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Há sempre margem para melhorar. Até quando se ganha tudo o que há a ganhar

Tiago Mendes Dias
Sociedade \ sábado, dezembro 16, 2023
© Direitos reservados
A Associação Vimaranense Super Cães venceu todas as competições nacionais de obediência em 2023, mesmo com percalços pelo meio. Já se projeta 2024 enquanto se espera a melhoria das instalações.

Bem iluminado em plena noite, o recinto está pronto para mais um treino; não de futebol, como no passado, quando o Clube Desportivo de Abação ali jogava, mas de obediência canina. A relva está pronta a ser galgada, mas os protagonistas de quatro patas também sabem quando devem parar, sentar ou deitar. Ao lado dos companheiros de todas as competições, eles alinham-se cuidadosamente para uma foto de equipa numa temporada memorável.

Em 2023, a Associação Vimaranense Super Cães ganhou praticamente tudo o que havia para ganhar nas competições organizadas pelo Clube Português de Canicultura (CPC); no campeonato nacional de obediência, venceu a Classe 1, a Classe 2 e a Classe 3, a mais exigente em termos competitivos, além de conquistar o segundo lugar na Classe 1 e na Classe 2; na Taça de Portugal, disputada em 24 e 25 de novembro, em Ponte de Lima, as duplas do clube vimaranense repetiram a dose – na modalidade, o par formado por uma pessoa e por um cão designa-se binómio.

O binómio Alexandra Dias e Xena venceu a Classe 1, enquanto Paulo Alves e Zoi – Smart as a Whip Double Trouble triunfaram na Classe 2. Na Classe 3, Marco Silva e Mind the Dog Mignolo somou 260,5 pontos na sua prova e levou a melhor sobre Louise Bartolomeu e Berkana Maet, numa prova com apenas dois binómios, os únicos à altura daquela categoria, com requisitos equivalentes aos dos mundiais.

Melhor clube nacional em 2023, a Associação Vimaranense Super Cães falhou apenas o objetivo de ser considerada a melhor escola, distinção que depende somente do número de Certificados de Obediência Básica alcançados por cada entidade. "Todos os anos temos o objetivo de ganhar tudo. Neste ano, ganhámos todos os troféus em competição, menos um. No de melhor escola, ficámos em segundo lugar entre 14 escolas. Quem ganhou foi uma escola de Braga, a Dogland/A.F.E.T.O. Mas já ganhámos esse prémio em anos anteriores”, resume Marco Silva, atleta e treinador de uma associação fundada em 2010. É também o líder de uma equipa com sete binómios, cinco a treinar em Guimarães e dois em Lisboa. As noites de segunda, quarta e sexta-feira são tempo para treinos em grupo naquele recinto bem a sul do concelho de Guimarães.

Campeão nacional ao lado do border collie Mind the Dog Mignolo, o vimaranense já garantiu a presença no próximo campeonato do mundo, a decorrer na Letónia entre 25 e 28 de julho; a confirmar-se, não será uma participação inédita, uma vez se estreou em 2021, na Suíça. E espera ter a seu lado Paulo Alves e Zoi – Smart as a Whip Double Trouble, protagonistas de um 2023 que se iniciou na Classe 1 e que acabou na Classe 3; além de vencer a Taça de Portugal, o binómio foi também o campeão nacional da categoria, sucesso que o atleta explica com a qualidade do seu border collie e com a dedicação à modalidade.

Numa semana, treina três vezes de manhã e três à noite. "Se não treinares, não consegues nada. Temos de seguir uma rotina de treino", realça. Os exercícios, esses, variam, consoante queria melhorar a concentração, a velocidade ou a resistência do canídeo. "Os treinos dependem das necessidades de cada momento”, acrescenta.

 

Marco Silva e o border collie Mind the Dog Mignolo © Pedro Castro Esteves/JdG

Marco Silva e o border collie Mind the Dog Mignolo © Pedro Castro Esteves/JdG

 

Paciência a treinar, agilidade a competir

Pronto a focar-se na Classe 3 para a próxima época e a acompanhar Marco na viagem à Letónia, Paulo Alves está ligado à obediência há cinco anos, quando adotou um rafeiro num contacto com a Sociedade Protetora dos Animais de Guimarães e se inscreveu na Super Cães. “Fiz um muito bom trabalho com aquele cão, um rafeirinho. Consegui o COB, a Classe 1, a Classe 2 com esse cão. Entretanto, quero competir no mundial com o Zoi. Com um rafeiro, não conseguiria”, explica.

Em setembro de 2019, foi a vez de Florinda Lobo se inscrever na Associação Vimaranense Super Cães e iniciar a relação com a obediência canina. “Comecei com um Labrador que tinha oferecido ao meu filho”, recorda. Mais do que competir, queria um cão bem comportado para a acompanhar no dia a dia, ainda para mais depois de um acidente de viação lhe ter causado uma lesão no braço. “O cão puxava-me à trela. Como não conseguia andar com ele na rua, procurei a escola para ensinar o cão e fazer aquilo que achamos bonito na rua: ir a uma esplanada de café e mandá-lo sentar, ficar, andar à trela sem puxar. Esse era o meu objetivo”, esclarece.

