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“Não vejo tantas boas contratações nos últimos anos por outros clubes”

Redação
Desporto \ domingo, fevereiro 16, 2025
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António Miguel Cardoso rejeita que o Vitória olhe apenas para o jogador português, até por dispor de um scouting atento a todos os mercados. Relação com V Sports é para continuar, mantendo autonomia.

O candidato da Lista B afirma que os próximos relatórios e contas vão mostrar a inversão em curso do panorama financeiro da SAD, rumo a uma situação financeira mais desafogada. António Miguel Cardoso diz ainda que a V Sports tem ajudado o Vitória em todas as dimensões. Caso seja reeleito, afirma que a prioridade para o futuro próximo é continuar “a investir com racionalidade”, sem abdicar da autonomia na política desportiva. Diz que é também um “milagre” a administração ter conseguido manter as expetativas desportivas dos sócios após três anos de dificuldades.

 

Quão crucial foi a Liga Conferência para a maior receita de sempre do Vitória em mercados de transferências? Seria possível fazer sequer metade do valor sem a prestação europeia?

Não. Sempre dissemos que era importante, entrando no Vitória com o passivo que tínhamos e percebendo que as receitas televisivas não iriam entrar, fazer milagres para que um clube que já vinha com um orçamento de cerca de 28 milhões todos os anos, sem receitas televisivas e sem Conference League. Só vendendo jogadores, poderíamos gerir o Vitória. Tínhamos duas estratégias: uma era cortar em tudo. Se tivéssemos feito isso, não teríamos objetivos desportivos, nem alcançado o que alcançámos. Provavelmente já nem estaríamos aqui. Tivemos de investir de forma arriscada. As coisas não se invertem de um dia para o outro. Para inverter uma empresa que está a afundar, tínhamos duas hipóteses: ou cortávamos e estaríamos lá em baixo, ou recuperávamos lentamente para que isto crescesse. É o que estamos a fazer. Estamos a inverter. Isso será visível nas próximas contas e nos próximos anos. A partir do momento em que temos um recorde de pontos e, no mercado, não temos a força que achávamos que teríamos, percebemos que, em termos domésticos, podemos fazer um recorde, mas não temos a visibilidade para os nossos ativos. Neste ano, apostámos tudo em preservar os melhores ativos para fazer uma campanha na Europa que permitisse alavancar o clube. Infelizmente, tivemos de vender ativos em janeiro. Ainda bem para o futuro do clube. Estamos aqui para o restruturar.

 

Para colmatar as vagas abertas pelas saídas, o Vitória contratou jogadores conhecedores do campeonato. Tem sido um padrão nestes seus três anos à frente do clube. O recrutamento de proximidade dá garantias de melhores resultados?

Estas eleições estão a permitir uma avaliação do trabalho feito. Não devo ter problemas em assumi-lo: a taxa de contratações do Vitória nos últimos três anos, em termos de qualidade, em termos médios, é muito alta. Não vejo, muito sinceramente, tanta positividade e tantas boas contratações nos últimos anos por outros clubes. A assertividade foi enorme. Se ajuda ser o jogador português, ajuda. Se estarem adaptados a Portugal ajuda? Também. Mas não contratamos só em Portugal. Nem estamos obcecados com o jogador português. É importante contratar no mercado global. Mas quem conhece o Vitória e está melhor adaptado tanto melhor. Mantemos a prudência. Investir também é importante: temos o caso do Beni. Por vezes, as coisas não correm bem, mas achámos que deveríamos investir.

 

“Para inverter uma empresa que está a afundar, tínhamos duas hipóteses: ou cortávamos e estaríamos lá em baixo, ou recuperávamos lentamente para que isto crescesse. É o que estamos a fazer. Estamos a inverter. Isso será visível nas próximas contas e nos próximos anos”

 

No seu programa apresentado aos sócios em 2022, mencionava também a relevância de apostar no mercado internacional, até para atrair jogadores com menores custos. Essa aposta poderia ter sido mais desenvolvida neste mandato? O que o impediu?

