Na Semana Santa de Sande, tradições com 500 anos:“Dedicação impressionante”
Entre 1 e 9 de abril voltou a cumprir-se a tradição na freguesia de São Martinho de Sande. Depois de três anos de interregno, provocados pela pandemia, as celebrações da Semana Santa, com vários momentos de cariz religioso, voltaram a mover a comunidade – e não só – para dar seguimento ao legado de uma “dedicação impressionante”. Foram nove dias de procissões, eucaristias e outros eventos que deixaram José Lopes, presidente da Confraria do Santíssimo Sacramento, “todo contente” com o envolvimento das pessoas: “Foi fantástico”, atira com entusiasmo.
Um entusiasmo que não esmorece, até porque estamos a falar de tradições que já levam mais de cinco décadas de história. “A confraria celebrou 500 anos em 2015. Já foi um convento, e todo o material que temos em museu, ou em cofre – porque tem valor –, foi recolhido um pouco em todos estes anos; são coisas que os nossos antepassados foram preservando. Algumas peças mais valiosas até estão guardadas”, explica José Lopes, presidente há pouco mais de quatro meses, desde o início do ano. O enquadramento serve precisamente para demonstrar que estamos perante hábitos enraizados na população desta zona a norte do concelho.
“O povo gosta tanto que, ainda estes dias, antes de se realizar o Enterro do Senhor, uma pessoa veio ter comigo e disse-me que tinha um fato novo para estrear nesse momento”, dá conta. “Isto é fantástico. Tem de se dar valor a esta dedicação que as pessoas têm”. Mostras do que significam as celebrações, que levam à superação, como aconteceu na Procissão de Passos – domingo, 02 de abril. “O senhor mais velho da confraria ainda vivo, continua a ter a sua capa: tem uma grande dificuldade em andar, mas toda a semana treinou e conseguiu ir à nossa frente, fez mais de dois quilómetros para participar”, conta o presidente da confraria. “É para se ver a força que as pessoas têm, esta adoração e devoção: “Temos de respeitar”, destaca.
“Padre Mesquita esforçou-se para dar continuidade”
Criada em 1515, a Confraria do Santíssimo Sacramento possui um importante espólio, como já foi referido, sendo esse espólio, apesar de ligado ao passado, um exemplo de vivacidade, pela forma como é encarado. Nem sempre se realizaram as festividades, mas a confraria foi mantendo viva a chama: “O padre Mesquita, que faleceu recentemente, foi muito importante para legalizar a confraria a nível arquidiocesano: empenhou-se em arranjar um grupo de amigos que tratasse disso, e quando faltou gente para tomar conta esforçou-se para arranjar gente capaz de dar continuidade”.
Dar continuidade requer “um trabalho imenso”, admite. Mas isso é compensado com o “orgulho muito grande” de ver “muita gente a participar. “Entre Guimarães e Braga não há exemplo. Porquê? Porque nós temos tudo. Tomara a Braga ter um património como nós temos, como por exemplo as alfaias”, atira. Dá como outro exemplo a Senhora da Conceição, com o “vestido lindíssimo” que nos dias de hoje nem dá para calcular o seu valor.
Em 2019, Hélder Marques submeteu no Orçamento Participativo de Guimarães uma proposta que tinha como objetivos “dar maior visibilidade a uma confraria com mais de 500 anos de existência”, promover a “dinamização da Semana Santa” e ainda trabalhar a “valorização e restauração do seu espólio para possível exposição”. Esta proposta acabou por não ser uma das selecionadas.