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Vítor Oliveira:"É urgente ressuscitar, fazer renascer, a alma vimaranense!”

Redação
Política \ domingo, outubro 01, 2023
© Direitos reservados
Vítor Oliveira não descarta uma candidatura à Câmara Municipal de Guimarães. Após duas décadas de serviço público, prepara-se para cooperar, a curto prazo, com projetos de dimensão nacional.

Homem forte de sucessivas campanhas eleitorais do PS vimaranense, em entrevista exclusiva a O Conquistador, garante que é do PS mas que gosta “muito mais de Guimarães”, considerando “muito curto e redutor” o arregimentar indiscriminado de filiados artificiais pelo PS que já vai nos “4 mil militantes mas que “não aparecem nos eventos”. Vítor Oliveira considera ainda que Guimarães precisa de “voz” para o exterior, de “aproximar as vilas e freguesias à cidade” e de um projeto voltado para a “primazia do bem comum”. E que é urgente e fundamental ressuscitar, fazer renascer, a alma vimaranense!

ENTREVISTA: José Luís Ribeiro e Esser Jorge Silva
FOTOS: Francisco Ferreira

Neste momento, Guimarães é campeã nacional de desempregados. Qual a origem da perda de dinâmica de Guimarães?

Guimarães, para os concelhos vizinhos, sempre teve fama de ter um tecido empresarial forte, mas atualmente os números do desemprego merecem, na verdade, uma reflexão. Importa criar dinâmicas de proximidade, de colocar os agentes a conversarem entre si, no sentido de promover sinergias capazes de potenciarem a massa existente no nosso concelho. Uma massa empresarial que seja robusta, com capacidade de resiliência e com vontade de liderar mudanças. Acho que esse é o primeiro passo a tomar.

 

É grande a dependência da têxtil e do calçado…

Guimarães assenta a sua parte económica no têxtil e no calçado e, quando se perde poder de compra, esses setores sofrem mais facilmente, comparativamente com setores das necessidades básicas, como a alimentação, por exemplo. Tem de haver grandes medidas de promoção e diversificação da indústria.

Guimarães soube trabalhar bem a sustentabilidade ambiental, a preservação do património e houve uma aposta na cultura, mas temos também de conciliar com a criação de soluções para fixar, captar empresas e atrair investimento para Guimarães, sem perder quem está connosco. 

 

Um longo caminho…

Em tempos idos, havia escassas competências e tradição dos municípios nessa área, a da economia. Hoje, não é assim! Cabe, também, trabalhar para o bem-estar dos nossos concidadãos. Sem emprego e criação de riqueza, não há qualidade de vida, nem felicidade, nem orgulho de comunidade. Muitos empresários e muitas instituições continuam a contactar-me no sentido de ajudar a resolver dificuldades, algumas delas impensáveis e incompreensíveis nos diferentes níveis da Administração Pública! É fundamental desburocratizar e, sobretudo, descomplicar…

Como é possível voltar a colocar Guimarães a competir com Braga em vez de competir com Famalicão?

Não se trata de competir, mas de afirmar a singularidade e a qualidade de Guimarães, de mostrar e demonstrar, sinalizando o que Guimarães tem de bom e é capaz de fazer. E tal só acontece fazendo – mas fazendo bem! – ganhando legitimidade e peso na “voz” para o exterior… Foram mencionados Braga e Famalicão, também podemos falar de Barcelos ou de Viana do Castelo…

 

Existe o Quadrilátero Urbano …

Que deu alguns passos, mas insuficientes no meu ponto de vista! É imperioso olhar para o Minho como um todo, como um centro nevrálgico entre o Porto e a Galiza. E ter em equação tudo o que isso representa! Guimarães pode e deve liderar o desejo de tornar o Minho cada vez mais competitivo, com as universidades, os politécnicos, o tecido associativo envolvido. Todos vão beneficiar.

 

É necessário um novo posicionamento?

Os tempos são de criatividade, empatia e espírito de missão. Tempos de desafio obrigam a esforços maiores, sustentáveis e consistentes. Captar emprego não assenta nos benefícios nem no fator da desburocratização. Estes itens já são dados adquiridos em todos os concelhos. As empresas precisam de espaços de qualidade (boas infraestruturas, boa localização e boa acessibilidade) para se implementarem. Precisam de meios humanos qualificados e felizes. Essa felicidade que atrai os habitantes é o resultado de diversos fatores (educação, cultura, ambiente, habitação…).

 

Rejubilou com a Rotunda de Silvares que, afinal, nada resolveu. Como é possível tal falhanço?

Uma cidade faz-se de forma global e não é perfeita. E, na cidade, tantas vezes, resolvendo um problema, “destapam-se” outras dificuldades. Nem sempre uma grande obra resolve, caso não seja acompanhada por outras pequenas intervenções que podem fazer toda a diferença. Silvares pode ser o caso de nem tudo ter sido perfeitamente executado.

