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A cobardia do Governo

Rui Antunes
Opinião \ segunda-feira, setembro 23, 2024
© Direitos reservados
Luis Montenegro opta por adotar o discurso simplista da extrema-direita em vez de apresentar soluções para os problemas estruturais do país

Atravessamos mais uma crise de fogos florestais, que dizimou uma área considerável, principalmente no centro do país. No fim de semana de maior incidência, a ministra da Administração Interna desapareceu. Segundo os autarcas dos concelhos mais afetados, esteve incontactável. Ao contrário de há uns anos, o Presidente da República não demitiu a ministra e presidiu ao Conselho de Ministros. No final, o Primeiro Ministro dá uma conferência de imprensa sem direito a perguntas.

Nessa declaração, Luis Montenegro aponta o dedo aos “interesses que sobrevoam os incêndios”, mas nunca especifica nem esclarece. Como os jornalistas foram impedidos de fazer o seu trabalho, ficam as dúvidas sobre quem ou quais. Vai ainda mais longe, veste a camisola que não é dele e sim do Ministério Público, prometendo “ir atrás” dos incendiários. Acontece que os especialistas desmentem esta tese, e o que o Primeiro Ministro faz é competir com a extrema-direita no discurso populista. Aponta o dedo a um inimigo, apresenta uma solução simples para o problema complexo, e ao mesmo tempo não se sujeita a qualquer escrutínio sobre as políticas públicas florestais.   

As causas para estes fenómenos extremos são muitas. As alterações climáticas fazem com que haja um clima de altas temperaturas, baixa humidade e ventos fortes. Estas condições são propícias para a propagação rápida do fogo, em particular em locais onde o eucalipto é praticamente a única espécie. A liberalização do eucalipto começa no governo do PSD/CDS e continua com os governos PS e, agora, novamente com o PSD/CDS. Atualmente, 10% do território nacional é eucalipto. É impossível ter uma floresta sustentável e resiliente com esta mancha eucaliptal.

Por outro lado, a excessiva litoralização do país levou ao abandono dos territórios do interior. Os outrora pastores e agricultores sabiam como cuidar dos terrenos e protege-los de fenómenos climáticos extremos. Sem incentivos e com uma atividade pouco lucrativa, paulatinamente, foram deslocando-se para as cidades do litoral. Elevada dispersão da propriedade e abandono são, por isso, fatores que também contribuem para uma floresta que acumula ignições e combustível para alimentar fogos de maiores dimensões.

No entanto, apesar destes fatores estarem identificados como os maiores causadores de incêndios, Luis Montenegro é cobarde e opta por adotar o discurso simplista da extrema-direita em vez de apresentar soluções para os problemas estruturais do país. Além de uma gestão política desastrosa, percebeu-se o vazio programático.

Entretanto, tivemos também a confirmação por parte do Ministro dos Negócios Estrangeiros que o navio com bandeira portuguesa leva, efetivamente, explosivos para Israel. Apesar disso, o Governo não tem coragem de retirar a bandeira nacional e condenar esta atividade. Sabemos que estes explosivos vão ser utilizados para matar mulheres e crianças, destruir casas, escolas e hospitais, mas as manchas de sangue nas mãos não incomodam Paulo Rangel. A cobardia para enfrentar um estado terrorista, que trata os princípios democráticos como lixo, seja a vida humana ou a liberdade de imprensa, é imensurável. Portugal deve estar comprometido com o direito internacional e jamais devemos ser cúmplices do genocídio na Palestina.

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