skipToMain
ASSINAR
LOJA ONLINE
SIGA-NOS
Guimarães
22 novembro 2024
tempo
18˚C
Nuvens dispersas
Min: 17
Max: 19
20,376 km/h

Prestes a ser visitada, a Torre da Alfândega vai acrescentar “mais cidade”

Bruno José Ferreira
Cultura \ sexta-feira, março 29, 2024
© Direitos reservados
Em breve um dos símbolos de Guimarães, e da nacionalidade, será o novo elemento do roteiro turístico vimaranense, mas não só: também ali se tenta promover a valorização cultural através do património.

Simbolismo. Património. Cultura. Turismo. A empreitada de refuncionalização da Torre da Alfândega – a única sobrevivente das seis torres da muralha que cercava o núcleo medieval de Guimarães – “está a chegar à fase final”. A breve trecho será possível penetrar numa das entranhas do velho burgo através de um percurso expositivo no qual será possível interpretar a evolução deste património edificado, assim como a sua importância para a cidade, podendo-se, ao mesmo tempo, usufruir de um elevador panorâmico de subida até ao terraço, contemplando-se daí as vistas sobre a cidade. Constituirá “um elemento que vai acrescentar mais cidade” a Guimarães, está em crer Paulo Lopes Silva, vereador com os pelouros da cultura e do turismo.

Orçado em sensivelmente 1,5 milhões de euros – com financiamento de 85% através da candidatura “15 anos de Guimarães Património Mundial: valorização e conservação do património” – este projeto é fruto de um trajeto que dura há vários anos, com a polémica que envolveu a propriedade do edifício, assim como a sua acessibilidade, alertou Torcato Ribeiro, na altura vereador da CDU, em reunião de câmara em 2016. O imbróglio ultrapassou-se e há a expetativa de que esse local de identidade portuguesa e vimaranense, onde está inscrita a icónica frase “Aqui Nasceu Portugal”, possa vir a introduzir um “acréscimo significativo” aos locais habituais de fruição de turistas, e não só, pela cidade.

Até aqui chegar, a empreitada – iniciada em setembro de 2022 com o prazo de execução de um ano – sofreu atrasos e contratempos, além da chuva que, em determinadas alturas, se fez sentir e atrasou a obra. “Por questões de segurança do edifício, foi necessário efetuar a revisão da estrutura inicialmente prevista e, consequentemente, o projeto de arquitetura e restantes especialidades”, dá conta Margarida Morais. A arquiteta da Câmara Municipal acrescenta que “através da caixa de escadas em ferro é mantido um percurso ao longo dos pisos, que permite uma interpretação diferenciada, piso a piso”.

 

“Monumento Nacional implica intervenção de uma equipa multidisciplinar”

As escoras começam a abandonar a torre que outrora serviu de posto de entrada no casco medieval vimaranense. A estrutura metálica tem já a forma definida e, do terraço, alguns privilegiados contemplaram a vista que se ergue sobre alguns dos mais emblemáticos espaços de Guimarães. “Um elemento que será muito importante e um atrativo daquele local, as vistas sobre a cidade”, sublinha Paulo Lopes Silva, lembrando que, a partir desde “ponto elevado”, será possível apreciar “a sala de visitas da cidade, o Toural, ou a Avenida D. Afonso Henriques de uma vista que até agora não estava disponível”.

Intervencionar um património desta valia, “dado ser classificado como Monumento Nacional, implicou a intervenção de uma equipa multidisciplinar com a intervenção de várias áreas”, - arquitetura, arqueologia, conservação e restauro, estabilidade, instalações prediais, eletricidade, telecomunicações, segurança, entre outros. Dado o valor histórico da Torre da Alfândega, a arqueologia revestiu-se de particular importância. “Os trabalhos visam identificar, registar e interpretar todos os elementos existentes da torre da muralha, muitos dos quais se desconheciam no início da obra, referentes ao seu processo de construção e uso, desde a Idade Média até aos dias de hoje”, assinala Paula Ramalho.

A arqueóloga do município é uma das responsáveis pelo desenvolvimento do projeto de “interpretação” do espaço, no qual “se espera dar a conhecer a estrutura ao longo das diferentes funções que foi desempenhando desde a Idade Média, até à forma como foi absorvida pela massa construída em tempos mais atuais”. A produção do conteúdo do centro interpretativo está “ainda em curso”, complementa Margarida Morais, contextualizando que, conforme “se vai desenvolvendo o processo de reabilitação da torre”, vão surgindo “elementos novos que não se encontravam visíveis”.

 

“Um novo elemento que acrescentará mais cidade”

O município não se compromete, ainda, com uma data para que a Torre da Alfândega abra ao público. A obra está, então, na “fase final”, sendo que haverá “um momento de abertura à cidade” no qual Paulo Lopes Silva deposita “muita expetativa”, para que depois, acredita, este novo monumento venha “acrescentar ao circuito turístico de visitação patrimonial de Guimarães um novo elemento que acrescentará mais cidade”. “Ajudará a valorizar outras partes da cidade”, perspetiva o vereador, que vê na Torre da Alfândega um elemento capaz de alargar a visita típica – Castelo de Guimarães, Paço dos Duques e Centro Histórico –, levando as pessoas, não só turistas, até ao Largo do Toural e à Alameda de São Dâmaso. Pode até ser uma eventual ponte para Couros, área recentemente classificada como Património Mundial pela UNESCO.  

Foi feito um “trabalho de preocupação de valorização patrimonial” que se desdobra numa multiplicidade de vertentes que saem valorizadas para lá do turismo. “Faz-se a preservação da estrutura base da torre, de forma a permitir a visitação” e ao mesmo tempo, valoriza-se “a dimensão patrimonial e histórica que esses elementos têm”, juntamente com o seu simbolismo. “É um dos elementos mais distintivos da cidade de Guimarães”, atira o vereador Paulo Lopes Silva.

Depois de perder a sua função inicial, de defesa, a muralha foi desmantelada, em parte. A Torre da Alfândega sofreu mutações, parte das pedras foi retirada, mas parte deste edificado que remonta ao século XIII chegou aos dias de hoje. A inscrição Aqui Nasceu Portugal, colocada pela primeira vez possivelmente em 1970 com tábuas e lâmpadas para saudar os visitantes das Gualterianas, mais de cinco décadas depois é uma das referências de Guimarães e símbolo da nacionalidade. Em breve, o interior da torre poderá ser conhecido e apreciado.

Podcast Jornal de Guimarães
Episódio mais recente: O Que Faltava #83