Com ou sem chuva, Guimarães Jazz “mais exigente” continua a atrair público
A parceria entre o Guimarães Jazz e a associação Porta-Jazz é selo de contemporaneidade e de aventura por novas possibilidades de um género que é referência da música popular desde o século XX. Como é hábito, a parceria encerrou a primeira semana do festival vimaranense, neste ano com o projeto Soma, que inclui o saxofonista José Soares, o pianista José Diogo Martins, o contrabaixista Omar Govreen e o baterista João Lopes Pereira, na black box do Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG) perante uma centena de espetadores.
Em pouco mais de uma hora, esses intérpretes alternaram os timbres mais reconhecidos do jazz, no saxofone ou no piano – as notas azuis, ligeiramente desfasadas das notas padrão -, com registos mais alternativos; as notas do saxofone de Soares saíam arranhadas e o piano de José Diogo Martins expressava-se, por vezes, distorcido, havendo ainda tempo para o teclado. Na bateria, João Lopes Pereira limitou-se, numa das peças, a arrastar as baquetas sobre o tambor, com um ruído muito leve, e Omar Govreen alternou imensos períodos de notas espaçadas no tempo, minimalistas, com um par de solos. A instalação visual da artista argentina Várvara Tazelaar, que encerrava com um corpo de um homem em queda livre pelo espaço, completou a performance.
Explorar caminhos que vão além das grandes correntes do século XX deve ser um dos princípios de um Guimarães Jazz que se encontra na sua 32.ª edição, realça o diretor artístico, Ivo Martins. “Neste ano endurecemos em relação ao ano anterior. Este festival é mais exigente a vários níveis. Por vezes, é preciso alterar, porque temos de ter coisas mais difíceis, um jazz mais exigente, com mais critério. Não quer dizer que seja melhor, mas o festival do ano passado era mais fácil de apreender”, compara, em declarações ao Jornal de Guimarães.
A primeira semana do Guimarães Jazz teve sete concertos: depois da abertura com a Vanguard Jazz Orchestra, uma das big bands mais influentes da segunda metade do século XX, que fez da noite de quinta-feira uma celebração num Centro Cultural Vila Flor (CCVF) quase repleto, subiram também ao palco do Grande Auditório Francisca Abreu o Aaron Parks Quartet, na sexta-feira, perante mais de 600 espetadores, e o Michael Formanek Septet “New Digs” no sábado à noite e a Orquestra de Jazz da ESMAE no domingo à tarde.
No sábado à tarde, o Pequeno Auditório do CCVF recebeu o Pedro Molina Quartet, ao abrigo da parceria com o Centro de Estudos de Jazz da Universidade de Aveiro, e um trio representativo do jazz contemporâneo europeu, com a violinista Maya Homburger, o pianista Agustí Fernández e o contrabaixista Barry Guy.
Para Ivo Martins, as propostas até agora apresentadas compõem um programa com “várias opções estéticas, várias formas e categorias”, que refletem um “jazz variado e por vezes agressivo”, mas também concorrido, à semelhança dos anos anteriores. “As pessoas gostam do festival e aparecem, com chuva e sem chuva, com mais ou menos dificuldades. A presença das pessoas valida o que estamos a fazer e as nossas ideias. O festival já tem um elã e uma dinâmica que fazem com que flua naturalmente”, descreve o responsável.
Concerto de fecho a caminho de esgotar. Oficinas e jams com Landline Plus One
Os concertos regressam na quinta-feira ao Vila Flor, palco exclusivo da segunda semana do Guimarães Jazz, depois de uma primeira que envolveu também o CIAJG e o Convívio, casa das jam sessions. O espetáculo de encerramento, a cargo da Kathrine Windfeld Big Band, formação liderada pela compositora e pianista dinamarquesa que espelha a abertura, mas com feições contemporâneas e europeias, realiza-se no sábado a partir das 21h30 e está a caminho de esgotar; a meio da manhã de terça-feira, estavam vendidos 625 dos 796 bilhetes disponíveis. Na sexta-feira à noite, adivinha-se igualmente um espetáculo bem composto, com Buster Williams & Something More, formação que tem como protagonista o contrabaixista ligado à idade de ouro do jazz – são 500 os bilhetes vendidos até agora.
Os espetáculos desses “nomes mais consensuais”, frisa Ivo Martins, articulam-se com as experiências do baterista Mário Costa com a Orquestra de Guimarães, num espetáculo marcado para quinta-feira à noite que promete aventurar-se pela linguagem eletrónica, e com o projeto Sonoscopia, que propõe, para o sábado à tarde, uma performance de Elliot Sharp, na qual o jazz se cruza com outras expressões artísticas.
Nesse mesmo último dia, às 18h00, a formação residente do Guimarães Jazz atua no Pequeno Auditório: os Landline Plus One sobem ao palco para um concerto, além de protagonizarem as jam sessions – nesta semana, serão no café-concerto do CCVF – e as oficinas de jazz para músicos em formação, que se realizam até sexta-feira, entre as 14h30 e as 17h30.