O festival END é início para o teatro fora do lugar e para pensar utopias
Sexta edição, seis dias e uma miríade de propostas, desde uma conferência-performance no Pequeno Auditório do Centro Cultural Vila Flor (CCVF) à mesa redonda sobre os desafios do ensino da dramaturgia em Portugal, no campus de Azurém da Universidade do Minho: o Encontro de Novas Dramaturgias reparte-se por Guimarães e por Coimbra, mantendo-se a Norte entre 18 e 20 de março, antes de rumar à cidade banhada pelo Mondego para um programa de mais três dias, no Teatro Académico Gil Vicente e no Museu Machado de Castro. “É um festival que permite mostrar e pensar o que pode ser a dramaturgia. A dramaturgia é escrever para teatro, a composição de um texto, mas também pode ser uma disciplina que pode ajudar o encenador, o dramaturgo, na construção de sentido”, descreve Mickaël de Oliveira, diretor artístico do Teatro Oficina e um dos diretores do Colectivo 84, estrutura que organiza o festival.
Depois de uma quinta edição transposta para livro, em 2021, ainda durante a pandemia de covid-19, o END regressa com propostas em lugares pouco convencionais, desde logo o Estádio D. Afonso Henriques. Às 12h00 desta segunda-feira, Relva Esfola Menos, de Bruno dos Reis, apresenta uma reflexão sobre “a responsabilidade e necessidade que existe em subir a palcos, sejam teatrais, desportivos”, dando início a um rol de propostas que inclui Manjar, uma cartografia de Tiago Cadete relativa aos efeitos da colonização portuguesa na gastronomia dos países africanos de língua oficial portuguesa, Lugar X, de Catarina Vieira, Preâmbulo para Dykes on Ice, de Sónia Baptista, A peça que falta, de Luís Araújo, ou [O Sistema], espetáculo de Cristina Planas Leitão, que será apresentado no Grande Auditório Francisca Abreu, na quarta-feira à noite, a encerrar a passagem do festival por Guimarães.
Pelo meio, Diego Bragà propõe quatro oficinas de dramaturgia, iniciadas no sábado e disponíveis até terça-feira, relacionadas com a criação A gente na boate sofre, criação que vai ser apresentada numa leitura encenada em 19 de março, terça-feira, a partir das 18h30, na sala de ensaios do CCVF. A autora luso-brasileira apresenta também o espetáculo Super Puta no café-concerto do CCVF, às 23h00 desse mesmo dia.
Ao leme de “um festival que destaca a escrita e a construção de sentidos”, Mickaël de Oliveira destaca os vários textos inéditos apresentados e a muita programação paralela. “Damos os espaços iniciais para os artistas criarem a sua dramaturgia, para escreverem. É um espaço de descoberta com uma programação paralela. Seminários, debates, oficinas. Acolhemos neste programa de emancipação alunos e professores de dança e teatro do país, de universidades, e escolas profissionais. É um meeting point da dramaturgia com as escolas, com os alunos”, vinca o responsável.
“Pensar mundos futuros onde nos possamos sentir melhor”
Sem a certeza de que as dramaturgias que hoje emergem são muito diferentes das de há 15 anos, mas com a certeza que são muito diferentes das de há 50 anos, o encenador e dramaturgo realça ainda que cada projeto artístico mostrado no END é uma construção de “uma utopia, de um imaginário, de um risco”.
“Há uma relação com a questão da utopia, que é o que queremos no futuro e escrevê-lo agora. E também com as distopias. O END também pensa um pouco a nossa sociedade, o que fazemos nela e mundos futuros onde nos possamos sentir melhor. Cada projeto é um grito de liberdade, uma afirmação da estética como ética e de algo novo. Vamos partir para aqui para perceber que lado do mundo podemos expandir”, conclui.