"O Primeiro": um retrato de Afonso Henriques que vai além da História
Manhas e rumores, influências de Lusíadas e Pregões, revelações, glória, humor. D. Afonso Henriques é assim ilustrado por Paulo César Gonçalves, em O Primeiro, um livro de poesia que será apresentado a 24 de junho em Guimarães, às 11h28, na livraria-café Rimas e Tabuadas.
São páginas e páginas de outra visão além da glorificada daquele que foi o primeiro rei de Portugal. “É glorificado, mas é também posto a nu as falhas dele, que são falhas muito humanas. Foi corajoso e foi um arquiteto de um país novo, mas para se fazer um país novo era preciso ser manhoso.”, sublinha o autor da obra.
Nos primeiros anos de primária sentiu-se fascinado por algo que nenhuma outra criança tão precocemente tende a fascinar-se – personalidades da História - no caso, uma das mais importantes e emblemáticas de Portugal e, sobretudo, Guimarães.
Foi ao assistir às Danças de São Nicolau que o autor do livro conheceu uma figura a fazer-se passar por aquele que viria a ser, mais tarde, o protagonista da sua obra e que lhe soube transmitir carisma e um sentido de humor apurado - um lado diferente do que os livros de História apresentam do rei. O fascínio manteve-se ao longo dos tempos, o que o fez dedicar-se durante 10 anos à pesquisa e a cerca de 400 rascunhos de informação, para obter o resultado destes 33 textos.
Em vez de apenas lisonjear, ao longo de três capítulos, o autor explora este ícone vimaranense de uma forma que julga não ter sido explorada e que, quer se goste ou não do que divulga, figura o rei - uma personagem que Paulo César Gonçalves assume como contraditória. “Ele era capaz do muito bom e do muito mau. Costumo comparar D. Afonso Henriques como uma fortaleza com brechas. Sabe a estátua do João Cutileiro? Há muita gente que não gosta, que até chama calhau, eu acho que é uma representação genial porque ele era de facto uma fortaleza com falhas e brechas, se fosse preciso recorrer à traição e mentira ele fá-lo-ia.”, conta.
O que podemos esperar, então, de O Primeiro? O livro tem uma base histórica, como a história de D. Afonso Henriques é habitualmente documentada, mas dá ênfase à parte mitológica, da figura de D. Afonso Henriques para lá do homem e guerreiro. Paulo César Gonçalves gosta de pensar que a parte simbólica de D. Afonso Henriques está em torno dos rumores que se criaram. “Reza a lenda, que quando ele prendeu a mãe no Castelo de Lanhoso, a mãe lançou-lhe uma maldição: “quem com ferros me prende, com ferros há de ser castigado”. E ele mais tarde tentou conquistar uma praça em Badajoz e por ter sido traído, em fuga bateu com o joelho no ferrolho do portão de Badajoz e foi aprisionado. Há quem afirme que o ferro que lhe deu no joelho foi a maldição.”
Visionário, intrépido, ardiloso, um destemido mata-mouros, aos olhos de uns. Aos olhos de Paulo César Gonçalves, um homem que montou um império, nomeou mulheres para cargos políticos, provou estar à frente do tempo e era capaz de tudo. Uma história ilustre que viverá ad aeternum.