadores e outros. Mas os amantes do futebol não se deliciaram com a última época do Manchester City? Que dinheiro sustenta o colosso inglês? Alguém se lembra disso quando Pep Guardiola coloca aquela orquestra a tocar afinada? Qual a diferença da origem do dinheiro que o Bernardo Silva recebia no City e do que poderá vir a receber num Al-qualquer?
As escolhas dos jogadores e treinadores que decidem rumar aquelas paragens é tão legítima como qualquer outra e não sabemos se não estaremos a viver um tempo de mudança do centro do futebol. Quem nos garante que dentro de 10 ou 15 anos não estaremos mais interessados na Liga Saudita do que na Liga Inglesa?
O dinheiro não fala, não tem cor ou credo. No mundo dos negócios é ele quem mais ordena e o futebol negócio será mais próspero onde mais dinheiro houver. Sejam libras, euros ou petrodólares.