JpG exige financiamento do Estado para o CIAJG. Executivo está a negociar
Zero: o mais redondo dos números é também aquele que cabe em sorte ao Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG), quando se trata de financiamento do Estado. Inaugurado em plena Capital Europeia da Cultura, a 24 de junho de 2012, o equipamento só recebeu uma comparticipação estatal por uma vez, em 2018, no valor de 300 mil euros.
Essa realidade difere da dos outros equipamentos criados no âmbito das CEC: o Centro Cultural de Belém, originado em Lisboa 1994, recebe cerca de 22 milhões de euros anuais do Estado, por ano, e a Casa da Música, referência do Porto 2001, alcança os 10 milhões anuais, divulgou o vereador municipal com o pelouro da Cultura, Paulo Lopes Silva, presente no debate de quarta-feira sobre o centro de artes, “Um museu na cidade”.
Tal como o responsável socialista, também o social-democrata Ricardo Araújo, da coligação Juntos por Guimarães (JpG), assistiu a essa discussão, levando-a esta quinta-feira para a reunião de Câmara. Para o vereador, é hora de dizer “basta” para com a ausência de verbas.
"Foi o projeto principal da Capital Europeia da Cultura 2012. Guimarães merece um financiamento ao CIAJG. Guimarães não pode continuar a ser discriminada. Estamos inteiramente ao lado de quem dê um murro na mesa”, vincou.
Convencido de que a Câmara também mostrou “um desnorte em relação ao posicionamento do CIAJG” durante “muitos anos”, algo que se traduz num “número de visitantes baixo” – 7.700 em 2018. "Perdemos muito tempo com ziguezagues. Os equipamentos existem para serem visitados e usufruídos. É preciso de uma vez por todas um plano estratégico”, acrescentou.
“Negociações” com a DG-Artes. 1,5 milhões anuais é o objetivo
Paulo Lopes Silva adiantou que o plano municipal estratégico para a cultura vai ser apresentado na terça-feira, em articulação com o investigador Manuel Gama, do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, da Universidade do Minho, e defendeu que o CIAJG precisa de mais financiamento.
O município estabelece como ideal a fasquia de 1,5 milhões de euros anuais em dinheiro a receber do Estado, mesmo que esse valor tenha de ser negociado, como já está a acontecer, com a Direção-Geral das Artes. “Há uma negociação em curso com a DG-Artes, que têm em conta a especificidade da Oficina, instituição que gere uma rede de equipamentos”, disse.
Garantido um financiamento anual de 200 mil euros ao Centro Cultural Vila Flor para os próximos quatro anos, depois de a Oficina ter apresentado a “segunda melhor candidatura” no concurso de apoio à programação da Rede de Teatros e Cineteatros Portugueses, a Câmara também espera garantir apoio para o CIAJG, entidade que, neste momento, conta com 170 mil euros anuais para programação, verba à qual se acrescentam as despesas de índole técnica – o orçamento anual da Oficina ronda os quatro milhões de euros.
O vereador confirmou ainda o pedido de uma audiência com o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, elogiou o “trabalho de proximidade com a comunidade” da curadora-geral do CIAJG, Marta Mestre, e reiterou o crescente papel do espaço como “alavanca de criação para o território”, em articulação com a Escola de Arquitetura, Arte e Design da UMinho, reconhecendo, porém, que são precisos mais visitantes. "Nunca podemos ser alheios ao número de público. A arte é feita para ser consumida e generalizada, havendo, contudo, outras análises a fazer”, realçou.
A (in)visibilidade dos painéis digitais
A propósito do tema, Domingos Bragança adiantou que o ministro da Cultura mais disponível para ajudar o CIAJG foi Luís Filipe Castro Mendes, titular da pasta entre abril de 2016 e outubro de 2018. O então governante sugeriu até a cedência de espólio do Estado, muitas vezes guardado em reservas, que pudesse alimentar as exposições temporárias, complementares à exposição permanente de José de Guimarães.
O presidente da Câmara defendeu ainda a instalação de um painel digital visível para a Avenida Conde de Margaride, informando os transeuntes de tudo o que está para acontecer em Guimarães, e de outros dois noutros pontos da cidade, pese as “resistências” que vai encontrando numa cidade repleta de património imóvel classificado. "Devemos compatibilizar a contemporaneidade com a história", disse.