Na Plataforma das Artes, a poesia foi íntima e coletiva, Minha… e de todos
Em Portugal há oito meses, Dai, artista brasileira oriunda de Minas Gerais, apresentou três poemas no Minha Poetry Slam, o primeiro campeonato de poesia falada realizado em solo vimaranense, no sábado. Na primeira ronda e na semifinal, ainda envoltas pelo entardecer que se abatia sobre o Centro Internacional das Artes José de Guimarães e as fachadas do antigo mercado, declamou textos com origem num processo artístico trabalhado no país natal e “maturado por cinco a seis anos”.
Quando, à noite, subiu ao palco como finalista, as palavras encadearam-se para o testemunho de uma pessoa que se sente a desaparecer, escrito “muito mais rapidamente, no sábado à noite anterior”. A performance acabou no meio do público e viria a dar-lhe a vitória os três concorrentes sujeitos ao último veredicto do júri. “O último texto saiu da minha experiência de oito meses em Lisboa. Esta questão do desaparecimento tem a ver com uma mudança muito brusca, muito radical”, confessa a artista ao Jornal de Guimarães, depois de terminado o evento.
A diversidade foi um dos tónicos do concurso de poesia falada: ouviram-se versos de intervenção política, deambulações filosóficas a passo de rima ou recortes do quotidiano íntimo, brasileiros e portugueses, performers já experimentados na arte do slam e aqueles que o fizeram pela primeira vez, como Dai. Na primeira oportunidade para explorar os sons e os ritmos da poesia em público, a artista mineira vagueou pelo seu íntimo. E fê-lo, porque “quanto mais íntimo”, “mais coletivo” um fenómeno pode ser.
“Um amigo meu diz-me que quando um artista está falando as suas coisas para o mundo está apontando. É uma coisa íntima e coletiva. Escrevi sobre mim, mas isso reflete-se no outro. O que escrevi tem a ver com as minhas vivências”, justifica.
Convencida de que a poesia a pode ajudar “a expandir um trabalho artístico mais autoral”, em contraponto à “atriz de grupo” a que se habituara, Dai mostrou-se ainda agradada com o espírito do Minha Poetry Slam, uma competição que não o parecia. “Não senti isso ao longo do evento. Estávamos todos juntos a assistir. E o público foi muito generoso”, realça.
“O que o slam tem de mais bonito é a participação e a democratização”
Terminado o primeiro campeonato de poesia falada do Minho, Manuelle Bezerra de Mello exibia um sorriso correspondente à “grande alegria” que dizia sentir com o que viu na Plataforma das Artes. “Foi incrível. Tivemos público sempre presente, a participar no processo. Aquilo que o slam tem de mais bonito é a participação e a democratização”, realçou ao Jornal de Guimarães uma das ideólogas e organizadoras do evento, a par de Hannah Bastos, escritora também residente em Guimarães, e de Caroline Bampa, produtora cultural que candidatou o projeto à open call do Bairro C.
Para Manuela Bezerra de Mello, a poesia falada é uma resposta à ideia de que “a poesia e a literatura são algo de muito distante, até quase impossível de aceder”. “O slam torna tudo mais intimista, participativo e democrático”, realça.
A diversidade de pessoas e de temas literários – “pessoas que falaram de amor, pessoas que falaram das próprias dores, pessoas que falaram de política” – é outra das dimensões que a organizadora enaltece numa iniciativa que constitui “oportunidade para se celebrar a literatura, a diversidade e a democracia”.
O Minha Poetry Slam contou ainda com um workshop de palavra falada, com Maria Giulia Pinheiro, a apresentadora do concurso, e fechou o DJ Set Patisol.