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Guimarães: poder socialista vs oposição

Carlos Caneja Amorim
Opinião \ quarta-feira, maio 03, 2023
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E se o concelho de Guimarães fosse governado partindo do projeto autárquico sufragado nas urnas como vencedor, mas calibrado com as propostas com objetivo mérito da oposição ou da sociedade civil?

Inspirados pelo sopro encantatório do poema de Rudyard Kipling “IF”, talvez, por estes dias de abril, não fosse despiciendo imaginar e teorizar uma democracia vimaranense alternativa. E se, em respeito pela sua mítica força vital fundacional e pelo seu génio histórico e industrial, Guimarães quisesse fazer diferente, quisesse fazer melhor que o resto do país em termos de boas práticas democráticas, mormente, no plano autárquico.

Uma pedra angular, qual colosso de Pedralva: nunca prometer amanhãs disruptivos ou castrar mudanças insinuando papões imaginários. Concretizando: assumir que não queremos pautar o nosso projeto coletivo partindo de premissas utópicas nem distópicas, mas, sim, priorizar uma ideia de futuro partindo duma lógica de protopia (conceito criado por Kevin Kelly, editor executivo da revista Wired, que renega o simplismo de uma conceção binária utopia vs distopia, de sociedades perfeitas vs mundos terríficos, e defende que o futuro se constrói no hoje, se constrói num melhoramento paulatino e incremental e não disruptivo).

Concretizando: devemos partir de uma conceção de progresso assente, a um tempo, em pequenos, sólidos e firmes passos. A clássica destrinça entre o curto, médio e longo prazo, em que, no plano do pensamento, o hoje ganha centralidade absoluta e é fundacional de um amanhã substancialmente melhor. Isto, mesclado e doseado com os dizeres de Bernardo Soares, no Livro do Desassossego: “Não tendo uma ideia de futuro, também não temos uma ideia do hoje, porque o hoje, para o homem de ação, não é senão um prólogo do futuro.”

Como nos ensina a história, os putativos grandes saltos em frente normalmente tendem a acabar em tragédia. Avançando: e se o concelho de Guimarães fosse governado e administrado partindo do projeto autárquico sufragado nas urnas como vencedor, mas calibrado com as propostas com objetivo e intrínseco mérito vindo da oposição ou da sociedade civil.

Se, em Guimarães, se acabasse com a má prática da maioria socialista votar sempre contra todas as propostas apresentadas pela oposição, haveria justo orgulho de se dizer que estávamos mais perto de ser um exemplo vivo de uma democracia plena, virtuosa e substancial. Quando se rejeita liminarmente boas propostas apenas e só porque são apresentadas pela oposição, adota-se uma conduta manifestamente antidemocrática, com ostensiva violação do estatuto substantivo da oposição. O que se defende para o anverso, imperativo é no verso: exigem também as boas práticas democráticas que a oposição não critique por criticar e que não se abstenha de elogiar as boas propostas apresentados pelo partido do poder.

O critério de ação de uns e outros deve ser sempre o superior interesse de Guimarães. Repare-se: no passado recente, quando poder e oposição deram as mãos e trabalharam em conjunto, conseguiram-se feitos assinaláveis para Guimarães: Património Mundial e Capital Europeia da Cultura. De forma clara, nesta exígua amostra, o Partido Socialista, estando no poder, liderou e liderou bem, e a oposição deu o apoio entusiástico.

Em sentido contrário, deveria acontecer o mesmo: quando o PSD com insistência, perseverança e tenacidade anda há anos, em absoluta razão e com sentido de urgência, a propor a criação da Agência Municipal para o Investimento, o Partido Socialista deveria dar total apoio a tal propósito. Como o documentam plurais notícias recentes, várias empresas sediadas em Guimarães transferiram a sua atividade para outros concelhos, bem como diversos agentes económicos estrangeiros optaram por investir em concelhos vizinhos e não na nossa terra. Esta agência visa facilitar a vida dos empresários vimaranenses na sua expansão e prática económica e fazer diplomacia económica agressiva competindo com os demais concelhos por atrair para Guimarães projetos empresariais de excelência, com criação de postos de trabalho bem remunerados.

Teríamos todos a ganhar se o poder socialista desse o seu apoio incondicional a esta proposta da oposição. O mesmo sucede, dando só mais um exemplo, com a necessidade de se cancelar a construção da via da Avepark, a qual nada traz de significativo em termos de ganhos para a comunidade e para a economia, sendo, sim, gerador de danos ambientais e sociais de dimensão colossal, no limite do delito ecológico.

Já todos se aperceberam que a continuidade do projeto é um erro histórico e mera teimosia da maioria, a qual devia aderir à posição dos demais partidos e sociedade civil, a qual é frontalmente contra a sua construção. Talvez seja pueril e naïf acreditar que em Guimarães tais boas práticas democráticas possam ser uma realidade. Mas, e se não for…   

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