Não bastam cravos, queremos Liberdade
Vivemos tempos de forte contestação social. Educação, saúde, transportes, justiça, prisões, já perdemos a conta aos setores que estão em greve, alguns deles há meses e sem sinais de abrandamento. A instabilidade social surge quando as expectativas são defraudadas e, após os difíceis anos da troika, da pandemia e das promessas de um mundo cor de rosa pelos socialistas, os portugueses hoje sentem-se ludibriados.
Temos piores serviços públicos e pior qualidade de vida. Sem contabilizar os apoios sociais, 4,4 milhões de portugueses, são pobres ou têm rendimentos abaixo do limiar da pobreza, que é o mesmo que dizer que metade da população de Portugal é dependente de apoios sociais. Um país que é incapaz de prover, aos seus cidadãos, condições dignas para se sustentarem com o fruto do seu trabalho, não é um país de Liberdade, é bom que disso tenhamos consciência. Não bastam cravos.
Sou muito pessimista na análise do carácter que quem nos governa e, a minha opinião, é de que este cenário de dependência é estratégia política. Desculpem-me a violência da comparação, mas tal como o proxeneta vicia a prostituta em drogas para a prender, também o poder político faz a população depender do assistencialismo para controlar votos. E quando olhamos para os escândalos da governação, percebemos que não estamos muito longe do bordel.
Muitas das famílias que no tempo da troika foram chamadas a capitalizar o Estado e os bancos, com o resultado do seu trabalho, são as mesmas que hoje são elegíveis para apoios sociais, e isto não é um avanço do Estado, é um retrocesso na vida das famílias. À boleia de uma capa de esquerda, como se ser de esquerda, seja lá o que isso significa, fosse uma característica de bom carácter e de humanismo, temos um governo que gasta mais dinheiro na TAP (por falar em bordel…) do que em políticas de habitação, um direito fundamental e uma das causas do gravíssimo problema de baixa natalidade que, a médio e longo prazo, coloca em risco a sustentabilidade da nação como a conhecemos.
No mês em que celebramos 49 anos de democracia impõe-se o exercício de olhar para trás e perceber como chegamos a este estado de convulsão, instabilidade e desesperança. Como é que um país europeu, no quadro da União Europeia há quase 40 anos, tem metade da população dependente de apoios sociais? Como é possível que um país com as características de Portugal, com paz, segurança, democracia, com um excelente clima, uma cultura rica e um estilo de vida atrativo seja o oitavo país do mundo com mais emigrantes, numa lista onde constam países como a Palestina, a Síria, a Bósnia ou El Salvador (Relatório de Emigração de 2020)?
No mês da Liberdade e chacoalhados pela intensa contestação social que a todos afeta, tenhamos a coragem de perguntar, porque é Portugal incapaz de proporcionar, aos portugueses, condições para que estes possam ter, com o resultado do seu trabalho, uma vida digna no cumprimento daqueles que são os direitos fundamentais do Homem?
Não bastam cravos, é necessário cortar com os atavismos ideológicos de uma classe política que é a mesma há 50 anos, é preciso ser incisivo na demanda pela erradicação dos fatores de exclusão e desigualdade que persistem no nosso país e que, em tantos casos são promovidos por ideologias perversas e más políticas públicas. Não bastam cravos, precisamos reforçar a sociedade civil com um papel mais ativo na política, na economia e na cultura. Não bastam cravos, nem a romântica versão de um 25 de abril que nunca se cumpriu, queremos Liberdade.