Há plantas no museu. Catarina Braga explora a nossa relação com a natureza
Em 2019, numa exposição em Shenzhen, China, a vimaranense Catarina Braga apresentava uma peça intitulada duplicates: lado a lado, uma planta de bambu natural e outra de plástico. Foi um exercício de “camuflagem”. “As pessoas não se interessavam em fazer uma aproximação e perceber que plantas é que lá estavam – diziam que ambas eram falsas ou naturais”. Foi a primeira exposição a solo da artista (The World is not the World,2019). Estavam ali decalcados os principais temas do trabalho vindouro que expõe o seu trabalho a nível internacional desde 2015: a complexa relação do Homem com a natureza, a produção de novos ecossistemas artificiais, a artificialização do lugar natural.
São estas marcas que estão patentes também na exposição inaugurada a 21 de janeiro no Museu de Alberto Sampaio. No âmbito do terceiro momento do Guimarães Project Room, Afetos Produzidos – Produção Afetada traz viveiros de plantas para o claustro e projeção de vídeo, som e luzes a duas salas do museu de arte sacra vimaranense.
“Por se tratar de uma cultura diferente e de existirem tradições diferentes com as plantas, surgiu [com a experiência na China] de forma mais evidente a necessidade de explorar a relação entre ser humano, natureza”, e, por extensão, com as plantas, acrescenta. E quem calcorrear o espaço da instalação vai reparar que há, no espaço que alberga o espólio artístico da extinta Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira, quase que um transporte das peças de arte do museu para um ambiente sonoro de floresta tropical.
A “sensação de natureza”
A “venda” de imagens da natureza que proporciona sensação de natureza – a multinacional IKEA faz uso da expressão para vender plantas artificiais, pontua a artista – também se tornou mais premente com a pandemia. "As pessoas procuram plantas não só para decorar os espaços, mas também como criadores de rotina, não estamos rodeados de coisas estáticas, temos plantas que precisam de atenção e que nos ajudam também a fazer essa ligação com o mundo exterior e o que existe lá fora", refere.
Catarina Braga usa nesta instalação vários meios: instalação, vídeo, fotografia, texto, publicação. Este trazer do natural para o edificado foi também mediado por ecrãs. Como? Catarina explica: “Fiz quase tudo a partir de casa: gravações do Google Earth, fotografias. Parte integrante do trabalho tem que ver com essa mediação digital do conhecimento e como ficamos a conhecer coisas que estão longe e que se aproximam”.
Uma viagem ao arquipélago
Recentemente foi selecionada para a Bolsa de Criação Artística, promovida pela Câmara Municipal do Funchal. E não vai sozinha. Fundou, juntamente com o vimaranense Miguel Ângelo Marques, o Coletivo PALMA – que junta interesses comuns de ambos os artistas em redor da vida vegetal e explora a envolvência de certas espécies de plantas no espaço urbano.
O projeto no Arquipélago da Madeira arranca em fevereiro. Um projeto ligado à comunidade local que pensa os espaços naturais da ilha, o Ciclo Exploratório: Ser Planta. É um convite “a pensar o lugar dos espaços naturais". A residência artística vai explorar locais como a Floresta Laurissilva, Jardim Botânico e Hortas Municipais.