Manta deu palco a “um modo menos formal de ver as artes”
Os mais de 300 espetadores presentes no Grande Auditório do Centro Cultural Vila Flor (CCVF) levantaram-se para dançar aquela que parecia ser a última canção de Nancy Vieira, intérprete que se aventura pelo património musical de Cabo Verde.
Findas as notas provenientes da sua voz e das guitarras que a acompanhavam, a plateia brindou-a com uma demorada salva de palmas enquanto deixava o palco. Havia, contudo, tempo para mais uma canção: “Dona Morna”, uma homenagem a Cesária Évora, peça intimista que convidava à contemplação e, por isso, a uma plateia sentada. O público assim o fez antes de se levantar para uma segunda e derradeira salva de palmas. “A Nancy fez levantar a plateia, as pessoas dançaram e tudo se desformatou. Há esse contágio de ver as artes de um modo menos formal, mais descontraído e cruzado”, vinca Rui Torrinha, diretor artístico da cooperativa A Oficina para as artes performativas.
Assim se deu o epílogo do Manta de 2023, uma edição que se repartiu pelos jardins exteriores, na sexta-feira, e pelo Grande Auditório Francisca Abreu, no sábado. A própria dinâmica dos concertos pareceu adaptar-se aos espaços. Na sexta-feira, a “energia superlativa” de Lura convidou as pessoas a agitarem-se numa noite dançável ao ar livre, que contou ainda com Tristany. No sábado, Aline Frazão, uma das mais reconhecidas intérpretes de Angola, e Nancy Vieira ofereceram “concertos mais intimistas”, num convite à “beleza da viagem interior”, mas com janelas para a celebração. “Apesar de os concertos terem sido intimistas, a parte final terminou em celebração e em festejo. É importante celebrar a vida”, prossegue o responsável.
Para Rui Torrinha, o mais recente Manta foi um exemplo da “beleza imensa que resulta do cruzamento de influências” e das próprias mudanças de Guimarães em termos sociológicos, refletidas na cultura e nas artes. “Sentimos a abertura do público, uma recetividade forte. É sinal forte de uma vivência que sentimos ser caminho a fazer”, vinca.
A abertura a olhares artísticos de outras latitudes promete ser norma na recém-iniciada temporada cultural, sugere ainda Rui Torrinha. E as configurações dos espetáculos também se podem alterar. “A evolução dos programas artísticos em Guimarães tem a ver não só com a natureza da programação, mas também com as configurações, a forma como essa experiência é montada. Há uma possibilidade de abrir relações para outros formatos”, diz, quando se aproxima a comemoração do 18.º aniversário do CCVF, com a coreografia “Cascas d’ovo”, de Jonas & Lander (15 de setembro), o espetáculo que reúne o compositor Gabriel Prokofiev e a Orquestra de Guimarães (16 de setembro), o concerto de Pedro Mafama (17 de setembro) e a estreia de “Palco Principal”, nova peça do coletivo SillySeason.