 

Mas continua a ser um problema …

Guimarães ainda vai a tempo de rejubilar! A mobilidade deve ser pensada como um todo, ouvindo inclusivamente os seus utilizadores. Por exemplo, em Silvares, o muro de proteção ao túnel retira grandemente a visibilidade de quem acede à rotunda vindo de Guimarães, obrigando a parar antes de entrar na rotunda, originando um tempo de espera que, muitas vezes, poderia ser evitado se a extensão dessa proteção fosse em gradeamento ou em vidro! Enquanto não é executado o braço rodoviário na Variante de Creixomil, a realização dessa pequena obra iria aumentar a visibilidade dos automobilistas e atenuar um problema que foi abordado a montante da obra…

Quem garante que a via do AvePark não será um falhanço tipo “Rotunda de Silvares” em grande escala? 

Na cidade, nada é garantido. Daí ser tão importante conhecer, monitorizar, avaliar, questionar, refletir, explicar, planear para, assim, tentar antecipar o melhor possível o futuro e o comportamento das pessoas. E, sobretudo, falhar menos e servir melhor!

 

E a via do AvePark?

No lugar da construção de uma via para o AvePark, seria preferível estudar uma solução (alternativa e sustentada) para a criação de uma ligação direta entre a cidade de Guimarães e a Vila das Taipas, uma via que descongestionasse a Estrada Nacional 101. Iria servir mais pessoas e, ao mesmo tempo, aproximava o AvePark.

 

O que está a fazer falta a Guimarães?

Aproximar as vilas e as freguesias do centro da cidade! Nesta altura, um dos principais problemas da nossa sociedade é a questão da mobilidade. Ligar às Taipas é crucial, mas a Pevidém também! E a outras freguesias do concelho de Guimarães onde residam povoamentos industriais, como Moreira de Cónegos, Lordelo ou a área geográfica de São Torcato. Temos de abranger a economia do concelho como um todo e não retalhar ou parcelar investimentos.

 

E além disso ?

É urgente e fundamental ressuscitar, fazer renascer, a alma vimaranense! Quando se herda o Património que Guimarães ostenta, quando se participa na História como Guimarães o faz, quando se tem tanto de bom, faz sempre falta fazer mais e melhor, reduzindo tempo, aumentando qualidade e, assim, chegar a todos! E, como todo o povo temerário, ter coragem de ousar – preservando e valorizando –, mas também transformar e acrescentar…

 

Foi das pessoas mais próximas de Domingos Bragança mas não foi convidado para vereador. Foi por isso que saiu da autarquia?

A motivação dos cargos não faz sentido sem a inserção num projeto (e na sua valia). E, em democracia, ninguém é dono de “lugares e cargos”, nem ninguém tem o poder de determinar “lugares e cargos” antes de se sujeitar a eleições e ser escolhido pela população. Foi o momento de fechar um ciclo e de sair, por opção própria, pela mesma porta que entrei: a cumprimentar sempre todos e de cabeça erguida perante todos!

 

Defina o atual presidente da Câmara numa frase de vinte palavras…

Um presidente que foi eleito a 29 de setembro de 2013, que tomou posse a 12 de outubro desse mesmo ano e que vai terminar funções, por limite de mandatos, depois do verão de 2025. Neste período, há três marcas essenciais: a reabilitação do Teatro Jordão, a elevação de Couros a Património Mundial e o trabalho efetuado para Guimarães ser Capital Verde Europeia. Sou grato e tenho memória.

 

Recentemente, Nelson Felgueiras, vereador, caiu em desgraça por angariar militantes através de via autárquica. Ao mesmo tempo, Ricardo Costa inscrevia centenas de filiados ao passo que Paulo Lopes Silva / Sérgio Castro Rocha faziam o mesmo. Ajude a definir “saco de gatos” na política… 

Como gosto muito de animais, jamais colocaria um gato dentro de um saco! É do domínio público que o PS é a minha família política, mas também todos sabem que não me revejo nisto. É muito curto, muito redutor! Os cidadãos devem ser atraídos para a vida político-partidária pelo propósito e motivação de cuidar, servir ou ajudar.

 

Mas então…

Política, para mim, é encontrar um melhor estado de espírito para a comunidade. Não pode ser o poder pelo poder! Tem de ser apresentado um projeto de serviço e não de poder, mais ainda pelo PS que tem outras responsabilidades em Guimarães há quase quatro décadas. Provavelmente, estão a dar argumentos para que a Nacional avoque o processo de escolha do candidato para as Autárquicas 2025…

 

Isso seria…

A política tem de ser credível e estar credibilizada. Tem, também, de ter a capacidade de atrair novos valores, criar massa crítica e protagonistas para a vida pública. Indiferentemente de ser direita, centro ou esquerda, a expressão dos valores e a primazia do bem comum devem ser encarados como primeiro objetivo, no pressuposto único de servir a causa pública. Para isso, têm de ser criadas condições para que as pessoas possam ver nos partidos políticos oportunidades efetivas de apresentarem as suas ideias, de forma livre, democrática, para que essas mesmas pessoas reconheçam na militância uma forma de transformar a sua freguesia, o seu concelho, a sua região, o seu País.

