“Se a V Sports quiser relançar o projeto inicial, terá a nossa preferência”
Para o candidato da Lista A, o clube vitoriano encara mais um ato eleitoral após três anos de agravamento da situação financeira, após empréstimos que, a seu ver, a banca portuguesa garantiria a juros mais baixos, e um mercado de transferências de janeiro que “deu cabo da equipa”. Com dois grupos investidores em carteira, Luís Cirilo promete dialogar antes com a V Sports, assegurar que o Vitória SC detém sempre 51% do capital, no mínimo, e promete abrir a venda de algumas ações aos sócios.
A nível europeu, o Vitória conseguiu três apuramentos seguidos para a Liga Conferência. A edição em curso parece ter catalisado a janela de transferências com maiores receitas brutas da história do Vitória. Olhando às movimentações de janeiro, considera que o mercado foi positivo ou poderia ter sido ainda melhor?
É evidente que, neste mercado de janeiro, o presidente do Vitória deu cabo da equipa. Neste ano, a grande aposta do Vitória, fruto da trajetória magnífica na Liga Conferência, tinha de ser ir o mais longe possível. Ir o mais longe possível deveria ser pelo menos chegar aos quartos de final da Liga Conferência. Se olharmos ao naipe de adversários, constatamos que há uma equipa temível, que é o Chelsea. Não quer dizer que é imbatível. Naturalmente seria um adversário muito difícil. Depois, há dois adversários fortes, a Fiorentina e o Betis de Sevilha. Todos os outros eram em teoria acessíveis ao Vitória de há dois meses. Se quem está neste momento à frente do Vitória tivesse percebido a importância para o clube de chegar a uma meia-final europeia ou até à final, isso, além da receita financeira importante, permitiria mostrar os grandes jogadores nos grandes palcos. Não tenho dúvidas de que o Alberto Costa foi jogar para a Juventus por causa da Liga Conferência. A grande montra para o Vitória é a Liga Conferência e não o campeonato nacional. E, desejavelmente, a Liga Europa num futuro próximo.
"Com o Astana, na Liga Conferência, rematámos 34 vezes à baliza e marcámos um golo. Não pode ser. A primeira prioridade era contratar um goleador. Andaram a contratar extremos e laterais. Não perceberam o contexto"
Crê então que tantas movimentações vão comprometer o rendimento desportivo no que resta da época?
Não estou contra o Vitória ter chegado agora a janeiro e ter vendido um jogador. Ou dois, no limite. O Vitória tem de fazer receita, como qualquer clube. Agora, saírem sete jogadores, mais os dois que já tinham saído, mais aquele que não quiseram que voltasse. O Manu Silva, que é um bom jogador, não teria objeção a vender. O lugar do Manu Silva estava preenchido. Havia alternativas. O Manu nem sequer começou a época como titular. Com o Tomás Händel a jogar o seu normal, o Manu não joga no lugar do Tomás Händel. O Tomás é um titular indiscutível. Até compreenderia que se tivesse vendido o Alberto Costa, porque temos o Bruno Gaspar, o Maga e o Zé Carlos, que fez as melhores exibições no Vitória como lateral direito. Aceitaria que se tivesse vendido o Manu e o Alberto, embora o Alberto tivesse um potencial brutal. Se tivesse ficado no Vitória até ao fim da época, não só nos ia ajudar muito, como ia valorizar-se bastante. Mas aceitaria se se tivessem contratado alternativas válidas, principalmente o que era essencial contratar e não foi contratado. O futebol ganha-se com golos. Para marcar golos, convém contratar alguém que meta a bolinha lá dentro. Não estou a criticar os avançados que o Vitória tem, mas o Vitória não tem matador. Não pedia um Jeremias, um Paulinho Cascavel, um Tito. Só pedia um Saganowski, um Estupiñán, um jogador que marcasse 15 a 16 golos por época. Com o Astana, na Liga Conferência, rematámos 34 vezes à baliza e marcámos um golo. Não pode ser. A primeira prioridade era contratar um goleador. Andaram a contratar extremos e laterais. Não perceberam o contexto.
Como vê a situação financeira do Vitória. Tem falado que o passivo é maior do que o de há três anos. Parte do passivo deriva de vários empréstimos. Crê que haveria outras vias para não agravar tanto?
Claro que a situação financeira está pior. Há três anos, o passivo era de 46 milhões de euros. Agora é de 72 milhões. Só neste último ano subiu 14 milhões. Parece-me indiscutível que o passivo está muito pior. Naturalmente, isso acarreta compromissos terríveis para o clube. O Vitória tinha de pagar 40 milhões de euros em dezembro e não pagou. Se teria havido outros caminhos, tem de perguntar ao António Miguel Cardoso. Ele é que tinha soluções para tudo. Até tinha uma mirífica almofada financeira que serviria para dar sustentação à equipa de futebol, para não vender jogadores apressadamente. Foi tudo mentira. Não havia almofada financeira. Houve um empréstimo, sim, junto de uma instituição financeira, ao dobro dos juros dessa tal mirífica almofada financeira. Tinha outros caminhos? Tinha, mas não os soube seguir. Foi-lhe dada a solução V Sports. Sabemos como acabou ou, pelo menos, no que é que deu.
