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A concorrência desleal das raspadinhas

Carlos Rui Abreu
Opinião \ sexta-feira, janeiro 17, 2025
© Direitos reservados
Será que os portugueses estão a perder tanto o hábito de leitura que já não conseguem perceber a falta que isso faz?

Há dias, por acaso, dei por mim a presenciar um naco da vida quotidiana que me fez refletir sobre o estado a que chegamos enquanto sociedade.

Pouco antes da hora de almoço estava num espaço comercial que, além de vender jornais, também é agente dos Jogos Santa Casa. Sentado na minha mesa enquanto tomava um chá comecei a ver o corre-corre de pessoas a chegar àquele espaço. “Uma de cinco euros”; “Duas pé de meia”; “Duas de três euros”, um corridinho de pedidos e, num ápice, estava o talão da fortuna raspado. “Mais uma vez não ganhei nada”; “Saíram-me cinco euros mas quero que troque por outra”; e assim sucessivamente.

Enquanto olhava para esta verdadeira peregrinação à sorte grande reparei que, mesmo ao lado do balcão das raspadinhas, estava uma estante com jornais e revistas. Durante a mais de meia hora em que ali permaneci não houve ninguém que comprasse uma revista ou um jornal. Nem me apercebi que lhes tivessem tocado para dar uma vista de olhos.

E a reflexão é mesmo esta. Aquelas dezenas de pessoas que desembolsaram muitos euros para se atirarem para um jogo de sorte ou azar não tiveram disponibilidade para encaminhar um ou dois euros para comprar um jornal. Na estante ignorada estavam jornais nacionais generalistas, desportivos, jornais locais e revistas temáticas sobre os mais diversos assuntos.

Não haveria naquele escaparate nenhum assunto interessante que levasse uma daquelas almas a, por momentos, deixar de comprar uma raspadinha para comprar algo para ler?

Será que os portugueses estão a perder tanto o hábito de leitura que já não conseguem perceber a falta que isso faz? Será que pensam que a espuma dos dias que consomem pela internet é a realidade do que se passa no seu país, na sua cidade, na sua comunidade?

Ou, ao invés, esse desinteresse que as pessoas vão mostrando é culpa dos jornalistas e de quem gere os órgãos de comunicação social que não são capazes de tornar o produto mais apelativo?

Creio tratar-se de um pouco de tudo mas é uma reflexão profunda a que sociedade deve dedicar algum tempo. Uma sociedade desinformada é uma sociedade sem futuro e, por muito que muitos digam o contrário, só os jornalistas têm capacidade para a manter informada.

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