Ao que parece, o PS de Guimarães trocou a dimensão ideológica pelos interesses dos seus membros. Se fosse líder da concelhia o que faria para mudar o estado das coisas?  

Não sou líder da concelhia. Há um. Terá de ser ele a responder a essa pergunta, não me compete a mim. Mas tenho, naturalmente, a minha opinião. O PS não precisa de uma individualidade. Precisa de envolver a comunidade! Os partidos do poder sofrem, neste momento, de militância doentia. Não faz sentido ter um universo de 4 mil militantes e, depois, não se refletir essa dimensão nos eventos partidários para discutir o futuro! O cidadão comum, que não está nestas lides partidárias, percebe que há qualquer coisa que não está correta.

 

Vê-se como candidato do Partido Socialista à liderança da Câmara de Guimarães ou isso é uma disputa para Ricardo Costa, Paulo Lopes Silva e Sérgio Castro Rocha?

Sou militante desde 1999, sou do PS, mas gosto muito mais de Guimarães! Vejo-me como alguém que pode dar um contributo à sua terra e aos vimaranenses, pela experiência que adquiri de serviço público, com 11 anos de trabalho na Zona de Couros e, depois, 8 na gestão da Presidência da Câmara de Guimarães. São duas décadas de dedicação à causa pública, sempre em espírito de missão. Esse tem de ser sempre o alcance de quem se propõe trabalhar com vontade de contribuir e, sobretudo, defender Guimarães.

 

Ao tornar-se comentador do Porto Canal, este canal televisivo transformou-se num porto de abrigo?

O meu porto de abrigo é o mesmo de há muitos anos: a minha família! O convite do Porto Canal obrigou-me a estar ainda mais atento ao que melhor se faz e àquilo que não se deve fazer! Permite-me conhecer e acompanhar ainda mais de perto as boas práticas na administração pública, mas não só.

 

E pessoalmente?

Tornou-se numa nova experiência, enriquecedora, o que me impulsiona a contribuir sempre com um outro olhar. Comentar obriga a procurar, conhecer, questionar e refletir. Expor o nosso conhecimento é expor-nos aos outros nas nossas qualidades e fragilidades. Por isso, nunca será porto de abrigo, mas antes um porto seguro.

 

Profissionalmente, o que faz atualmente?

Fui convidado por uma multinacional para coordenar a zona norte da empresa e, em breve, terei novidades com um outro projeto de dimensão nacional. Faço voluntariado em três instituições de Guimarães e vou agora iniciar o segundo e último ano do Mestrado em Gestão Autárquica.

 

É uma pessoa de fé?

A fé nasce (ou não) connosco! O que não é muito simpático é começar a ter fé, quando começamos a viver um momento mais aflitivo e, a partir daí, acorrermos a todos os santos! Isso não! Não existe fé, por interesse! A fé é alimentada… A mim, ensinaram-me o caminho para Fátima quando tinha 5/6 anos.

O filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard dizia que “a fé é a mais elevada paixão de todos os homens”. Revejo-me nessa frase! Acredito que podemos fazer a diferença todos os dias, na vida dos que se cruzam connosco.

 

Existe alguma figura da Igreja Católica que mais o tenha marcado e tenha influenciado o seu quotidiano?

Papa Francisco! Em 2015, no Vaticano, no início do cortejo papal, o Santo Padre pegou ao colo na minha filha Maria Manuel, então com três meses. Tínhamos ido a Roma celebrar 10 anos de matrimónio nos 50 anos de sacerdócio do Padre Manuel (Azurém). É algo que nos marcará para todo o sempre. A mim, à Patrícia, ao Santiago e às gerações que se seguirão na família. Pelo ato em si e pelo momento que foi, mas também pelo exemplo de vida, de generosidade e amor que o Papa Francisco transmite à Humanidade…

 

"5 respostas rápidas"
  1. Sugestão gastronómica?

A minhota, especialmente a vimaranense, com o arroz de pica no chão… no topo!

 

  1. Que livro está a ler?

“Governo Local e Administração Pública”, de António F. Tavares.

 

  1. A música que não lhe sai da cabeça?

Atualmente, todas as músicas infantis! A minha pequena Mafalda faz questão… (risos)

    4. Um filme de referência?
“A Vida É Bela”, de Roberto Benigni. 

  1. Passatempo preferido?

Explorar e dar a conhecer Guimarães aos meus amigos, fruir a natureza com a minha família, em tempo de qualidade, sobretudo com os meus filhos, que serão sempre os meus parceiros! E, claro, ver o Vitória, o Moreirense e todos os clubes de Guimarães! A ganhar, de preferência…

[Conteúdo produzido pelo Jornal O Conquistador, publicado em parceria com o Jornal de Guimarães. Entrevista da edição de outubro de 2023 do Jornal O Conquistador.]

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