16 de Maio de 1828, uma data (quase) esquecida
A 16 de Maio de 1828, em Aveiro, eclodiu uma revolta liberal que rumou ao Porto com o intuito de iniciar um movimento que poria fim ao reinado de D. Miguel (que havia faltado à sua palavra e rasgado a Carta Constitucional que tinha jurado). De vários pontos do país acorreram ao Porto inúmeros militantes liberais que se associaram à revolta. Uma má articulação entre as forças revolucionárias e os líderes militares e políticos dos liberais pôs fim ao movimento e deu início a uma perseguição brutal por parte dos miguelistas.
Nos meses que se seguiram cerca de 5000 militares envolvidos na revolta e milhares de civis liberais fugiram do país (indo para Espanha, França, Inglaterra ou Brasil). Em diversas cidades ou localidades, as autoridades afectas a D. Miguel lançaram os chamados “autos de devassa”, em que se fazia a lista daquelas pessoas que deveriam ser presas. Em Guimarães foram arrolados mais de 100 nomes (de gente de todas as condições sociais: barbeiros, advogados, caixeiros, negociantes, criados, nobres, alfaiates, ourives, membros do clero, etc).
Estima-se que em Portugal, até 1829, existiram mais de 50 000 pessoas pronunciadas por crimes políticos e milhares de emigrados. É também sabido que durante este processo muitas pessoas foram sentenciadas à morte, executadas arbitrariamente nas prisões e condenadas ao degredo. Várias foram as famílias que viram os seus bens confiscados, perdendo assim o seu sustento. Algumas estimativas apontam para que até ao fim da Guerra Civil (em 1834) tenham passado cerca de 30 000 pessoas pelas cadeias miguelistas.
Os homens que em 1828 se revoltaram contra D. Miguel defendiam muitos dos valores nos quais hoje a esmagadora maioria da população se revê: a Constituição como fonte de Direito, a liberdade individual, a liberdade de expressão e a representação parlamentar. Lutaram por valores que hoje damos como garantidos. Essa luta pagou-se com sangue, com vidas arruinadas e com famílias destruídas. E culminou numa Guerra Civil onde muitos foram forçados combater e em que a morte nunca escolhe lados.
Ultimamente, em Guimarães, tem sido colocada a hipótese de erigir um monumento a Vímara Peres ou uma mais uma estátua de D. Afonso Henriques. Pergunto-me se não seria mais oportuno erigir um monumento aqueles que morreram ou se sacrificaram por muitos dos valores em que hoje acreditamos. Ou, em alternativa, criar um memorial aos mortos da Guerra Civil.