No gabinete ou na escola, o Bússola está cá para ajudar a comunidade LGBTQI
“Já era uma vontade com alguns anos”. Ao psicólogo Carlos Oliveira foram chegando relatos de jovens e adultos da comunidade LGBTQI da região que apontavam para “dificuldades” no contacto com os serviços de saúde: atendimento distante, que contribuía para uma sentimento de incompreensão. Acrescia ao acompanhamento “frágil” a ausência de respostas especializadas na região do Ave. “Foi para tentar fazer algo que não existia" que foi criado o “Bússola”, um projeto da Casa do Povo de Fermentões (CPF) - Caminho para o Futuro para apoiar pessoas da comunidade.
“Acabei por perceber que, não existindo uma resposta nas imediações de Guimarães, também mais dificilmente se abordam estes temas. Nem nas escolas, nem nos serviços de saúde, nem nas IPSS. Ninguém o fazia numa lógica de prevenção, no sentido de dar uma resposta especializada, no sentido de dizer que estamos por cá se alguém precisar”, explica Carlos Oliveira.
Psicólogo de formação, com "interesse no desenvolvimento humano", Carlos encabeça o projeto que já leva mais de três meses de portas abertas. Para já, “tem correspondido às expetativas”, mesmo não havendo muita “procura direta”, algumas situações e “um caso em acompanhamento continuado” são prova de que há razão de ser do Bússola, um projeto "inovador e pioneiro" – o “contexto conservador da região” também pode fazer com que a procura de serviços seja mais complicada”, pontua Carlos.
O trabalho também se faz longe do gabinete e incide “nas escolas e ao nível de formação e capacitação de professores e agentes educativos”. “Vamos começar para a semana na Egas Moniz, em turmas do 3.º ciclo, com programas de bullying e questões LGBTQI”, enquadra.
Aliados que “lutam pela mesma causa”
No terreno procuram-se sinergias e o trabalho faz-se também através do diálogo com “aliados” numa luta “pela mesma causa”: igualdade. O Bússola já estabeleceu contactos com a Associação de Defesa dos Direitos Humanos de Guimarães ou com a Associação Académica da Universidade do Minho, que entregou flyers aos novos alunos da Universidade do Minho.
O projeto vai ainda tentar reunir-se com o Grupo de Apoio a Pessoas Queer, um movimento recente que quer servir de porto de abrigo a pessoas LGBTQI de concelhos como Guimarães, Vila Nova de Famalicão ou Vizela. “É malta jovem com vontade de agitar e mudar, muito ativistas, com ideias interessantes. Começam a surgir aliados e movimentos que podem criar aqui alguma agitação na comunidade”.
Estas organizações são também um pequeno passo para o movimento extravasar fronteiras concelhias e “estender-se”. “Criar ecos”, sintetiza. “É um tema que é difícil de se falar nesta região e as pessoas ainda questionam o que poderá ser”.
“Estamos todos a trabalhar em prol de uma sociedade mais justa e inclusiva. E tem de se começar por algum lado”, resume Carlos. Na Casa do Povo de Fermentões, os primeiros passos estão dados. Todas as questões podem ser esclarecidas mais facilmente, graças ao Bússola: o gabinete estará a atender todas as quartas-feiras, das 14H00 as 19H00, com mais informações através das redes sociais da CPF (@somoscpf), por e-mail bussola@somoscpf.pt, ou pelo número 915 986 853.