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A propósito de uma conta de vidro...

Gonçalo Cruz
Opinião \ terça-feira, novembro 08, 2022
© Direitos reservados
Desconhece-se, assim, o paradeiro de uma peça única, para a qual não temos paralelos próximos, mas cujo estudo seria hoje relevante.

Depois de aqui termos divulgado a recolha de uma conta de vidro na Citânia de Briteiros, no corrente ano de 2022, não podemos deixar de mencionar um achado similar em Sabroso, há muitas décadas atrás. Corria o ano de 1933 e os meios arqueológicos de então, tendo ainda presentes a descoberta da segunda Pedra Formosa na Citânia, agitavam-se com nova notícia.

Tendo em conta que não decorriam então escavações em Sabroso, talvez a descoberta não tenha sido ocasional, se atentarmos na localização da peça a que nos referimos:

"...pessoa amiga ofereceu-me (...) uma conta de vidro polícromo que acabara de encontrar nas ruínas de Sabroso (...).

Esta conta foi encontrada no terrapleno, na encosta SE do Sabroso, onde está a cisterna (...); estava a uma profundidade de 30cm, aproximadamente, envolta na terra com vários fragmentos de cerâmica que não pertenciam ao mesmo vaso."

Rosas da Silva, Revista de Guimarães, 1934, p. 35 e 37.

A notícia chegou até nós pela mão do engenheiro Rosas da Silva, que procura detalhar o contexto onde a peça foi encontrada, no que aparenta ter sido uma escavação intencional e não uma recolha de superfície. De qualquer modo, a "pessoa amiga" que recolheu a peça, entregou-a a Rosas da Silva, que a depositou no Museu Martins Sarmento. A gravura que figura no artigo que publicou, reproduzida ao longo de décadas nos guias da Citânia e de Sabroso, de Mário Cardozo, e que aqui também reproduzimos, constitui hoje o melhor registo que temos desta conta de vidro.

Gravura de Rosas da Silva, 1934

Trata-se de facto de uma conta excecional, formada por diferentes gomos de pasta vítrea que lhe dão uma base prismática que, por lapidação posterior, ganhava uma forma ovoide. Eram também estes gomos de pasta vítrea que lhe proporcionavam diferentes cores: azul translúcido; branco opaco; vermelho escuro opaco; verde carregado... em sucessivas camadas, qual peça de Murano, em versão antiga, cuja policromia apenas conhecemos das palavras do seu primeiro estudioso.

Sim, porque a peça de que aqui falamos, não terá resistido ao famigerado assalto à SMS decorrido no ano de 1986, no qual desapareceram várias outras contas de vidro antigo. Desconhece-se, assim, o paradeiro de uma peça única, para a qual não temos paralelos próximos, mas cujo estudo seria hoje relevante para o conhecimento sobre o castro, conforme vaticinou, em 1934, Rosas da Silva: "É provável que um dia (...) o exemplar que descrevemos seja dado como valioso para o estabelecimento da cronologia castreja...".

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