A V Sports é um bom parceiro nestes moldes, pode ser um bom parceiro nos moldes inaugurais ou crê que os dois grupos investidores que já anunciou podem dar mais ao Vitória?
Se é ou não um bom parceiro, saberemos depois de ganhar as eleições. A V Sports foi uma empresa contactada ainda no tempo do anterior presidente. Depois, na falta de soluções do atual presidente, foi-lhe apresentada a V Sports pelo anterior presidente. Houve negociações. Todos nos recordamos das palavras do atual presidente a dizer que não havia problema nenhum, que tinha pareceres jurídicos de não sei quantos advogados, de toda a Europa e quiçá do mundo, que não havia incompatibilidades entre o Vitória, o Aston Villa e a V Sports, por causa dos critérios da UEFA para participação nas SAD dos clubes. Foi garantido que não havia problema nenhum. Afinal havia. Tanto havia, que a V Sports teve de retirar os dois administradores do conselho de administração da SAD. O Vitória teve de recomprar uma percentagem de ações que permitiu que ficasse com essa percentagem que hoje tem (67,87%). Neste momento, não há nada com a V Sports, não há nenhuma perspetiva de desenvolvimento de negócio. O presidente em funções disse há tempos que a V Sports não vinha para investir. Então vem para quê? Queremos um parceiro que invista. Vem para quê? Para emprestar dinheiro? Para isso, há aí bancos. Ao juro a que foi buscar esse empréstimo, se calhar até arranjava juros mais baratos na banca portuguesa. Depois das eleições, vamos falar com a V Sports, já que é acionista. Se quiser relançar o projeto inicial e a investir por forma a que o Vitória possa subir qualitativamente o nível da equipa, terão a nossa preferência. Se a V Sports manifestar desinteresse, manifestar vontade de apartar caminhos, teremos de negociar com esses dois grupos que estão disponíveis para comprar a participação da V Sports no Vitória, para ficarem como acionistas minoritários. Para mim, o Vitória ser maioritário na SAD é inegociável. Estão disponíveis a serem parceiros minoritários e a investirem no Vitória por forma a que, na próxima época, possamos ter uma equipa que dê alegrias à massa associativa e ponha o Vitória num patamar que é o dele.
“Vou cumprir uma promessa que o António Miguel Cardoso fez e falhou. Comprometeu-se até dezembro de 2023 a disponibilizar um pequeno lote de ações para os sócios do Vitória quisessem comprar. Prometeu, mas não cumpriu. Vou cumprir. Haverá um pequeno lote de ações”
A percentagem desse parceiro minoritário pode ir até aos 46% que a V Sports inicialmente deteve?
Até aos 46% não irá, porque vou cumprir uma promessa que o António Miguel Cardoso fez e falhou. Ele comprometeu-se até dezembro de 2023 a disponibilizar um pequeno lote de ações para os sócios do Vitória que não são acionistas e quisessem comprar ações. Prometeu, mas não cumpriu. Vou cumprir. Haverá um pequeno lote de ações. Infelizmente, a procura nunca foi elevada desde o início da SAD, nem pelos vitorianos, nem pelas empresas da região. É preciso que se diga que o Vitória teve de recorrer ao senhor Mário Ferreira. Penso que até 40% poderá ser disponibilizado. O Vitória continuará a ter 51%, e o resto, desejavelmente, além dos 4% que pertencem a pequenos acionistas, conseguimos um lote praticamente igual para quem quiser ser acionista. É bom que haja mais adeptos e mais associados a serem acionistas da SAD.
Olhando à forma como surgiu no Vitória, a SAD não fez assim tanta diferença assim na forma como o clube tem sido estruturado ao longo da última década?
É uma opinião que só me vincula a mim e não os meus colegas de direção: em geral, os clubes portugueses são muito pior geridos em SAD do que enquanto clubes. Não vejo nenhuma SAD dar lucro. Olhamos para os chamados “grandes” e vemos os colossais passivos e prejuízos que têm. As SAD não vieram trazer nada. Foram criadas para dar mais transparência à gestão dos clubes, para imporem determinados critérios ao funcionamento dos clubes. Sinceramente, não vejo nenhum clube a funcionar melhor. Até vejo clubes históricos do nosso futebol que, através das SAD, caíram na miséria e na ruína, como o Vitória Futebol Clube, de Setúbal. A SAD geriu muito mal o clube.