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O futsal feminino é que “padece”: GTeam só tem uma equipa de formação

Bruno José Ferreira
Desporto \ terça-feira, fevereiro 27, 2024
© Direitos reservados
Apesar de ser o único clube com formação certificada na prática feminina da modalidade, a GTeam vê cada vez mais meninas partir para outras latitudes. “Futuro em causa” na formação do clube.

A formação feminina de futsal pode estar em vias de extinção em Guimarães. A GTeam – Guimarães Football Club, clube pioneiro no concelho no que a esta oferta diz respeito, atravessa um “período de reflexão”, depois de uma quebra abrupta de jovens meninas futsalistas. Fundada pelos professores José Fidalgo Martins e Pedro Ferreira, em 2013, a GTeam conta apenas com uma equipa de formação na presente temporada, e o número de praticantes está muito longe daquele que já teve no passado: chegaram a ser 60 jogadoras em todos os escalões.

Às 9h30 de sábado – horário de um dos treinos –, um grupo de sensivelmente doze meninas dos nove aos 14 anos agrupa-se no Pavilhão da Universidade do Minho para mais uma sessão. Misturam-se atletas que poderiam competir em diferentes escalões, nomeadamente traquinas, benjamins e infantis, por forma a montar um grupo. Diana Rodrigues é jogadora de futsal da ACDR Nespereira e está a completar o Grau 1 do Curso de Treinador de Futsal. A atleta cumpre o estágio inerente a essa graduação ao integrar a equipa técnica responsável por aquelas pequenas craques.

“Nota-se que algumas jogadoras estão num nível superior a outras, o que é natural, pois algumas estão aqui há mais tempo. Outras miúdas estão cá a ter contacto com o futsal pelo primeiro ano”, clarifica Diana. Um trabalho de maior exigência, portanto, para a equipa técnica formada por quatro elementos. “Tentamos dar às mais novas as bases da modalidade, não atrasando o desenvolvimento de quem está acima. No fundo, ainda que em situações diferentes, colocamo-las todas ao mesmo nível, fazendo com que os treinos sejam apelativos e estejam motivadas”. O balanço destes cinco meses de trabalho é “positivo”, na medida em que, neste escalão, o que “mais importa é a evolução das atletas ao longo da época”. É “satisfatório ver a evolução delas ao longo da época”.

 

“Apenas um clube veio buscar-nos quase uma equipa toda”

José Fidalgo Martins é o principal rosto de uma coletividade que recentemente completou uma década de existência. Treinador da equipa sénior, foi um dos fundadores e continua na presidência. Mais do que um clube, que não tem instalações, por exemplo, traçou as bases daquilo que não havia em Guimarães: oferta para e jogar à bola no feminino. O clube prosperou e captou interessadas, mas “vários fatores” inverteram essa tendência. O “contexto desportivo” é um dos fatores apontados por José Fidalgo Martins, que sublinha também a “cada vez maior oferta” de vários clubes que têm equipas de futebol no feminino.

“Está muito relacionado com a dificuldade de captação das miúdas dos 13, 14 e 15 anos. Até aqui captávamos mais miúdas dessa faixa etária do que propriamente as mais pequenas. Mesmo antes, com juvenis e juniores, já estávamos com muita dificuldade em captar atletas dessas idades”, começa por explicar. Depois, há a tal questão da oferta, que muitas vezes até está “perto de casa”, não só de futsal, mas essencialmente de futebol.  “Temos a saída de muitas miúdas para o futebol e para outras equipas de futsal”, esclarece, dando um caso concreto: “Apenas um clube, o Nun’Álvares, foi buscar as miúdas a quase todas as equipas e está a jogar praticamente sozinho no campeonato”. O caso foi público, sendo referente a uma das principais equipas nacionais da modalidade; o Nun’Álvares, de Fafe, recrutou várias atletas na GTeam, com abordagens ainda antes da última época acabar; de forma “pouco ética”, “veio buscar-nos quase uma equipa toda”, lamenta o treinador e dirigente.

Num “período de reflexão”, José Fidalgo Martins admite que “o futuro do clube a nível de formação” está em causa. “É uma pergunta de 500 milhões” perspetivar o futuro: “Este ano as dificuldades são grandes. Já vêm da época passada. Esta equipa de benjamins tem potencial para ter continuidade, é possível voltar a crescer, mas o futuro do clube vai depender muito da continuidade deste grupo. Se houver continuidade e adesão de novas jogadoras, poderá haver futuro, se não coloca-se em causa o futuro do clube a nível de formação”, esclarece.

Formação certificada com três estrelas: “É importante, mas não é compensador”

Mesmo no contexto descrito, a GTeam é o único clube de Guimarães certificado pela Federação Portuguesa de Futebol como Entidade Formadora no que à prática feminina do futsal diz respeito. E é um dos três projetos de formação credenciados no concelho, a par do do Vitória SC e do Tabuadelo, esses dois no futebol. A certificação trata-se de “um processo complexo” e “muito burocrático”, esclarece José Fidalgo Martins, mas ao mesmo tempo algo “natural” na GTeam, já que vários dos requisitos estavam preenchidos pela forma de trabalhar do clube: “Já tínhamos a formação, não tivemos de inventar equipas; já tínhamos treinadores certificados, não tivemos de andar a ir buscar para ter a quota mínima; já utilizávamos instalações com os requisitos, sala médica e DAE – Desfibrilador Automático Externo”.

Ao colocar os pesos na balança, José Fidalgo Martins sustenta que “se calhar, este trabalho acaba por não compensar”. “Foi-se arrastando a questão e nunca foi obrigatório ter formação certificada para se competir nos escalões mais elevados. E também no que diz respeito a reconhecimento pelo trabalho desenvolvido, acaba por não ter grandes efeitos”, nota o presidente do clube que, desde a sua fundação, se habituou a andar com a casa às costas. As seniores jogam em Lordelo, enquanto a equipa de formação recorre ao Inatel, ao lado do Estádio D. Afonso Henriques, com treinos na Universidade do Minho pelo meio.

Apaixonada pela modalidade, Diana Rodrigues olha para o que está a acontecer com um misto de sentimentos. “É um pouco ingrato”, afirma a praticante de futsal e treinador das benjamins da GTeam, que vai vendo o futsal para meninas padecer entre a transformação que se está a viver. “Fico muito satisfeita com o crescimento do futebol feminino, mas tem atraído mais atletas para a modalidade devido aos nomes dos clubes. Um Vitória tem muito mais peso do que uma GTeam. É bom, é o feminino a crescer, mas o futsal padece com isso”, conclui.

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