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O desporto e a economia (continuação) - parte 6

Francisco Oliveira
Opinião \ segunda-feira, fevereiro 05, 2024
© Direitos reservados
O espetáculo deixou de ser um momento de encontro e de competição e tornou-se uma oportunidade económico-financeira: mais jogos, mais competições, mais horas de transmissões televisivas e de debates.

O poder do futebol (e do desporto em geral), ou a mentalidade estalinista, reside para muitos na lógica dos dinheiros e dos negócios, ocultando, cada vez mais, o seu verdadeiro poder que reside nos seus praticantes e adeptos, reunidos ou não em coletividades que promovem e realizam os seus valores. O desequilíbrio e o escândalo vão-se instalando cada vez mais no desporto, que na batuta das finanças tudo reduz a negócio e não constrói polis, civitatis, cidade. Ou seja, comunhão e fraternidade, com fairplay e solidariedade, fazendo mais e melhor humanidade em sã convivência. A questão da Superliga é a prova provada disso mesmo (não esquecendo que a Liga dos Campeões, mesmo que promova o mérito, já faz isso), onde o dinheiro e os negócios, de ricos com ricos, são o que conta. Se a Superliga assinala esse risco, não devemos assobiar para o lado, pois a Liga dos Campeões já é isso – mais dinheiro, melhor organização e marketing cada vez mais eficaz. Numa e noutra o foco é o mercado, onde a UEFA e os demais stakeholders continuam atentos, promovendo reformas de regras e de competições, valorizando o mercado. Quero acreditar (mas não sou ingénuo!!!) que a UEFA procura valorizar todas as ligas e não só as big five.

Todavia, os sonhos dos adeptos não coincidem com os dos donos e gestores dos clubes. Os adeptos querem manter vivos o espírito de pertença, de identidade e das rivalidades; já os donos querem dinheiro para fazerem dinheiro, pagarem dívidas e chorudas recompensas aos administradores e gestores. Querem um quintal que renda chorudas frutas (não estou a falar da famosa fruta do futebol português, mais que vergonhoso para todos os que gostam deste maravilhoso jogo) na bolsa dos seus interesses. É preciso – e mais uma vez afirmo, sem ingenuidades, que não podemos desprezar as finanças, contudo não as devemos absolutizar – pôr em contraponto na balança desequilibrada os sonos dos adeptos e a irresponsabilidade financeira. Parecem-vos aceitáveis os valores salariais de alguns dos seus praticantes, ou das transferências megamilionárias de alguns jogadores/jogadoras? Esta é a irresponsabilidade, ou rampa deslizante, onde se encontra o jogo tão bonito e simples, e por isso o mais democrático – o futebol. Sê-lo-á no futuro?! Para isso, precisamos de um capitalismo desportivo socialmente responsável e politicamente promotor da paz, e sempre responsável e sustentável. Ou, só no resta a deriva desenfreada dos negócios mais que duvidosos?!

Mas nós abemos que o verdadeiro poder do jogo chamado futebol (e não só, por exemplo o basquetebol, e a sua liga europeia) está nos milhões de espetadores que vão aos estádios, pavilhões e pistas, bem como nos mais de mil milhões que o visionam na televisão. Mas o jogo tem uma estética e uma geometria, que mais que ganhar, se baseia na competição construtora de mulheres e homens capazes de conviverem e no fim ganha um ou uma, mas sempre pelo esforço e o mérito de valores partilhados. Hoje, por exemplo no futebol, o objetivo principal tornou-se não deixar o adversário fazer golo (e por todos os meios, por exemplo – o antijogo), perdendo o jogo a qualidade desportiva, a sua estética e geometria que me encanta desde pequeno. Mas, e eu também sou adepto, o resultadismo tornou-se o principal objetivo, agravado por esta sofreada busca de dinheiro e negócio de que se revestiu o futebol e tantos outros desportos. A arte deu lugar à indústria. O espetáculo deixou de ser um momento de encontro e de competição e tornou-se uma oportunidade económico-financeira, se necessário for até ao limite: mais jogos, mais competições, mais horas de transmissões televisivas e de debates (a propósito de tudo e de nada). É entretenimento, e quanto mais atraente for o produto, mais procurado será pelos seus consumidores. Já não em nome da glória desportiva, mas essencialmente pelo dinheiro. E os jogadores (não jogadores, pois o machismo persiste) pornograficamente pagos e manietados até à exaustão (até a sua vida privada lhes é roubada – uma jaula dourada). E isto, sabendo nós que o futebol é um negócio relativamente pequeno na economia global, e muito afastado de ombrear com o seu impacto mediático. Mas não quer a A22, um dos poderes financeiros promotor da Superliga, criar uma plataforma streaming (de nome Unify) onde todos os jogos da Superliga serão (ou seriam) transmitidos de forma gratuita aos adeptos?! E a televisão, hoje tão decisiva nos jogos, quer no dia, quer na hora, em que este se poderão realizar, que papel terá no futebol de amanhã?!

Continua…

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