Moreirense envia Vizela para a Segunda Liga com fogo de artifício de Ofori
A noite chuvosa era de contrastes após o último apito no Estádio Comendador Joaquim de Almeida Freitas: os sentimentos expressos por cada um dos lados coincidiam com o rendimento exibido ao longo da temporada 2023/24. De um lado, jogadores e adeptos das hostes verdes e brancas comungavam da alegria de estarem cada vez mais próximos de repetir a melhor classificação de sempre do Moreirense FC na Primeira Liga e de bater o recorde pontual de 52 pontos; faltam três para o igualar.
Mas não eram esses os únicos motivos para o ambiente de festa que se sentia no ar: entre os cânticos celebratórios, havia também palavras dirigidas ao clube adversário, o Vizela, que acabara de descer matematicamente à Segunda Liga após três épocas consecutivas na elite. A alegria coabitava com a desilusão, com o desalento e com o desagrado provindo das dezenas de adeptos azuis localizados no topo superior daquele tapete verde.
Coube ao Moreirense o privilégio de despachar o rival e vizinho rumo ao segundo escalão, assinalado com fogo de artifício. O golo de Ofori fez toda a diferença. E que golo: a mais de 30 metros da baliza, um dos grandes destaques deste Moreirense 2023/24 acertou em cheio no ângulo superior direito. Estava assim carimbado um triunfo justo, que até pecou por escasso, face às ocasiões desperdiçadas pelos cónegos.
Rui Borges deu apenas dois retoques a uma equipa que manteve a fórmula atacante de Portimão – Luis Asué encostado a uma ala e Matheus Aiás no eixo do ataque. Dinis Pinto regressou ao lado direito da defesa e Gonçalo Franco ao miolo para um duelo em que os momentos de equilíbrio coabitaram com as inúmeras clareiras na retaguarda do Vizela, exploradas pela turma de Moreira de Cónegos para criar os lances mais perigosos da primeira metade.
O minuto quatro é perfeito exemplo do contraste entre a equipa treinada por Rubén de la Barrera e outros emblemas na luta pela manutenção que passaram por Moreira de Cónegos: Samu perdeu a bola para Matheus Aiás quando tentava iniciar um ataque organizado no seu meio‐campo, e Luis Asué isolou João Camacho. Com tempo e espaço para bater Ruberto, o extremo madeirense rematou para defesa do guardião italiano.
O lance foi uma amostra do que se viu até ao intervalo, pese os largos minutos de equilíbrio, com disputas no setor intermédio e as tentativas de ambas as equipas para subirem no terreno com critério na construção. Depois de uma troca de remates de longe entre Domingos Quina e Luis Asué, chegou o tiro de meia distância para ofuscar todos os outros ensaios que se viram ao longo de 90 e uns quantos minutos: Ofori controlou a bola a mais de 30 metros da baliza na ressaca de um canto, deu duas passadas para o centro do terreno e inspirou‐se para um remate de belo efeito, a fugir do centro para o ângulo superior direito que deixou Ruberto pregado ao chão; tamanha foi a beleza do golo que Camacho simulou engraxar a bota do médio ganês.
Recuar e voltar a desperdiçar
Inaugurado o marcador, o Vizela chamou mais a si as despesas do jogo. Como consequência, aqueles espaços que já se viam entre a linha defensiva e a intermédia dos azuis tornaram‐se ainda mais evidentes. Na hora do ataque rápido, desenhos bem simples significavam oportunidades clamorosas para o Moreirense… invariavelmente desperdiçadas. Assim aconteceu ao minuto 31, com Matheus Aiás, e aos 40, com Luis Asué. Foi preciso esperar pelos derradeiros instantes da primeira parte para um calafrio percorrer a defensiva cónega: solto junto à pequena área, Tomás Silva atirou à malha lateral.
O Vizela melhorou após o intervalo e o Moreirense recuou, talvez à espera do contra‐ataque para desferir o golpe de misericórdia. Os comandados de Rubén de la Barrera giraram melhor a bola com vista a criarem o espaço para Lebedenko cruzar na esquerda: assim aconteceu ao minuto 51, quando o ucraniano cruzou para Essende. O dianteiro francês saltou em frente à baliza, mas cabeceou na direção de Caio Secco, que afastou a bola para canto com uma defesa vistosa.
A qualidade do encontro decaiu; até ao minuto x, não houve nenhuma oportunidade tão boa quanto a do melhor marcador vizelense. Mesmo recuado, o Moreirense nunca perdeu verdadeiramente o controlo do desafio. E as substituições foram bálsamo para a equipa voltar a respirar mais esticada no terreno, ao contrário das do emblema azul, que nada acrescentaram.
O jogo terminou como começou, aliás: com o Moreirense a desperdiçar ocasiões de golo. Alanzinho estava sozinho aos 83 minutos e cabeceou muito ao lado. Aos 90, Antonisse falhou de forma ainda mais clamorosa: em frente à baliza, com Ruberto já em esforço para tentar chegar a tempo de defender a bola, Antonisse atirou muito ao lado.