Antes que cá cheguem os baloiços...
Pelas notícias que vão surgindo, apercebemo-nos das iniciativas de várias entidades locais que procedem à instalação de miradouros, baloiços panorâmicos, cadeirões, em locais geograficamente dominantes do seu território, integrados assim num cenário “instagramável”, neologismo para fotogénico. Há várias razões para esta “moda”, que sucedeu à dos passadiços, sendo estes equipamentos mais caros e normalmente implementados por Municípios. Além da tentativa de rentabilização cénica do “monte mais alto da Freguesia”, a colocação de um baloiço é uma obra relativamente barata ou pelo menos acessível a uma pequena autarquia. Faz-se, assim, “obra”, sem grande trabalho, mas de grande impacto social.
Neste assunto, como em muitos outros, criticar não é fácil, porque implica justificar uma posição, para além de um simples “não gosto”. E se o “não gosto” é, por regra, mal aceite, pior é quando se critica de forma fundamentada, porque isso revela as fragilidades de quem promoveu a obra, que rapidamente reage acusando a “arrogância intelectual” do crítico…
Colocar um baloiço no cimo de um monte, convidando as pessoas a subirem ao local, tem implicações evidentes que devem ser bem ponderadas, e que raramente o são. Desde logo, promete-se aos utilizadores a circulação por um espaço natural e impoluto, que muitas vezes não passa de um eucaliptal espontâneo para o qual não existe qualquer plano de regeneração florestal. Depois, o impacto, quer da construção do espaço, quer do aumento de circulação de pessoas, deve ser medido antes da construção do equipamento, por muito pequeno que seja (é também para isto que servem os quadros técnicos das autarquias). Foi neste sentido, aliás, que a Associação Portuguesa para a Conservação da Biodiversidade tomou posição recentemente sobre este assunto.
Legenda: O vale do Ave e a Serra da Cabreira vistos da Citânia de Briteiros
Contudo, além das razões de ordem ecológica, todos sabemos que existem vestígios arqueológicos em grande parte dos montes que rodeiam os vales minhotos. E se, em alguns casos, se suspeita da existência de vestígios, outros há em que essa existência foi comprovada por escavações arqueológicas há décadas atrás. Ninguém parece preocupar-se demasiado pelo estudo e conservação destes vestígios, mesmo quando aparentam um carácter exclusivo, promovendo-se abertamente a frequência de pessoas nesses locais, ignorando a mais-valia que poderia advir da valorização dos vestígios. Vestígios cuja conservação é claramente ameaçada pela circulação regular de pessoas ou de viaturas. Não é por acaso que, feita a desmatação inicial do Castro de Sabroso, em São Lourenço de Sande, a ida ao local é interdita enquanto não se proceder à intervenção de conservação das ruínas arqueológicas e à definição de normas de visita e de segurança.
Posto isto, e enquanto a moda dos baloiços não chega a Guimarães (creio que ainda não chegou), se me perguntassem sobre a colocação dos mesmos, eu diria que sim, mas apenas em espaços já preparados para receber público, como parques, zonas florestais cuidadas ou sítios arqueológicos visitáveis. E mesmo aqui, com uma avaliação dos impactos, posto que não devemos comprometer o património que temos hoje, mas sim preservá-lo, para que ele possa ser fruído também no futuro.