Mas os treinos de gente mais avançada e a participação, como espetadora, na Taça de Portugal de Barcelos, em novembro de 2019, fizeram-na ir mais longe. Passou a treinar com Mind the Dog Universe, outra border collie, a larga maioria dos cães que participam nesta modalidade canina. “São cães mais rápidos, que aprendem mais rapidamente e têm agilidade. São mais procurados para este desporto”, descreve.

Quando 2023 caminha a passos largos para o seu fim, a vimaranense faz a retrospetiva de uma época com um segundo lugar no campeonato nacional e um terceiro na Taça de Portugal de Classe 2, mas que não correu de feição. “Não correu como eu esperava, dentro do que idealizava. Tive uma lesão pelo meio, minha, não da minha cadela. A minha cadela também é muito sensível. Não é propriamente fácil de trabalhar com ela em pista”, admite.

 

Paulo Alves e Zoi - Smart as a whip Double Trouble na Taça de Portugal em Ponte de Lima © CPC

Paulo Alves e Zoi - Smart as a whip Double Trouble na Taça de Portugal em Ponte de Lima © CPC

 

Alcançar objetivos também é falhar e voltar a tentar

O ano prestes a terminar reservou a Beatriz Aarão e a Foxy Pink um terceiro lugar no campeonato nacional e um segundo lugar na Taça de Portugal de Classe 1. Os resultados premiaram um caminho de mais de cinco anos, traçado desde o momento em que queria educar o seu primeiro cão, Floyd. “Nem sabia que existia competição. Só queria que o meu cão se soubesse portar direito. Ele era muito agressivo. Entretanto comprei uma cadela e, aos dois meses, já estava na escola”, recorda.

Ao contrário dos colegas de equipa nas categorias acima, Beatriz progride na obediência canina ao lado de uma cadela branca como a neve – Pastor-Branco-Suíço -, em teoria pouco apropriada para os desafios de agir ou de se sentar quando o seu parceiro assim manda. “Treina desde pequenina, mas a cadela em si não é muito dada ao trabalho. Graças ao trabalho que temos vindo a fazer, temos conseguido, mais cedo ou mais tarde, atingir os objetivos”, esclarece, assumindo o objetivo de alcançar o nível Excelente na Classe 2 ao longo de 2024.

Ao lado, Rita Novais revisita um ano no qual alcançou o Certificado de Obediência Básica, com Narja (Pastor Belga), embora somente no verão, à terceira tentativa; essa habilitação é necessária para competir na Classe 1. “Não foi uma má época, mas tencionava ter feito o COB mais cedo. Se o tivesse feito mais cedo, poderia já ter ido a uma ou outra prova da Classe 1”, admite.

Sem experiência prévia em obediência canina, Rita vinculou-se à Associação Vimaranense Super Cães há ano e meio e agradece a inteligência da cadela ao seu lado, apesar de o seu controlo ser difícil, algo que descreve como normal, tendo em conta a raça. "Tenho a sorte de ter uma cadela que me facilita muito o trabalho, apesar de eu ter pouca experiência. É uma cadela muito inteligente, com uma facilidade enorme de aprender. Temos uma boa relação que facilita a vontade dela trabalhar. Já tinha tido cães, mas não com esta personalidade tão vincada”, descreve.

 

Cobertura para campo de treinos é necessidade

Presente nas várias conquistas da Associação Vimaranense Super Cães, Marco Silva realça também que a alimentação dos canídeos é chave para o sucesso nas competições. “Eles comem uma ou duas vezes por dia, às mesmas horas. A alimentação não tem corantes, nem conservantes, e todos os ingredientes da ração são de consumo humano. A qualidade da alimentação faz diferença nas lesões que podem vir a ter ou não”, especifica.

Ciente de que é preciso financiamento para o mundial, o treinador canino assume que a principal lacuna do clube não é a possível dificuldade em obter apoios para a viagem à Letónia, mas a falta de cobertura num dos campos de treino em Abação.

“Estamos a trabalhar para criar uma parte coberta no último campo de treino que temos. É uma lacuna. Quando chove, as pessoas não se querem molhar. A nível de estruturas, é isso que mais queremos. Depois, queremos concentrar-nos no mundial e fazer a nossa época, cada um com os seus objetivos”, disse, projetando 2024.

Além do recinto em Abação, a Associação Vimaranense Super Cães dispõe ainda do espaço onde nasceu, em São Cristóvão de Selho, agora utilizado para atividades esporádicas. Financiada sobretudo pelas aulas de obediência, cuja época alta é o verão – aos domingos de manhã, reúnem-se, por vezes, meia centena de binómios -, a associação vai encerrar 2023 com um desfile de Natal marcado para as 15h30 de 23 de dezembro, com concentração no Toural.

O calendário do próximo ano está, em parte, definido, com realce para o seminário da norueguesa Anne Lise Ytreberg, medalha de bronze no campeonato do mundo de obediência de 2022. A iniciativa prolonga-se pelo fim de semana de 13 e 14 de janeiro, nas instalações de Abação.

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