
Francisco Brito partilha conhecimento sobre o livro antigo na UMinho
A disciplina Ciclo da História Cultural da Universidade do Minho realizou, na quinta-feira, dia 11 de abril, a sessão aberta "À volta do livro antigo". Para debater os conceitos em torno do livro antigo - como alfarrabistas, livreiros, editores e bibliófilos - esteve presente Francisco Brito, antigo aluno da universidade e atual proprietário da livraria Cólofon, situada em Guimarães.
Francisco Brito começou por explicar a origem dos primeiros livros, que levaram à criação das primeiras bibliotecas. "A origem da escrita terá começado em pequenas tábuas usadas há cinco mil anos, essencialmente para registar contratos, contas e esse tipo de operações. Com base nesses registos, terão nascido as primeiras bibliotecas (a primeira foi a de Alexandria, no Egito) e, com elas, surgiu a necessidade de elaborar listas, inventários, para não dizer catálogos de bibliotecas", introduziu o alfarrabista, que acolhe livros antigos e até bibliotecas inteiras na Cólofon.
O especialista explicou ainda que o códice, que hoje vulgarmente chamamos de livro, surgiu entre os séculos I e II d.C., sendo ainda utilizado pela sua praticidade e capacidade de concentração de memória, o que o leva a ser comparado à invenção da roda.
O interesse pelo livro antigo, as primeiras formas de censura e o surgimento dos alfarrabistas
A história é marcada por ciclos de destruição, recuperação do conhecimento e pelas suas múltiplas versões. A vontade de a moldar, levou ao surgimento das primeiras formas de censura. "Como havia uma grande circulação de livros e muitos deles continham doutrinas que não agradavam à Igreja, em 1515 surgiu pela primeira vez a necessidade de uma instituição de censura prévia", explicou Francisco Brito, que passou entre os participantes um livro de 1500, do escritor cristão Tertuliano, censurado em várias partes.
A biblioteca acabou por se tornar um ponto de preservação desses registos de conhecimento. Já " a proliferação das universidades pela Europa levou ao aumento da procura pelo conhecimento antigo - textos, esculturas, artefactos, entre outros", revelou Francisco. "Começaram a surgir também as pessoas responsáveis por encontrar esses manuscritos. A mais célebre foi Poggio Bracciolini, que redescobriu o livro "De Rerum Natura", de Lucrécio, obra que muitos defendem ter sido responsável pela criação do mundo moderno", acrescentou.
A profissão de livreiro começou a ganhar uma crescente relevância, sobretudo entre colecionadores e académicos, culminando no surgimento da profissão de alfarrabista, o especialista em livros antigos. A partir dos séculos XVI e XVII consolidaram-se os modelos de comércio de livros antigos, e nos séculos XVII e XVIII surgiram os primeiros catálogos de "livros raros", frequentemente impressos pelos alfarrabistas.
"Os alfarrabistas e colecionadores de livros existem desde a época clássica, mas o perfil mais próximo ao do profissional moderno, que pouco se alterou, aparece nos séculos XVII e XVIII, época em que surgem os termos "bibliófilo" e "bibliómano" para classificar os amantes de livros", explicou Francisco Brito.
Livros antigos, alfarrabistas e livrarias no panorama cultural português
Os livros, os alfarrabistas e os comerciantes de livros antigos estiveram sempre muito presentes no panorama cultural português. "Ao longo dos séculos, formaram-se grandes livrarias em Portugal, como a livraria da Sociedade Martins Sarmento, de Samodães, Coimbra e Mafra", revelou o especialista.
Francisco Brito partilhou ainda uma curiosidade sobre Camilo Castelo Branco que foi "o primeiro escritor a viver exclusivamente da escrita", sendo também um "comerciante de livros que organizou um ou dois catálogos de livros para leilões".
No final da sessão, o alfarrabista explicou como funciona o processo de procura de obras valiosas: "Às vezes é necessário comprar uma biblioteca inteira para encontrar um grande livro. Daí a venda de livros antigos a preços baixos em feiras de antiguidades", revelou Francisco, que, em 2024, descobriu o livro "Un discurso del chocolate", o primeiro do mundo dedicado ao chocolate e às suas propriedades. A obra conta apenas com três cópias e foi vendida em leilão por 44 mil euros.
Obras recomendados por Francisco Brito:
- “O Infinito Num Junco” de Irene Vallejo;
- “The invention of rare book” de David Mackitterick;
- “A gentle madness” de Nicholas;
- “Quelques femmes bibliophiles” de Jean Gay;
- “O Bibliófilo aprendiz” de Rubens Moraes.