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Guimarães não é a cidade do "Truman Show". Mas quando Carol a viu, parecia

Pedro C. Esteves
Diversidade & Inclusão \ quarta-feira, fevereiro 01, 2023
© Direitos reservados
A produtora cultural Carol Bampa. Lutou contra a especulação imobiliária e preservação de recursos em Vinhedo, São Paulo. Por cá, dinamizou a Feira Paisagem, onde artistas locais se mostraram no CAAA

Guimarães não é Seahaven, a cidade ficcional do filme Truman Show em que Jim Carrey está preso numa vida idílica, mas quando Carol Bampa cá chegou era assim que se parecia. Impressionou-se com a “beleza”, as ruas “limpas” e “com a forma como as pessoas são tranquilas e com harmonia da rotina”. “Conforme fui ficando mais tempo fui percebendo que não é uma cidade perfeita, mas se compararmos com outros lugares em que vivi, está mesmo acima da média”, indica a paulista.

A produtora cultural chegou em setembro de 2019, durante o mandato de Jair Bolsonaro, “com tensões sociais muito radicalizadas”, e os estilhaços da pandemia dificultaram a adaptação. Passou primeiro pelo Porto, apreciou a "cenografia maravilhosa" da Invicta, mas interiorizou também aspetos mais crus "da realidade social, de contrastes e dificuldades."

Para a produtora cultural, o mais difícil quando chegou ao Minho foi o processo de integração profissional. Foi moroso, mas encontrou no CAAA – Centro para os Assuntos da Arte e Arquitetura um porto seguro. Foi lá, na antiga fábrica têxtil tornada centro cultural, que aconteceu a Feira Paisagem. E o que é? Uma espécie de feira de exposição, trocas e vendas de produções gráficas e edições independentes.

“A Paisagem é o meu cartão de visita. Existe desde 2016, lá no Brasil. As últimas que fiz lá foram grandes, tiveram inscrição nacional com uma programação muito rica. Ter conseguido realizar aqui foi, para mim, muito importante. A pandemia atrapalhou muito e tive de construir tijolo por tijolo”, recorda. "Certamente", continua Carol, que a Paisagem vai acontecer este ano, também: "A gente arranja recursos e faz acontecer. Quero que aconteça".

A feira de exposições já acontecia em Vinhedo, cidade paulista de onde é natural. O trabalho comunitário de Carol está intrinsecamente ligado à sua decisão de partir. Esta pequena localidade "é muito cobiçada", contextualiza. "Tem uma riqueza natural importantíssima, uma bacia hidrográfica muito importante", e tem sido alvo de especulação imobiliária. "Já foi muito degradada, prefeitos já foram presos. É uma luta antiga, uma bandeira minha". Envolvida na luta ambiental desde cedo, chegou a receber ameaças. 

"Isso foi um fator importante para eu decidir vir para cá. Todo o mundo vem para Portugal a pensar na segurança, tranquilidade e qualidade de vida. O contexto em que estava no Brasil foi muito significativo para tomar a decisão e vir", resume.

 

Um "match perfeito"

Carol tem trabalhado de perto com Manu e Hannah: foi o “match perfeito” – “três mulheres brasileiras que adoram cultura, que já vinham construindo projetos”. Uma das principais dificuldades tem sido fazer amizades “para além da comunidade brasileira”. “Acho que as pessoas aqui são muito reservadas. Há sempre uma barreira. Eu sou muito tímida, mas culturalmente faz muita diferença o facto de eu ser brasileira”.

Porquê? Carol explica: “Somos mais expansivos, falamos de diversas coisas e, às vezes, assusta as pessoas, mas é uma questão cultural que não resvala no preconceito. é mesmo forma de ser, as pessoas são mais reservadas e faz com que pensemos duas vezes antes de conversar”.

Este trabalho integra a série "Guimarães, cidade bacana". O trabalho completo pode ser lido no jornal em papel de janeiro e os depoimentos estão nesta ligação.

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