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A estranha glorificação de um assassino

Rui Antunes
Opinião \ terça-feira, dezembro 17, 2024
© Direitos reservados
Este é um reflexo de uma sociedade assente num sistema de saúde privado. As necessidades das pessoas são renegadas em nome dos lucros das seguradoras.

A prestação de serviços de saúde tem estado em debate neste e no outro lado do Atlântico. Por cá, discute-se a exclusão dos emigrantes no acesso ao Serviço Nacional de Saúde. Por lá, a falta de acesso generalizado a cuidados de saúde.

Nos Estados Unidos da América, Luigi Mangione assassinou o diretor executivo da UnitedHealth, Brian Thompson, uma das maiores seguradoras e empresas americanas. Esta seguradora recusa um terço dos pedidos de cobertura de assistência e cuidados médicos, enquanto a média das outras seguradores é bastante inferior. Isto traz consequências desastrosas para as vidas das pessoas.

Num país sem serviços públicos, são as seguradoras que assumem parte dos custos dos tratamentos e, quando recusam pagar, as famílias acabam endividadas. Uma pessoa com uma doença grave e complexa, como cancro, cada vez mais comum nas sociedades atuais, pode ser levada à falência. Famílias fazem hipotecas de hipotecas imobiliárias, atravessando dificuldades financeiras durante longos anos, senão até ao fim de vida.

Este assassino está a ser encarado nas redes sociais como um herói. Luigi Mangione está a ser considerado como um justiceiro, que vingou as inúmeras pessoas que morreram sem tratamentos que necessitavam. Embora possa parecer estranho, este é um reflexo de uma sociedade assente num sistema de saúde privado. As pessoas estão entregues às vontades das seguradoras, sendo as suas necessidades muitas vezes renegadas em nome dos lucros e da ganância.

Por isso, cada vez que olhamos para estas situações, devemos agradecer pelo excelente Serviço Nacional de Saúde que temos em Portugal. Apesar dos tempos de espera e da necessidade imperiosa de aumentar o seu financiamento, até para responder a uma população cada vez mais envelhecida, os hospitais e centros de saúde prestam serviços de qualidade a toda a gente.

No entanto, o PSD/CDS quer excluir uma parte dos residentes no acesso a este serviço essencial. Curiosamente, pretendem legislar sem conhecer a realidade, como aliás reconhecem na própria redação do projeto de lei: “não sendo a dimensão da referida realidade ainda cabalmente conhecida”. Mais uma vez, legisla-se com base em suposições e sem qualquer evidência do problema.

Naturalmente, é compreensível que os não residentes em Portugal, e que, portanto, não contribuem com impostos nem para a Segurança Social, sejam excluídos de beneficiar dos serviços públicos. O que já não é admissível é excluir uma parte dos imigrantes que por algum motivo ainda não estão com a sua situação regularizada, apesar de trabalharem e descontarem em Portugal.

Estes imigrantes ilegais ficam numa situação ainda mais fragilizada e de completa desproteção. Os 108 mil imigrantes com vistos recusados pela AIMA, embora sejam considerados ilegais, continuam por cá a trabalhar, uma vez que ainda podem recorrer das decisões. E continuam a poder ficar doentes. E, sendo uma doença infectocontagiosa, tem de receber tratamento urgente, caso contrário estaremos perante um problema de saúde pública. Nem consigo imaginar o que esta proposta significaria em tempos de Covid. Seria um desastre total. Mas já começamos a ficar habituados decisões desastrosas do PSD/CDS.

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