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Arte pública

Alfredo Oliveira
Opinião \ sexta-feira, maio 12, 2023
© Direitos reservados
Quando se pretende intervir no espaço público e comemorar algo que une um território, com algo de grandes dimensões e que perdurará no tempo, terá de ser algo bem pensado.

Todos os anos, aproveitando o que de melhor Guimarães oferece em termos culturais, somos frequentadores de alguns dos espetáculos do Guidance e do Guimarães Jazz, para salientar somente duas áreas das que nos são proporcionadas.

Percebo muito pouco de dança e o jazz não é a minha área musical de eleição. Essa minha presença serve para me inquietar um pouco, levantar algumas questões e confrontar-me com algumas “certezas” do meu pensamento sobre essas temáticas, que surgem questionadas na troca de opiniões.  

No último espetáculo de Beatriz Batarda, no Centro Cultural Vila Flor, não tinha lido nada nem estava preparado para o que me foi proporcionado. O choque aconteceu e tive de refletir melhor à posteriori sobre o que se passou no palco.

Isto vem a propósito da obra de Dinis Ribeiro, escultor vimaranense, que nos deu a conhecer a sua visão do jovem D. Afonso Henriques, quando se armou cavaleiro na cidade espanhola de Zamora.

A apresentação pública gerou uma onda de controvérsia que nos levou a trazer o assunto para destaque desta edição. Essa representação foi o ponto de partida para se alargar o assunto para a discussão da arte pública na cidade (mais do que no concelho), tendo presente a intenção de Domingos Bragança comemorar os novecentos anos da Batalha de S. Mamede com uma nova estátua do primeiro rei de Portugal.

O nosso imaginário prendeu-se muito à imagem de D. Afonso Henriques criada por Soares dos Reis que foi sendo replicada em diversos suportes e identificada com Guimarães.

O primeiro grande choque surgiu com a nova visão de D. Afonso Henriques por parte de João Cutileiro. A sua inauguração foi envolvida em grande polémica. Com o tempo, quer pela vivência atual quer até pela sua dimensão, será uma das estátuas mais fotografadas na cidade.

São duas visões distintas da mesma realidade. O que nos faz apreciar uma ou outra passa também, como vimos acima, pelo confronto que nos possam colocar, pela inquietação que possam gerar e mesmo por algumas incertezas sobre a nossa realidade construída ao longo da vida.

Quando se pretende intervir no espaço público e comemorar algo que une um território, no caso o “Dia um de Portugal”, com algo de grandes dimensões e que perdurará no tempo, terá de ser algo bem pensado. Tal não significa que resulte de uma unanimidade ou que a própria ideia se concretize como inicialmente idealizada.

Boas leituras.

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