Fábrica devoluta em Campelos vai tornar-se numa escola de joalharia
Uma fábrica devoluta em Campelos vai dar lugar a um centro de formação na área da joalharia com capacidade para albergar perto de um milhar de alunos em contexto de formação profissional, numa “perspetiva ambiciosa”. Trata-se de um projeto na ordem dos dois milhões de euros, totalmente financiado pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) e trabalhado pela Associação de Ourivesaria e Relojoaria de Portugal (AORP), que tem pela primeira vez na sua história uma empresa vimaranense na presidência: a Farilu. Lda, e, por inerência, João Faria como presidente.
A escola será implementada conjuntamente com o Centro de Formação Profissional da Indústria de Ourivesaria e Relojoaria (CINDOR), na qual será ministrado o curso de Técnico de Ourivesaria, num espelho do que já acontece em Gondomar, onde existe um CINDOR. Este centro de formação, cujo projeto está a ser desenvolvido conjuntamente com o município, já está aprovado pelo IEFP e as obras devem avançar em breve no terreno, assim como a apresentação formal. Trata-se de um projeto que responde à carência de recursos humanos numa área na qual Guimarães se destaca. “Não temos técnicos de ourivesaria ou cravadores, por exemplo, inscritos no Centro de Emprego em todo o país”, dá nota João Faria.
“Guimarães é um concelho com uma história grande naquilo que são as joias” sustenta o presidente da AORP, destacando que 75% do fabrico de joias em Portugal concentra-se em Guimarães, igualmente o município com as “empresas que mais exportam” - 75% das exportações do país nesta área diz respeito a empresas vimaranenses. Fatores que sustentam a abertura deste cento de formação, que “pela sua localização vai servir o cluster de Guimarães, mas também o território centrado nesta região, como a Póvoa de Lanhoso, também forte nesta área, Braga e Famalicão”.
“Formação abrange todas as áreas do setor”
O Centro de Formação Profissional da Indústria de Ourivesaria e Relojoaria de Guimarães tem abertura prevista para 2026, dentro de três anos, tratando-se de “uma obra de raiz” em que “apenas se vão aproveitar as fachadas do edifício”, e no interior contemplará salas práticas, equipamentos de fundição, lasers, gabinetes de design e estúdios de fotografia, entre outros. Isto porque o curso “abrange todas as áreas do setor”, como gravação, cinzelagem, fundição ourives, fotografia ou mesmo design.
Com um leque de empresas com dezenas de trabalhadores e tecnologia de ponta, Guimarães tem vindo a destacar-se no cunho industrial, enquanto, no resto do país, ainda prevalecem empresas familiares. Este facto leva também à necessidade de se formarem mais recursos humanos nesta área. “O CINDOR promove formação jovem – com equivalência à escolaridade – e também para adultos – desempregados de longa duração. O que se pretende é criar uma forte articulação entre formação, estágio e empresas. Se não formarmos não vamos ter pessoas para trabalhar nesta área, e o objetivo é esse: formar para criar mais empregos”, refere João Faria, gerente da empresa Farilu, que produz sensivelmente 15 mil peças de joalharia por ano, com um volume de negócios na ordem dos dois milhões de euros.
A Câmara Municipal de Guimarães tem sido um parceiro “fantástico” no traçar da iniciativa, cedendo desde logo o espaço, uma fábrica devoluta na zona industrial de Campelos, e mostrando o “interesse em ter esta valência”, quer pela vertente da formação, “de poder ter cá estes alunos”, quer também pela vertente económica. Em sinergia com os operadores desta zona, não só de Guimarães, a ambição passa por iniciar ainda este ano workshops do setor - gravação, por exemplo -, tendo já sido apalavrado com o município a cedência de um espaço no Teatro Jordão – Garagem Avenida para esse efeito.
“É um projeto ainda mais ambicioso, mas queremos ter neste espaço uma contrastaria”
Pretensão antiga das empresas de joalharia vimaranense, a implementação deste centro de formação em Guimarães é vista como um novo fôlego para que se reclame a criação de uma contrastaria em Guimarães, uma valência da Imprensa Nacional Casa da Moeda (INCM) que apenas funciona em Lisboa e no Porto, com uma delegação em Gondomar. “Não diria que é uma injustiça, mas é uma situação que se pode ajustar para servir melhor o setor por forma a que se possa concorrer de forma igual com operadores de Lisboa, Porto ou Gondomar”, acredita João Faria. A contrastaria assegura o ensaio e a marcação dos artigos com metais preciosos, bem como a aposição da marca de garantia do toque legal.
Trata-se de uma discussão “com imensos anos”; já chegou a haver um ponto de contrastaria em Guimarães que foi extinto. Há precisamente três anos, Ricardo Costa, então vereador, garantiu que iria abrir um espaço de marcação em Guimarães, algo que ainda não se verifica. “Houve um volte-face nessa altura, com a mudança de direção da INCM”, diz o presidente da AORP, acrescentando que “é um projeto ainda mais ambicioso, mas queremos ter neste espaço uma contrastaria”. “Ainda que não seja uma contrastaria na sua totalidade, possa ser um ponto de recolha, queremos ter cá uma contrastaria: está falado com a Casa da Moeda, eles não querem, mas nós queremos. É uma grande luta, mas temos de lutar com toda a força”, pontua João Faria, que crê que é de interesse da contrastaria – único setor da INCM que dá prejuízo – ter mais mercado e marcar mais.
“A nossa ideia é ter um espaço físico com todas as condições para o poder apresentar à INCM; estamos convictos de que nos vão ajudar”, afirma, até porque estaria num “local estratégico” para servir uma região com um volume de produção assinalável, juntamente com os operadores da Póvoa de Lanhoso, Braga e Famalicão. “O cluster de Guimarães tem vindo a trabalhar para marcas de grande porte, como o mercado francês, americano, italiano, suíço e belga. Fazem este serviço no país de destino e seria importante para nós fazer cá. Estaríamos a assumir essa quota de mercado”, sustenta.