Sabroso de cara lavada. Apenas o início...
No âmbito das comemorações do Dia Um de Portugal, será inaugurada no próximo dia 25 de Junho, a reabilitação do Castro de Sabroso, em São Lourenço de Sande. A intervenção realizada pelas equipas da Era, Arqueologia, cujo profissionalismo está à vista, incluiu várias ações absolutamente necessárias, não apenas para a valorização turístico-cultural deste monumento milenar, mas sobretudo para o salvamento dos vestígios que ali se conservam. Esta intervenção em Sabroso foi sobretudo uma questão de salvaguarda, mais do que de musealização. O estado em que se encontravam os vestígios, esventrados pelo crescimento das acácias e por sucessivos incêndios, mais do que justificou a limpeza e conservação realizadas ao longo do ano de 2022.
Mas procurou-se também dar uma utilidade social e cultural a estes vestígios, para os quais se chegou a pensar na possibilidade de aterro, preservando as ruínas sem as tornar visitáveis. Teria sido uma pena, concluímos, agora que podemos olhar para a monumental muralha da Idade do Ferro e para a perfeição dos aparelhos, da muralha e de várias casas e lajeados, bem como para as várias gravuras rupestres.
É agora possível usufruir das potencialidades naturais e paisagísticas do local, subindo à nova varanda sobre o vale do Ave, que dá comodidade ao visitante e proteção à muralha que atravessa. Mas também se pode acompanhar a narrativa histórica da evolução do castro, do qual começa a desprender-se aquela mística castreja que emana da Citânia de Briteiros. De uma pequena comunidade de camponeses, que desde logo parece ter apostado tudo numa muralha gigantesca, a uma possível destruição em grande escala – um ataque, um incêndio, enfim, uma de muitas possíveis hecatombes anónimas da Antiguidade – até à reconstrução e ampliação do recinto, com uma tal qualidade construtiva, que faz pensar numa excentricidade da elite local. E além disso, o ritual: as gravuras que poderiam ter vindo dos ancestrais, o altar na acrópole, as esculturas de animais, que nos revelam um centro de culto desses tempos recuados. Demasiado íngreme, demasiado defendido, demasiado denso, fosse qual fosse o motivo, Sabroso não sobreviveu à Romanização.
Deve-se esta reabilitação à sensibilidade dos responsáveis pelo Município de Guimarães, mas também da sociedade civil, através do Orçamento Participativo, e da persistência da Sociedade Martins Sarmento, que assim honra o seu patrono, que muito por ali vagueou, em obsessivas reflexões sobre os Lusitanos, Lígures e Celtas...
Isto é, contudo, apenas o início. Apenas agora se começou uma valorização condigna do Castro de Sabroso, que requer restauro dos seus elementos construídos e não baixar a guarda em relação às acácias e outras infestantes. É também a partir de agora que, tal como na Citânia, começará a ter impacto a presença de visitantes, cujo civismo se solicita, naturalmente.