A nível de scouting e do departamento estratégico do Vitória, temos a noção de todo o mercado a nível global, das oportunidades que existem em mercados periféricos, de jogadores de qualidade que aparecem na 2.ª Divisão francesa, na 3.ª Divisão francesa, nos campeonatos colombianos, nos campeonatos equatorianos, nos campeonatos brasileiros. Estamos em cima disso. No momento de decidir, temos de perceber também que existe o contexto português e ajustar por onde devemos ir. Temos um scouting que trabalha todos os mercados.

 

O Vitória encaminha-se para o exercício com maior receita de sempre. Que reflexos financeiros vai ter no clube e na SAD? No último exercício, a SAD tinha capitais próprios negativos de 31 milhões de euros. É um número que indicia grandes dificuldades. Esta época é o ponto de viragem a nível financeiro?

Quando estamos a caminhar para o abismo, não há ninguém que consiga alterar esse rumo de um dia para o outro. É impossível. Quando se fala que tivemos contas negativas, por acaso no primeiro ano até tivemos contas positivas. No primeiro ano, tivemos uma série de vendas de ativos. Estamos numa mudança. Se com este tipo de gestão, o Vitória vai crescer e expandir, não temos dúvidas. Agora, as coisas têm de ser feitas com calma. Vamos ter contas históricas, mas queremos continuar a investir com racionalidade, que o clube continue a crescer de forma sustentada. Não vejo luz verde, não respiramos muito melhor, mas as coisas estão diferentes.

 

“Na parte desportiva, não queremos ser um clube satélite de ninguém. Temos de continuar a ter a nossa autonomia. Isso tem custos. Os custos são os de manter uma gestão ponderada e equilibrada. Não podemos entrar em loucuras. Neste momento, prefiro um caminho mais lento, mas onde temos autonomia nas decisões desportivas”

 

O bloqueio do acordo com a V Sports atrasou o crescimento do Vitória? Crê que o futebol estaria a competir a outro nível caso a parceria tivesse ido avante nos moldes iniciais, com esse consórcio a deter 46% da SAD? Há margem para a parceria voltar a esses moldes?

A experiência destes três anos diz-me que a entrada da V Sports foi essencial. O Vitória, clube, não tinha hipótese de comprar as ações ao Mário Ferreira, tal como se tinha comprometido. Corríamos um risco muito grande até de perda da maioria do capital. Temos um parceiro que tem estado connosco em todas as áreas. É minoritário, mas, nos momentos importantes, esteve ao nosso lado nestes três anos. É importante ter um parceiro ao nosso lado que nos ajude a negociar taxas de empréstimo, que nos ajude nos planos de restruturação como estamos a fazer agora. Na parte desportiva, não queremos ser um clube satélite de ninguém. Temos de continuar a ter a nossa autonomia. Isso tem custos. Os custos são os de manter uma gestão ponderada e equilibrada. Não podemos entrar em loucuras. Neste momento, prefiro um caminho mais lento, mas onde temos autonomia nas decisões desportivas, do que outro caminho. Não faltam investidores a quererem tomar conta do Vitória, mas querem ter a maioria. É difícil trabalhar desta forma, a competir com clubes detidos por privados, com mais dinheiro e soluções. É difícil competir com eles, mas é a nossa forma de estar.

 

O seu concorrente, Luís Cirilo, tem sublinhado com frequência o aumento do passivo no seu mandato. Concorda? A evolução dessa rubrica no seu mandato tem moldes semelhantes à do mandato de Pinto Lisboa ou o atual valor resulta de circunstâncias diferentes?

No ano passado, as coisas foram o que foram. Tivemos aquele “grande negócio” com o FC Porto que nos prejudicou nas contas e continua a prejudicar nas amortizações. Ainda se vai refletir nos próximos relatórios e contas. Foi a maior compra de um jogador pelo Vitória. Outra área tem a ver com os juros a que temos de recorrer para pagar as contas. Não temos receitas. Temos feito vários empréstimos e adiantamentos. Como é possível pagarmos orçamentos de 28 milhões? Sem ter receitas, como é possível pagá-los? As pessoas têm de perceber o que estamos a fazer, as dificuldades pelas quais passamos e digo mesmo o “milagre” que foi feito aqui. Também tivemos sorte, mas houve um grande trabalho da administração ao permitir que o clube, mesmo numa situação tão difícil, tenha criado expetativas e ilusão aos sócios quanto à parte desportiva. Os próximos relatórios e contas vão mostrar a inversão que está a ser feita.

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