O “transversal” CAAA faz dez anos. E continua a ser “um sítio de inícios”
Na zona da Caldeiroa, numa antiga fábrica têxtil tornada centro cultural, nunca se “encerraram as coisas em caixinhas” – ao invés, a última década tem servido para mostrar que, na arte, “está tudo interligado”. Há “complementaridade”, discussão, transversalidade e colaboração: linhas mestras que o CAAA – Centro para os Assuntos da Arte e Arquitetura seguiu desde que ali se fixou. Maria Luís Neiva recorda a “felicidade” de ter realizado, em outubro de 2011, algo “idealizado” há anos: ver nascer em Guimarães um espaço que sempre primou pelo ecletismo. “É um sítio de inícios”, resume a programadora.
Por ali, imperou a necessidade de “mostrar que a arte não se pode isolar”. “O processo artístico é completamente transversal. Um artista vai buscar inspiração a imensas coisas”, diz Maria Luís Neiva, arquiteta e membro fundador do CAAA, responsável por impulsionar uma programação eclética nos últimos dez anos: “Um dos objetivos sempre foi trabalhar de fora para dentro”.
E como se faz isso? Com a ajuda de uma equipa multidisciplinar: o CAAA foi cofundado por gente ligada ao cinema, música, fotografia, arquitetura, artes plásticas ou design, que vai alimentando o espaço com ideias. “Tenho sempre a preocupação de pedir uma opinião a estas pessoas. E depois recebo propostas de artistas que por vezes nem conheço ou que são recomendados. Se sentir que aquilo faz sentido no nosso espaço e que está em harmonia com o nosso conceito, eu agarro”. E isso “tem funcionado bem”. “É um dos nossos objetivos: apoiar artistas que ainda estão no início da carreira, que não conseguem ainda ir para galerias comerciais”.
Um balão a encher devagar
Mas se é verdade que nestes dez anos o talento emergente tem preenchido as galerias do CAAA, também houve lugar para artistas consolidados – uma mostra recente de José Barrias, com curadoria de Paula Pinto, por exemplo. Até ao final do ano, vai estar patente uma exposição documental de Ursula Zangger, fotógrafa que acompanhou o percurso de artistas portugueses que se refugiaram em França para fugir à longa noite que ensombrou Portugal durante mais de 40 anos; ela assinala o fim de mais um ano de cultura no espaço idealizado por Ricardo Areias, diretor do CAAA. “Nasceu na cabeça dele”, vinca Maria Luís. “Eu juntei-me à ideia porque achei importante para a cidade, para nós e para os artistas com quem estávamos em contacto”. Indissociável da Capital Europeia da Cultura de 2012, a instituição cultural sem fins lucrativos teve de se readaptar a um paradigma diferente a partir de 2013. “Foi um ano muito dramático para toda a gente em Guimarães, e para nós também. Houve um vazio. Passavam-se meses em que ninguém entrava nas galerias. As pessoas começaram a dispersar um pouco”.
Agora, “continua a ser uma luta”, mas o balão que se esvaziou em 2013 vai enchendo. “O público de 2012 não é o público do dia a dia. Tivemos que reaprender”, resume. E essa aprendizagem também se faz aproximando a instituição dos públicos mais novos.
No âmbito do Bairro C, o CAAA está a trabalhar com o Centro Internacional de Artes José de Guimarães e com a Escola de Artes Visuais da UMinho no “Projeto Triangular” - envolver a comunidade é, “mais do que nunca, importante”, pontua Maria Luís Neiva.
“O objetivo passa por trazer os alunos aos nossos espaços quando os artistas vêm montar a exposição para fomentar o contacto. O público forma-se desde pequeno”, reitera. Nestes contactos, os mais novos também “percebem como funciona na realidade” e recebem pistas para o futuro. Dez anos volvidos, o CAAA continua “um sítio de inícios”.