Luz, tecnologia e movimento para antecipar “um sítio melhor”: eis Glimmer
“Um híbrido entre a música, a performance, o vídeo, a instalação, a iluminação e a dança”, Glimmer está em circulação desde 02 de fevereiro, com a estreia no Teatro Aveirense, e transporta para o palco o mais recente álbum dos Micro Audio Waves, reconhecida banda da música eletrónica portuguesa. Mas o espetáculo agendado para as 21h30, no Centro Cultural Vila Flor (CCVF), é bem mais do que um concerto numa digressão.
O Grande Auditório Francisca Abreu será testemunho de uma criação artística fermentada ao longo de três meses, pelo quarteto, pela bailarina e coreógrafa Gaya de Medeiros e pelo bailarino e coreógrafo Rui Horta. Apesar de ser “muito exigente do ponto de vista conceptual”, cruzando artes performativas e música, essa é uma obra com “uma mensagem clara”: a de que algo melhor está por vir. “Acreditamos que o futuro vai ser um sítio bom, melhor do que agora. Vivemos hoje um tempo suspenso, em que não está fácil, mas a história da humanidade foi assim sempre. O futuro é um lugar de transcendência”, descreve o coreógrafo, depois de várias aparições na cidade-berço, nomeadamente no GUIdance, com obras como Vespa, Humanário ou Beautiful People, essa última com a companhia Dançando com a Diferença.
A noite de sábado trata-se de um regresso, na verdade. Coproduzido pelo CCVF, o espetáculo esteve a ser preparado na fábrica ASA em janeiro; a antiga fábrica têxtil garantia a escala necessária para um momento artístico de “complexidade técnica”, com uma tela movida por quatro motores, a projetar imagens do princípio ao fim, criações digitais e cinematográficas, luzes controladas por computador, em tempo real, e um “software para sincronizar tudo”. “Tem sido uma grande aventura. Para nós, foi muito importante este apoio do CCVF, porque foi o nosso coprodutor principal. Conseguimos estar na Fábrica ASA um mês inteiro a trabalhar, e isso foi essencial para conseguirmos fazer esta obra, muito complexa”, vinca Rui Horta.
“O ser humano está no centro”
Com bilhetes a um custo unitário de 10 euros, o espetáculo reaviva a colaboração entre Rui Horta e o quarteto formado pela vocalista e letrista Cláudia Efe, pelo guitarrista Flak – reconhecido, por exemplo, pelo trabalho nos Rádio Macau -, pelo baixista Chico Rebelo, também membro dos Orelha Negra, e pelo teclista Carlos Morgado, que se dera em 2009, aquando do lançamento do álbum Zoetrope. Gaya de Medeiros é o novo rosto do processo criativo, depois de passagens pelo GUIdance, nas edições de 2023 – BaqUE -, e de 2024, com Atlas da Boca. “A Cláudia é uma intérprete incrível. E uma poeta. A Gaya é mágica no palco. Consegue criar a cola entre isto tudo. E temos três músicos históricos, o Flak, o Francisco Rebelo e o Carlos Morgado”, resume o antigo diretor artístico d’O Espaço do Tempo, incumbido de colocar essa “quadrilha na mesma direção”, de dar “um sentido à complexidade”.
Embora a tecnologia sobressaia, ainda para mais quando projeta um futuro onde as máquinas até podem ser “mais inteligentes do que os seres humanos” e “mais criativas, quem sabe”, o artista realça que Gilmmer é uma evocação de um paradigma em que o ser humano está centro. “Não pensamos o futuro só como uma ferramenta tecnológica mecânica, mas como uma ferramenta tecnológica onde o ser humano está no centro, encontrando-se com a estranheza do outro, diferente de nós, com a natureza, que é abusada a cada dia que passa”, assinala. A centelha que vai perpassar pelo CCVF espera deixar rasto para “uma postura diferente, mais colaborativa, de encontro, de empatia”, atesta.