Vereador Hugo Ribeiro pede mais atenção da Câmara para o setor têxtil
Eleito pela coligação Juntos por Guimarães para o executivo municipal, Hugo Ribeiro vincou que a indústria têxtil em Guimarães já superou várias “certidões de óbito”, emitidas nas décadas de 80 e 90 do século XX e também no início do século XXI, e que tem espaço para competir a nível mundial, quando está a desenvolver mecanismos para reduzir a sua marca poluente e se antecipa uma quebra da produção descartável em massa, que, segundo diz, provém mais da Ásia, onde os processos são menos regulados. Pede, por isso, que a Câmara Municipal de Guimarães e o Governo prestem mais atenção ao setor num ano marcado por encerramentos, lay-off e aumento do desemprego.
“Quantas empresas têxteis há no nosso concelho. Quantas empresas estão em dificuldades?”, inquiriu o vereador do PSD, dirigido ao presidente da Câmara Municipal de Guimarães, Domingos Bragança. “Abandonadas ao seu destino, as maiores empresas resistirão. As outras correm o risco de fechar. Quando as encomendas voltarem, as grandes vão precisar das pequenas e não as vão ter. Vão ter de contratar fora”, acrescentou, durante a reunião descentralizada do executivo, decorrida na empresa Pinto Brasil, em Guardizela, a propósito da iniciativa “Economia - Inovação & Fábrica do Futuro”.
Apesar da quebra da procura, Hugo Ribeiro defende que o “encurtamento das cadeias logísticas” e a tendência crescente para a regulação de produtos descartáveis é uma oportunidade para Guimarães fazer valer a qualidade dos seus produtos, ainda para mais quando estão em marcha vários processos para tornar mais sustentável uma indústria poluente.
Para o Hugo Ribeiro, o “conhecimento científico, o saber de ponta e a cultura ancestral” da indústria têxtil em Guimarães, com raízes anteriores à mecanização, com a Fábrica do Castanheiro, em 1884, são uma garantia de futuro. “Quando se tem uma população dedicada a um setor durante tanto tempo, é difícil de reproduzir o que ela faz. O têxtil está-nos no ADN. Foi esta cultura que salvou a indústria”, prosseguiu.
O vereador social-democrata realça ainda que o futuro passa pela sensorização dos processos, por reduzir consumo de água e energia e pela robotização de processos mais aborrecidos, libertando os trabalhadores para funções mais criativas, e que há cada vez mais empresas a “neutralizarem a tinturaria, processo altamente poluente, usando bactérias em vez dos petroquímicos e a usarem fibras naturais”. “O algodão exige muita água e o poliéster deriva de petroquímicos”, acrescentou.
A crescente aposta na energia fotovoltaica também é um dos fatores destacados pelo vereador, que perspetiva uma retoma do setor por dois caminhos, uma mais aprazível do que outra. “A indústria têxtil tem resistido e vai voltar a resistir: entregue a si própria ou com a ajuda de quem tem responsabilidades políticas. Se for a primeira, vamos perder muitas empresas. Se for a segunda, vamos arrepiar caminho e ter um setor robusto para a fábrica do futuro”, projetou.
“Intervenção contraditória”, considera Domingos Bragança
Domingos Bragança classificou a intervenção do vereador da oposição de contraditória, tendo realçado que a indústria têxtil se projetou em Guimarães e no Vale do Ave pela “capacidade de ser competitiva perante a concorrência exterior”, algo que deve continuar a fazer. E para o conseguir, deve “integrar o topo da tecnologia e do conhecimento”.
“O setor têxtil é como outro qualquer a nível mundial. (…) Tem de deixar de ter mão de obra intensiva para passar a ter conhecimento intensivo: novos materiais, economia circular, automação e robótica, inteligência artificial e, antes, transformação digital. Sem transformação digital, não há inteligência artificial”, frisou.
O autarca vincou ainda que a Câmara Municipal e as empresas do território têm já investido na transformação de resíduos em matéria-prima, de que é exemplo a subscrição do compromisso Zero Waste – Lixo Zero, em português -, e nas energias renováveis. “Temos a parte elétrica, mas podemos evoluir para o hidrogénio. Se fizer os investimentos certos para as energias, nomeadamente a eólica e a solar, Portugal tem vantagem competitiva em relação à Europa. Temos um clima adequado, com grande exposição solar”, disse.