Paulo Netto: os lápis e marcadores que dão vida à folha em branco
Formou-se em design e deixa-se soltar criativamente no desenho e na ilustração. Há uma banda desenhada na forja.
A qualquer momento pode tropeçar por Paulo Netto numa qualquer rua do Centro Histórico de Guimarães. Sereno, traça por entre a multidão um recanto da cidade com o seu lápis. Dá vida à folha branca com o marcador, “muito em preto e amarelo”, com pessoas. Vivência: é isso que o ilustrador natural de Tomar, mas radicado em Guimarães, gosta de expressar através da sua arte. Começou a desenhar aos 13 anos, inspirado pelo presente de uma tia. “Ofereceu-me um volume encadernado de uma revista Tintim, que existia. Vi que havia miúdos da minha idade a mandar para lá desenhos. Comecei a mandar também. Eram publicados, e ficou o bichinho”.
Um bichinho que perdura, mantendo-se até aos dias de hoje. Cedo percebeu que seria difícil viver desta arte, especializando-se em áreas como o design, design gráfico e edição de fotografia, entre outros. “Vi uma maneira de me safar com o desenho. Numa era em que estavam a aparecer os computadores, pensei fazer um curso. Fiz um na Suíça de dois anos e um de um ano em Itália”, dá conta ao Jornal de Guimarães. Com vários prémios de design quer em França quer na Suíça, a primeira oportunidade de trabalhar “nesta área de nicho e para a qual em Portugal ainda não há muita sensibilidade” até surgiu quando era empregado de mesa na Suíça.
Relembra com sorrisos o dia em que o dono de uma agência de publicidade e design perguntou no restaurante em que trabalhava quem era o responsável pelas “brincadeiras” que Paulo lá fazia. “Perguntou-me se não gostava de trabalhar numa agência de publicidade”, relembra. A reposta foi um “adorava”; bateu depois à porta com a pasta dos desenhos debaixo do braço. Seguiram-se experiências noutros locais, desenvolvendo atualmente o seu trabalho numa empresa francesa com escritório em Braga que se dedica essencialmente ao web design.
“Aquele bocadinho é meu, duas horas por dia tenho de desenhar”
Para lá do trabalho, diz, tem de se dedicar à ilustração “duas horas por dia”. “Aquele bocadinho é meu”, atira. Por norma, vai tendo encomendas, um retrato ou outro, uma rua ou ponto específico de Guimarães. “Já vendi umas trinta cópias deste trabalho do Castelo de Guimarães”, diz, apontando para uma enorme ilustração sobre a folha A3.
Quando não tem encomendas é quando se sente mais livre. Deixa-se levar pela imaginação. Está a desenvolver uma banda desenhada: “A sociedade de hoje em Guimarães” e tem como sonho fazer a ilustração do romance “Esteiros”, de Soeiro Pereira Gomes. Enquanto isso, diverte-se com o urban sketching, participando em encontros ou simples combinações com amigos, para desenhar na rua: Turquia, Egipto, Qatar ou França são alguns dos destinos por onde já passou. Costuma andar por aí, no Porto ou em Guimarães.